sexta-feira, outubro 30, 2009

O ANTÍDOTO PARA OS SONHOS FRUSTRADOS

A despeito do triunfalismo romântico enfatizado com estardalhaço em certas áreas dos escritos de auto-ajuda, da necessidade que temos de acreditar no sucesso, devemos refletir com lucidez acerca de um tema não muito agradável: a FRUSTRAÇÃO DOS SONHOS. Todos nós já tivemos, em algum momento da vida, expectativas que não se concretizaram, planos que não foram levados a termo e desejos que jamais saíram do campo das intenções. Todos nós já tivemos em algum momento nossos sonhos frustrados.

O fato de cultivarmos uma fé genuína de que nada de mal vai nos acontecer, não evita que experimentemos frustrações e fracassos pessoais inesperados. Uma das causas das nossas frustrações são as fantasias e idealizações forjadas por nós mesmos, algumas verdades sobre isso podem ser elencadas da seguinte forma:

Os sonhos se frustram toda vez que nos iludimos que na vida tudo ocorrerá como desejamos. Nada mais ingênuo do que achar que basta planejar bem para que tudo aconteça a contento. Sabemos que, as vezes, preparamos tudo, projetamos com cuidado, e basta um detalhe para que tudo vá por água abaixo. Há situações na vida que foge ao nosso controle, e a ansiedade surge exatamente neste ponto: quando descobrimos que as circunstâncias da vida não se encontram sob nosso total comando.

Como diz o poeta, “a vida vem em ondas”, e com elas também, as intempéries e os reveses: A seca mata a plantação, a enchente inunda a casa e leva os móveis e muitas vezes a derruba fazendo vítimas; a fábrica vai à falência e demite os funcionários provocando desemprego; uma doença imprevista se manifesta e com ela muitos sonhos e projetos se frustram.

Como sugere Tiago, não temos garantias de sucesso em nossos projetos pessoais: "Eia agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, lá passaremos um ano, negociaremos e ganharemos. No entanto, não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois um vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece. Em lugar disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. (4.13-16).

Aprendemos assim que os nossos planos e projetos são rigorosamente falíveis. A questão é o que fazemos com as nossas frustrações.

Algumas pessoas se tornam vítimas de suas desilusões e arrasta pela vida afora os erros e os fracassos vividos; se tornam vítimas de refém do seu passado. Muitos vivem recalcados e amargurados, reabrindo feridas antigas que continuam a sangrar. Lembre-se que somos nós quem cultivamos ou não coisas boas ou ruins e que na vida colhemos exatamente o que plantamos.

Encare os fracassos de forma positiva. Ninguém é um derrotado até que se sinta assim. Por maiores que sejam os seus dilemas, eles durarão o tempo que você quiser que durem. O lado bom das coisas ruins é que elas passam, e o lado ruim das coisas boas é que elas também são passageiras. Não existe vitória que dure para sempre e não existe derrota que perdure eternamente.

Cultive um espírito positivo. Sorria, acredite na vida, encare as derrotas de forma pedagógica, cada fracasso tem suas lições, e podemos aprender mais com os erros e com os fracassos do que com as realizações. Lembre-se a derrota de hoje, a frustração de agora pode ser o caminho para uma grande vitória amanhã.

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terça-feira, outubro 27, 2009

A VIDA NOS PALCOS DA EXISTÊNCIA

Vivemos em um mundo marcado pela cultura do simulacro, do teatro, das representações. De certa forma somos todos atores, estamos no palco representando papéis. Somos heróis e vilões, mocinhos e bandidos e às vezes palhaços. Quem somos depende do enredo, do script a ser seguido em cada personagem que encarnamos na vida, a vida não passa de uma grande novela, um filme ou seria um reality show? Quem é você? Quem sou eu? Quem somos nós? Nesse set de filmagem? Se olharmos com sinceridade talvez nem nos reconheçamos diante do espelho. Estamos tão travestidos, tão envolvido pelo personagem que representamos na vida que já nos esquecemos de ser quem realmente somos. De certa forma nos tornamos uma caricatura de nós mesmos.

