domingo, junho 05, 2011

THEOSIS: A DEIFICAÇÃO DA HUMANIDADE (PARTE 2)

1. O CONFRONTO DA TEOLOGIA PETRINA COM OS PRESSUPOSTOS FILOSÓFICOS CONTEMPORÂNEOS

O conteúdo teológico referente a uma divinização da natureza humana encontra suas bases na filosofia grega, conforme podemos detectar nos escritos contemporâneos ao escritor de II Pedro. Ao analisar de forma introdutória este ponto da teologia de II Pedro, Michel Green escreve: “Co-Participantes da Natureza Divina”, certamente parece surpreendente, mas a forma da expressão já tem um paralelo no decreto de estratonicéia em honra a Zeus e Hecate (Deissman Bible Studies, pp. 360 ss, apud, ” (GREEN, 1983, p.23.) e ainda: “Além disso, contemporâneos tais com Filo Estobeu e Josefo empregam linguagem semelhante

De acordo com o autor a expressão contida na teologia de II Pedro pode ser inusitada dentro dos escritos do Novo Testamento, mais parece estar dentro da compreensão e expectativa do homem do I século, e carrega consigo uma gama expressiva da esperança dos contemporâneos do apostolo, da leitura da literatura extra bíblica se verifica que este tipo de linguagem era moeda corrente no século I e Pe­dro podia ter usado para seu propósito” .

A abordagem petrina referente a participação do cristão na natureza divina, reflete a meta do apóstolo de produzir um texto apologético contra as idéias emergentes no meio da comunidade de fé, entre estas idéias se destaca o Gnosticismo, mas não se pode negar também que as idéias filosóficas oriundas das escolas tradicionais tenham sido motivo das preocupações do escritor. É possível que as posições teológicas presentes na II carta de Pedro reflitam a necessidade de apresentar uma abordagem apologética cristã para questões das quais se ocupavam gnósticos e filósofos contemporâneos. Green concorda com este ponto de vista ao afirmar:

A abordagem Petrina de Co-Participantes da natureza divina é: “Um ataque, frontal contra as pressuposições estóicas e platô­nicas, que ensinavam, respectivamente, que pela Phusis (nature­za) ou pelo nomos (lei), o homem ficava sendo participante do Divino (...) diz o nosso autor; é pela graça, pelas promessas do evangelho, que isto é realizado”. GREEN,1983, p.23.)

Fica evidente que o a abordagem do tema tem claramente um caráter apologético analisa do ponto de vista da fé cristã a forma como o processo de Divinização ocorria, sem, no entanto formular uma negação da possibilidade real da ocorrência do processo divinatório.

Para Kasemann este texto reflete a influência do pensamento Helenístico sobre a teologia do autor não representando, no entanto uma posição teológica corren­te no pensamento cristão, a doutrina acerca da presença humana na Divindade. Ele argumenta da seguinte forma: “Seria difícil achar no Novo Testamento uma frase (...) que mais claramente marca o relapso do Cristianismo para o dualismo Helenístico” (Essays On New Testament Themes, ps. 179-180, apud GREEN, 1983, p.24).

A posição de Kasemann aponta para uma espécie de “Interpolação Teo1ógica”, deste ponto de vista na Teologia de II Pedro, uma vez que, a Divinização da Humanidade é algo possível no pensamento Hele­nístico, porém não afirmado na Teologia Neotestamentária; assim Pedro estaria influenciado por outras doutrinas, esta possibilidade parece pouco provável, se considerarmos que o prop6sito da carta é exatamente combater tais influências no seio da Igreja. Para Green: “Kasemann supõe que o alvo de II Pedro é aquele dos pagãos, ou seja: Escapar do mundo físico (e corruptível) para ganhar uma natureza espiritual (e divina) (...). Deixa de reconhecer que esta participação na natureza Divina não é o alvo. “Mas sim o ponto de partida da experiência Cristã: e o mundo do crente escapa não é o universo físico, mas, sim, o mundo no sentido Joanino do homem em desarmonia com o seu criador”. (GREEN, Op. Cit. p. 24, Nota de Rodapé)

Da leitura de documentos contemporâneos, torna-se possível a­firmar que a doutrina petrina de uma possível participação do ser humano na natureza divina, não é uma abordagem estranha e aponta para uma realidade muito mais consistente do significado da nossa filiação com Deus, sinaliza com uma possibilidade que permeou a esperança do apóstolo Pedro da nossa identificação com Cristo. Muitos termos da nossa teologia poderiam ganhar sentido à luz dessa verdade. O certo é que esta expectativa esteve muito mais presente, muito mais forte na mente do homem do I e II séculos do que possa parecer em princípio.