Ser quem realmente somos, é um desafio que muitos já não se arriscam a enfrentar (e talvez com razão) As pessoas não nos aceitam como somos; preferem que sejamos como elas querem, conforme nos idealizam. Já não há lugar para aqueles que desejam ser autênticos, que se assumem com os todos os seus predicados, defeitos e qualidades. Agir assim é transgredir as sagradas regras do nosso tempo isso é um pecado imperdoável e o resultado pode ser a expulsão do paraíso.

Na novela da vida, ama-se a hipocrisia, a mentira e a fantasia. Preferimos as coisas ensaiadas, as palavras decoradas, os gestos repetidos, tudo como manda o figurino. Se agimos assim recebemos aplausos honras e louvor; caso contrário somos dignos de vaias e de críticas da platéia que julga a nossa atuação.

Eu decidi. Vou representar outro papel, quero ser eu mesmo; afinal, não somos super heróis, vida não é um programa e não passa na televisão.

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domingo, outubro 25, 2009

UMA MENSAGEM PARA VOCÊ NO DIA DE HOJE

Uma coisa já está decidida; você é alguém importante. Aprenda a se amar, sem se tornar egoísta; lembre-se ninguém merece mais o seu amor do que você mesmo. Aprenda a se cuidar sem se tornar narcisista. Afinal, o prazer de se sentir bem, não tem preço.

Você tem um valor, e esse seu valor não pode ser medido monetariamente; você vale pelo que é não pelo que tem. De forma que você pode ter sem ser e também pode ser sem ter, a escolha é sua.

Cuide bem das suas emoções. Não alimente o ódio, o rancor, o desejo de vingança, a tristeza, amargura, a ansiedade e o desgosto. Vencer os sentimentos negativos é uma questão de atitude. Lembre-se ninguém pode fazer você infeliz, a não ser você mesmo.

O dia de ser feliz é hoje. Não espere para amanhã ou para ser feliz na eternidade. A felicidade é um sagrado direito que você tem. Ela não depende de conquistas nem de realizações; lembre-se sempre haverá uma nova conquista a ser alcançada, e a sua felicidade pode ser adiada indefinidamente.

As melhores coisas da vida são aquelas que possuímos. Muita gente se esquece de agradecer pelo que possui, e prefere sofrer pelo que não tem. Se você tem saúde, pode enxergar, consegue andar, ouvir, falar, ler esse texto, tem apetite; você é um afortunado e tem muito para agradecer. Muita gente daria tudo para possuir o que você tem.

Não lamente os erros cometidos, os amores perdidos, os sonhos frustrados, os projetos irrealizados. Não se julgue nem se condene. Seja paciente e se possível, indulgente com você mesmo. Lembre-se que você é um ser humano e nessa condição tem o direito de falhar. Não esqueça que amanhã será um novo dia e novas oportunidades nascerão para todos.

Liberte-se de seus medos. As maiores e piores prisões da vida são interiores. Elas aprisionam a alma, acorrenta os sentimentos, e encarceram os sonhos. O medo de cair nos impede de voar, e o medo errar aborta o desejo de tentar. Libere-se para a vida, arrisque-se um pouco mais, aceite novos desafios. A liberdade é uma questão de espírito, ela se manifesta dentro de nós.

Hoje pode ser o dia de mudar. Faça uma autoanálise, defina seus sonhos, arrume o armário, compre novas roupas, compre novos sapatos, mude o cabelo, troque seu estilo... Faça algo novo, realize aquele velho desejo que nunca teve coragem de viver.

Isso pode dar certo, mas se não der... se alguma coisa sair errada. Não lamente, recomece outra vez, mas tenha cuidado de fazer diferente. Afinal não há razão para que a vida se repita.

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sábado, outubro 24, 2009

PARA JAMAIS ENVELHECER

Uma das coisas mais difíceis que enfrentamos na vida é o desafio de envelhecer. Ainda não cheguei a este ponto da minha caminhada, no entanto, tenho me preparado para que de certa forma a velhice jamais me alcance. Considero um grande privilégio envelhecer, conquistar uma vida longeva, e cheia de experiências; o problema é quando a velhice alcança atinge não apenas a dimensão física (fato natural), mas torna senil a psique, as emoções; quando isso acontece a velhice passa a ser uma dura realidade que vai além da mera cronologia.

Mesmo correndo o risco de errar, de ser tachado de petulante ou de querer dar conselhos a que já viveu bem mais do que eu (o que bem pode ser verdade) me arrisco formular algumas orientações para jamais envelhecer:

NÃO DEIXE A NOSTÁLGIA DOMINAR O SEU PRESENTE: Muitas pessoas envelhecem porque jamais conseguem se desvencilhar do passado; a certa altura da vida passam a olhar para trás numa atitude nostálgica e dessa forma se esquecem de viver o presente. O que envelhece as pessoas não são os anos conquistados e sim os perdidos. O sentimento de ter “perdido” primeiro a infância, depois a adolescência, e finalmente a juventude é um passo para perder a fase da maturidade. Viver uma fase de cada vez sem sentimentos de culpa pode ser um caminho para nunca envelhecer.

NÃO TENTE EVITAR QUE OS JOVENS COMETAM ERROS. Uma das coisas mais desgastantes da adultícia é a neurose que domina as pessoas de querer impedir que os jovens cometam os mesmos erros que se cometeu no passado. Deixe que as coisas sigam seu rumo, alcançar uma idade avançada não transforma ninguém em xerife do mundo. Tal atitude torna o adulto rabugento intransigente e acelera processo de envelhecimento.

CULTIVE UMA ATITUDE POSITIVA EM RELAÇÃO AO FUTURO. A coisa mais importante não é quanto tempo ainda resta para viver. A vida não é uma questão de quantidade de dias, na vida a qualidade é mais importante. Lembre-se que viver é uma conquista e só se vive um dia de cada vez. A pior velhice é aquela que anula o prazer de viver e destrói a vontade de sonhar.

Para nunca envelhecer é preciso, pois manter uma atitude positiva em relação à vida, deixar o que passou e acreditar no amanhã, aceitar que se cometam erros e de vez em quando se permitir errar também.

Eu estou plenamente convencido que não se pode parar o tempo, mas que é possível evitar o envelhicimento.

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terça-feira, outubro 20, 2009

MEU CANSAÇO

Talvez essa confissão soe estranha para alguns, mas preciso confessar: eu estou cansado. Algumas coisas já não me motivam, já não tenho disposição para continuar andando em determinadas direções. Devo informar que meu cansaço não é físico, e quem dera fosse; ele seria facilmente vencido com um bom banho, uma dose de descanso e um sono reparador. Não! Não é este o meu cansaço. Na verdade eu cansei de algumas coisas que para mim perderam o sabor e já “não me interessam mais” (Jeyson Messias).

Cansei dos discursos políticos. Eles são repetitivos e enfadonhos. Todo ano é a mesma cantilena, a velha conversa da sociedade mais fraterna, humana e igualitária; da Saúde, educação de qualidade, da segurança e do emprego para todos. Sequer se dão ao trabalho de mudar o discurso, fazer uma revisão, inventar outros termos para enganar os incautos. Já não tenho paciência para ouvir tanta demagogia, tamanha hipocrisia travestida de projeto político, tudo isso é uma grande mentira. Isso me cansa me enoja e provoca repulsa; só de ouvir já sinto um desânimo generalizado. Cansei! Não acredito nessas coisas; tudo isso não passa de uma grande balela, conversa mole para adormecer bovinos. Na verdade vivemos em uma sociedade egoísta, e cada um se preocupa apenas com o seu bem estar pessoal. Eu confesso, estou enfadado de tudo isso.

Estou cansado do falso moralismo que impregna a nossa sociedade. Já não tenho paciência para ouvir as frases feitas para sustentar a mentira e o preconceito que permeiam as mentes de pessoas sem escrúpulos. Cansei desse embuste de atitudes fingidas. Precisamos de mais ética e menos moralismos, mais aceitação e menos preconceitos.