2. PRESSUPOSTOS TEOLÓGICOS: A HUMANIZAÇÃO DA DIVINDADE.

Uma vez que a humanização da Divindade se manifestou na carne e o filho de Deus se fez participante da natureza humana, a nossa união com ele conduz a um processo de identificação e participação da natureza Divina. O princípio que rege a theosis, é o entendimento de que Deus tornou-se homem para que os homens pudessem se tornar Deus. ‘Deus já foi assim como somos hoje, e é um homem exaltado, e está entronizado nos céus distantes Se o véu fosse levantado hoje, e o grande Deus que sustem este mundo em sua órbita, e segura todos os mundos e todas as coisas através de Seu poder, se mostrasse ao homem, - quero dizer, se você o visse hoje, você o veria como um homem semelhante a você mesmo em toda Sua pessoa, imagem, em verdadeira forma de um homem”. REINOLDS, MILLET, Cristianismo Nos Últimos Dias Dez Questões Básicas (M&R-98) Provo, Utah: FARMS, . P. N/A

Verdade é que a divindade se fez humanidade pela encarnação de Jesus Cristo, aquilo que parecia impossível devido à imanência de Deus e impossibilidade do homem, foi rompido pela vontade de Deus, que num gesto de extrema contradição deixa os privilégios inerentes ao ser Divino, para assumir a humilhante forma humana e conforme o conteúdo central da teologia do Novo Testamento, para nos fazer filhos de Deus, o que é registrado com extrema nitidez pelo evangelista são João “Deu-lhes o poder de se tornarem Filhos de Deus”. João 1:12b O conteúdo desta filiação e a natureza dessa nossa participação na “Família de Deus”, tem merecido argumentos- os mais diversos possíveis. Realidade é que Jesus se fez irmão pela inteira aceitação da humanidade. E conforme expressa o Credo Niceno, Cristo é completa­mente homem e completamente Deus. HAGGLUND, 1986 pp.75-80

A tese fundamental é a seguinte: se Cristo sendo Divino assumiu a natureza humana a união a Cristo do fiel o conduz em uma caminhada em direção a Divinização do “corpo de Cristo”, composto aqui pelos salvos, a pessoa de Cristo atrai os homens; e os capacita com o seu poder a corresponder, e promessas especiais são dadas, a rigor, são concedidas através da glória e virtude de Cristo (...) a nós foi dada a promessa de partilharmos de algo da sua excelência moral nesta vida, e da sua glória na vida futura ( ... ) A agência tríplice das promessas, do poder e da pessoa do Senhor, seguram o homem e os tornam Co-Participan­tes da própria natureza de Deus” GREEN, Op. Cito pp. 60-61 (10)

A garantia para o fiel de participar da natureza Divina, re­pousa na vitória de Cristo, estabelecendo no fiel a presença do Divino no humano, o que conforme a teologia paulina determina a morte do velho homem para que um novo homem (novo ser), passe a existir. O apóstolo se expressa assim:

“Fomos pois sepultados com ele pelo batismo na morte, para que como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida”.( Romanos 6:4 )

O argumento levantado aqui é que morte e res­surreição em Cristo é muito mais que uma experiência subjetiva de ca­ráter teológico representa a transformação da natureza humana pecamino­sa, numa nova natureza; a mesma da qual participa Cristo. Este ponto de vista e reforçado por Green ao abranger temas da teologia ortodoxa normalmente afirmadas em conceitos fechados, sem uma implicação prática, menos abstrata e mais concreta: deve-se concluir que “Co-Participantes da Natureza Divina correspondente em roupagem gregas a “nascer de novo”, “ser o templo do Espírito”, “estar em Cristo”, “ser a habitação da Trinda­de”(GREEN, Op. Cito pg.23). Pode-se afirmar que a humilhação da Divindade atrás de Cristo, abre as portas de acesso a Divinização os fiéis, portanto herdam a natureza Divina ao tornar-se participante de Cristo, que ressurreto dos mortos habita no salvo e estabelece nele as Mar­cas da presença da Divindade, Paulo reflete urna convicção bastante próxima ao afirmar:

“Já estou crucificado com Cristo, e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne Vivo na fé no Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim”. Gálatas 2:20

A Teologia da Divinização da humanidade, segundo o autor de II Pedro estabelece urna dimensão muito mais íntima entre os fiéis e Deus tirando a filiação duma dimensão puramente espiritual e encarnando os valores Divinos, pela presença de Cristo, conduzindo a natureza humana a urna “espiritualização”, pela assimilação da natureza de Cristo em direção a urna completa divinização da humanidade.

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