Eu cansei de religião. Já não tenho disposição para as velhas querelas envolvendo o certo e o errado, o sagrado e o profano, vida espiritual e vida secular, mundo e igreja, Deus e o Diabo, da velha luta cósmica entre o bem e o mal, enfim, desse “mundo assombrado pelos demônios” (Carl Segan). Todos esses clichês já deram o que tinham de dar e já é tempo de mudar o vocabulário que a bem da verdade já está obsoleto.

Cansei dos formalismos religiosos, dos jargões e dos muitos chavões que permeiam toda e qualquer conversa sobre a realidade espiritual. Já não vejo razões para insistirmos nessa caminhada, estou convencido que essa estrada não vai dar em nada. Cansei daqueles que acreditam possuir o monopólio de Deus e se dizem despenseiros de seus mistérios. Prefiro crer que “Deus é como um pássaro encantado que nunca se vê. Só se ouve o seu canto” (Rubem Alves) e que uma das mais sutis formas de se conhecer a Deus é pelo sentimento (Schleiermacher). A afirmação Nietzcheana de que “Deus morreu” e que as “Igrejas são túmulos de Deus” talvez se sustente, pelo fato de que insistimos em falar de um Deus estático, apático imóvel e preso ao passado, e em última análise, um deus morto. Estou entediado e afirmo o contrário; Deus é eclético, dinâmico, é um ser em movimento e o tempo todo em constante mutação. Não acredito que divindade se harmonize com estatismo, com a imobilidade e com a repetição. O divino se caracteriza pela inovação; não existem dois homens iguais, nem duas flores com as mesmas características; não encontraremos duas aves que sejam exatamente idênticas e assim por diante. Deus faz todas as coisas novas. A marca da divindade é a heterogeneidade.

Eu também cansei de verdades absolutas. Já não tenho disposição para continuar ouvindo aqueles que acreditam serem possuidores de uma verdade absoluta. Em nome dessa crença muita coisa feia e nojenta foi feita dentro e fora das religiões. Acho sinceramente que toda verdade é dinâmica e mutante; uma boa verdade se metamorfoseia se encasula, se engravida para produzir novas verdades. Nada mais depressivo que uma verdade empoeirada, cheirando a mofo, verdade essa que pelo tempo já cumpriu o seu papel, e já não passa de “casca de cigarra vazia no tronco da árvore”; prefiro uma verdade mutante, enérgica e beligerante, ela é “a cigarra em movimento” (Rubem Alves).

Já não aguento a senilidade de algumas imagens cultivadas em nosso meio. Cansei dessa santidade abstrata, doentia e deformada que encontramos por ai. Já não acredito nesse tipo de espiritualidade, ela na verdade não passa de mera religiosidade e serve apenas para iludir a mente daqueles que preferem viver num mundo de fantasia. Creio que a verdadeira santidade se caracteriza pela humanidade; quanto mais espiritual alguém é, mais humano ele se torna. Por outro lado, proclamo uma matemática inversa, ou seja, quanto mais espiritual, menos religioso e vice versa. Prefiro mais a confissão sincera do pecador assumido do que a oração do santo travestido, até porque Deus não nos ouve, ele “vê secretamente” Mat. 6:6. Não posso negar, essas coisas me cansam.

Depois de chegar aqui há que se perguntar... e agora José? Bem, o lado bom desse cansaço emocional é que o refrigério se encontra exatamente aí, na disposição de olhar em outra direção, para novos horizontes e contemplar que existe ainda um longo caminho a percorrer. Eu vou andando, afinal, nada mais restaurador do que a certeza de estarmos iniciando uma nova jornada.

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sábado, outubro 17, 2009

OS FRADES, AS FORMIGAS E OS SEM-TERRA

As crônicas do século XVII dos Frades Menores da Província do Maranhão relatam um estranho litígio. Foi o caso que naquela Capitania as formigas, muito numerosas, muito grandes e daninhas estenderam seu reino subterrâneo por debaixo da despensa dos frades, furtando a farinha da comunidade, e ameaçando os fundamentos da casa. Os Frades temeram pelo pão cotidiano por causa da multidão organizada e laboriosa das formigas. Por isto planejaram uma repressão eficaz. Mas, diante da solução final proposta, um religioso lembrou que seu Seráfico Patriarca São Francisco chamara todas as criaturas como irmãs: irmão sol, irmão lobo, irmã andorinha, etc. Não deveriam eles agora ter uma convivência pacífica com as irmãs formigas, em vez de buscar exterminá-las? E o devoto religioso propôs instaurar um tribunal perante a Divina Providência, em que eles fossem autores e as formigas rés. O Juiz seria o Prelado que, em nome da suprema equidade, ouvisse as processadas. Esta proposta agradou aos discípulos de São Francisco, e o Procurador dos Frades abriu libelo contra as formigas.
Por parte dos Frades, o argumento dizia que eles, conformando-se com as leis de seu instituto mendicante, viviam de esmolas, ajuntando-as com grande trabalho pelas roças daquele país; e que as formigas as roubavam; e não somente procediam como formigueiros ladrões e invasores, mas ainda com manifesta violência pretendiam expulsá-los de sua casa, arruinando-a. Por isto voltassem à razão ou fossem exterminadas com algum ar pestilento, ou afogadas com alguma inundação, ou exterminadas para sempre de outra forma qualquer. A isto veio contestando o Procurador daquele negro e miúdo povo, alegando que as formigas, uma vez recebido o benefício da vida por seu Criador, tinham direito natural a conservá-la pelos meios de que dispusessem. E que estes meios, que o Senhor lhes permitira, eram virtuosos. A saber: buscando alimentos, garantiam a sobrevivência futura, cumprimdo o mandamento do Criador "crescei e multiplicai-vos"; ajudando umas às outras, eram caridosas; donas de suas terras, davam sepultura digna a seus mortos. Além disto, o trabalho das formigas era muito superior ao trabalho mendicante dos Frades, pois a sua carga, muitas vezes, era maior que o corpo, e o ânimo maior que as forças; concordavam as formigas que os frades eram irmãos mais poderosos, mas perante Deus também não passavam de formigas. Embora racionais, muitas vezes haviam ofendido o Criador, não observando as leis da razão, como elas observavam a lei da natureza. O fato de os frades, tantas vezes, não usarem a razão desolava muito mais a Deus do que as formigas furtarem a sua farinha. E, por sinal, as formigas estavam de posse daquele sítio, já mesmo antes de a Ordem dos Frades ter sido fundada. Portanto, as formigas não deveriam ser esbulhadas das terras que o Criador lhes dera, nem sujeitas à violência. Por fim o Procurador das formigas concordou que os frades defendessem sua casa e sua farinha com os meios humanos de que dispusessem, mas que elas haveriam de continuar com suas diligências, tendo em vista que do Senhor e não dos Frades era a terra, e tudo o que ela produzia.
Diante das réplicas e tréplicas, o Procurador dos Frades se sentia apertado, pois a contenda, uma vez reduzida ao simples forum das criaturas, abstraindo de poderes e razões históricas, e de motivos contemplativos, demonstrara que as formigas não estavam destituídas de direito. Pelo que o Juiz, com ânimo sincero de equidade, deu sentença, obrigando os frades a sinalizar, dentro de sua cerca, sítio competente para a vivenda das formigas; e que elas, sob pena de excomunhão, logo se mudassem para lá. Havia lugar mais que suficiente para ambas as partes se acomodarem nestas terras. Assim os frades cumpriram em paz seu estatuto, e as formigas trabalhariam garantindo sua sobrevivência.
Consta nas crônicas que a sentença do Juiz se cumpriu, como por milagre, tanto pelas leis da razão como pelas leis da natureza. Os Frades deixaram de temer a ruína de sua casa e o saque de seus celeiros; as irmãs formigas sentiram-se aliviadas das ameaças de extermínio. Maravilha do Senhor!
Como a questão dos sem-terra acontece 300 anos após o curioso litígio entre os frades e as formigas do Maranhão, qualquer semelhança entre posseiros e possuidores de terra do nosso tempo é pura conjetura. Mas, não será verdade que a terra é de quem a trabalha, e que o Senhor a constituiu para o bem de todos os homens? Com justa equidade há lugar e terra para todos os brasileiros em nosso vasto território. A parábola dos frades e das formigas, no mínimo, merece reflexão, embora Frades não sejam latifundiários, nem sejam da UDR, e os sem-terra não sejam formigas.

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Inácio Strieder é Professor de Filosofia da UFPE

Inácio Strieder é meu professor no Mestrado em Ciencia das Religiões, achei o texto apropriado e resolvi divulgá-lo aqui.

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quarta-feira, outubro 07, 2009

A NEUROSE DO PARAISO PERDIDO

O tema dessa reflexão é uma contribuição de Pierre Weil, foi assim que ele intitulou um de seus livros. O citado livro me encantou pela leveza com que fala de realidades psicológicas tão intensas que ocupam o imaginário da raça humana envolta em seus dilemas.

Na verdade, parece que de uma forma ou de outra todos nós temos uma certa neurose pela idéia de um paraíso perdido, um lugar paradisíaco de onde fomos expulsos e para onde anelamos voltar. Talvez seja um sonho oculto, interiorizado desde a mais tenra idade em nosso ser; ela ocupa a nossa imaginação nos fazendo sentir culpados pela sua perda. Como seria bom se pudéssemos voltar ao paraíso? Qual o caminho para esse lugar de delícias? De certa maneira consciente ou inconsciente acredito que todos nós já nos sentimos órfão desse lugar paradisíaco.

Não vejo problemas em sonhar com um lugar assim, afinal a fantasia faz parte da vida de todos nós e não custa nada sonhar. O problema é quando a idéia do paraíso vira neurose e passamos a viver com olhos voltados para um passado imaginário acreditando que um dia de lá fomos expulsos, quando a nostalgia do Jardim do Édem assume um caráter psico-histórico, adotando um tom melancólico, representado pela eterna perda da liberdade; e aquilo que deveria ser um sonho passa a existir como fantasia, como ilusão e delírio, nos impedindo encarar o presente, de olhar para frente como forma de perseguir na busca de novos ideais.

De onde vem essa obsessão pelo paraíso perdido? Talvez esteja no inconsciente coletivo da ração humana, ela permeia o horizonte de quase todas as religiões e ainda persiste nas culturas modernas. Creio que essa neurose obsessiva funciona como um desejo invertido, ela representa um ideário de uma sociedade perfeita, um projeto de plena realização humana uma quimera impossível. A pergunta que resta é uma só; o paraíso terrestre é saudade ou esperança? Ele esta no passado ou no futuro de todos nós? Em última instância, a neurose do paraíso perdido não seria também a neurose de um paraíso desejado e jamais alcançado. Estou convencido de que o paraíso é produto de nossos desejos, ele é perdido ou encontrado todas as vezes que olhamos para além do imaginário, para a concretude da nossa existência, é lá que o paraíso se encontra, ou não. Permanecer ou ser expulso do paraíso é simplesmente o dilema de curtir ou perder a liberdade.

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terça-feira, outubro 06, 2009

DA SANTIDADE PROFANA AO PROFANO SAGRADO

Sei muito bem que num primeiro momento esse título não parece plausível. As contradições que apresenta são em si mesmo sinais de que alguma coisa pouco ortodoxa se afigura.

A marca da santidade sempre se apresentou como distinção de tudo aquilo que permeie a esfera do profano, sendo que os dois termos até mesmo são auto-escludentes, não podem permanecer no mesmo espaço sob hipótese nenhuma. Por outro lado, tem-se por certo que na ótica da religião, tudo que for profano é essencialmente mal, ao contrário tudo de bom tem o selo do sagrado. Talvez numa atitude de revanche o materialismo, mesmo sem se ater aos termos supra, proclamou a superioridade do profano sobre o sagrado, decretando a nulidade da religião com seus símbolos e congêneres.

Pois bem proponho uma reconciliação, entre as partes, de forma a pensar numa santidade profana, e em seu reverso também na sagração do profano.

Inicialmente quero pensar nas muitas imagens criadas historicamente pelas religiões que divide o mundo em duas partes, o mundo material e o espiritual, e numa contribuição platônico-gnóstica, concebemos o mundo material como essencialmente mau e a realidade espiritual como eminentemente boa, daí, as muitas neuroses que se desenvolveram no meio religioso especialmente no cristianismo e em particular no evangelicalismo; devemos rejeitar tudo que não for material como mundano diabólico e pernicioso para a fé. O resultado foi que criamos pessoas esquizofrênicas, em conflito consigo mesmas, com o mundo em que vive, negando suas emoções reações e sentimentos, levados pelo medo de “agradar a carne”.

Creio firmemente que as coisas podem ser diferentes, que o mundo é um só e que espiritual e material são apenas convenções que utilizamos para distinguir a realidade material daquela que chamamos imaterial, e que elas não são boas ou más em si mesmas, chego a acreditar que elas são apenas meios onde a bondade e maldade se manifestam.

Outra importante expressão dessa deformação da realidade encontramos no conceito de coisas sagradas e profanas. Entende-se por sagrado, santo, santificado, etc. A idéia de coisas que receberam a visitação de seres divinos ou divinizados cuja manifestação conferiu determinadas qualidades transmissíveis aos fiéis. Nesse sentido temos lugares sagrados, pessoas santas e espaços sacros, objetos bentos, que não pode se misturar com a realidade profana que ao tocá-la pode conspurcá-la, poluindo a sua pureza.

Penso que sagrado e profano são dois lados de uma mesma moeda, seu reverso, de forma que o sagrado sem o profano se platoniza, se desencarna e existe apenas como realidade etérea, sem implicações na realidade concreta. Por outro lado, o profano que não se deixa nutrir pelo sagrado, também se torna estéril, sem vida e sem motivações. Proponho uma realidade na qual sagrado e profano se misture, como o fermento na massa, o resultado pode ser diferente, porém muito mais aconchegante. É a reconciliação entre dois extremos numa nova melodia, num novo poema, é o desnudar de um novo tempo.

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domingo, outubro 04, 2009

OS CORDÉIS IDEOLÓGICOS


Ideologia pode ser descrita como um instrumento de dominação que age através do convencimento, de forma prescritiva, alienando a consciência humana e mascarando a realidade.

As principais estruturas promotoras da ideologia são: a religião, a filosofia, a moral, o direito, as doutrinas políticas, dentre outras. Más, como nos diz o poeta em sua canção, “ideologia eu quero uma pra viver” (cazuza), dessa forma nos submetemos a determinadas idéias crendo que elas representam o melhor para nós. Quantas idéias que defendemos são realmente convicções nossas ou idéias que colocaram em nossas cabeças?

Não dá para negar, vivemos mergulhados em um mundo marcado e dominados por ideologias, e de certa forma nos sentimos seguro nele.

Porque as coisas são assim? E não de outro jeito? Na verdade todos nós somos manipulados para que determinadas pessoas alcancem seus objetivos, ser livre é conhecer esses mecanismos. Como diria Spinosa: “liberdade consiste em conhecer os cordéis que nos manipulam”. Se não conhecemos os cordéis e quem os movimenta, servimos de fantoches e não passamos de marionetes nas mãos dos dominadores.

Somos levados a comprar o que não precisamos com o dinheiro que não temos para agradar a pessoas que não conhecemos.

Ser livre é vencer a tirania do consumismo.

Somos levados a comprar produtos (presentes) para atender aos muitos “dias” disso, dia daquilo dia daquilo outro, como se a única forma de comemorar fosse comprando coisas. A quem interessa “comemorar todo dia o dia de alguma coisa?

Maquia-se a realidade com afirmações generalistas como “o petróleo é nosso”, todos são iguais, na verdade a quem pertence o petróleo? E é verdade que todos são iguais, mas alguns são diferentes, e ponha diferente nisso.

Seguimos normas morais e preceitos religiosos que nem sabemos quem os criou quando, e porquê!! Obedecemos a regras de comportamentos que nada te a ver conosco, apenas pelo fato de que alguém disse que tem que ser assim. Na verdade vivemos representados papéis, somos verdadeiros atores o tempo todo, parece que vivemos em um Big Brother permanente.

Não devemos nos deixar enganar, devemos ser livres, conhecendo os cordéis que nos manipulam e simplesmente cortando-os.

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