quarta-feira, janeiro 28, 2009

Um Evangelho Tabajara

“E indo pregai dizendo o reino dos céus está próximo. Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça daí” (Mat. 10:7-8)

SEUS PROBLEMAS ACABARAM. Esta frase que identifica os produtos das Organizações Tabajara acaba de perder a sua exclusividade (talvez tenha sido pirateado) e já pode ser tranquilamente aplicada ao cristianismo moderno. Novos “princípios da prosperidade Bíblica” foram descobertos e agora você também já pode aprender e desfrutar, uma vez que é partilhado (ou vendido) a quem quiser.

Seus problemas acabaram: Você que sempre sonhou em ser rico, ter um iate, morar numa cobertura de frente para a praia, trocar de carro todo ano e viajar para onde quiser, agora você já pode. Qual é o seu problema? Dívidas a pagar? Cheque Especial no vermelho?, cartões de crédito atrasado?, hipoteca da casa?. Agora você não precisa mais se preocupar com essas coisas! “Pare de sofrer!”. Chegou o novíssimo e revolucionário Evangelho Tabajara. Dívidas canceladas, dinheiro que aparece na sua conta bancária, sonhos que se realizam desejos saciados como que por encanto. Só é pobre quem quer. A riqueza e a prosperidade agora se encontram a apenas um toque. Em apenas uma palestra você também aprende todos os segredos para fazer Deus atender aos seus caprichos, não importa quais sejam.

A lógica é simples: Deus possui um certo código secreto que uma vez decifrado, coloca o detentor do conhecimento no comando da história. Deus deixa de ser Senhor e passa a ser servo a serviço dos homens, até por que não é para isso que Deus existe?
Ser cristão na atualidade se tornou um grande negócio, aliás, onde mais você encontra uma crença que vem acompanhada da garantia de prosperidade? Vai-se longe os tempos em que o ideal da vida cristã estava voltado para o outro, para a prática do bem, nos moldes do samaritano (vai e faze a mesma coisa).

Atualmente, prega-se um evangelho Tabajara, pragmático, que vale pela sua funcionalidade, pelos resultados que proporciona e pelos lucros que garantem aos seus consumidores.
Atualmente, ao invés da Bíblia talvez seja mais sincero o uso do Código de Defesa do Consumidor. Já que se propala aos quatro ventos satisfação garantida, deve-se também acrescentar: “ou seu dinheiro de volta” (copiando o Actívia), já que a moda é copiar.

Vivemos um tempo de graça desvalorizada e de fé inflacionada (exercer a fé custa caro). Assistimos atualmente a pregação de um Deus Bonachão do tipo Papai Noel que concede benesses a alguns poucos iluminados que descobriram os segredos de Deus e agora vendem “colas” para quem desejar passar na prova sem precisar estudar.

Tal evangelho pressupõe uma visão mercadológica da fé, evangelho de consumo que se pode mercadejar, negociar nos balcões da vida, onde a palavra de ordem é desfrutar uma vida boa e confortável na qual os sofrimentos não existem.

O evangelho Tabajara prega uma Igreja parecida com um Shoping Center que existe para atender aos seus clientes, onde o que importa é que eles entrem e saiam satisfeitos, afinal o cliente sempre tem razão.

Além disso, este evangelho divulga um cristianismo R$ 1, 99, onde tudo é barato, em promoção e até mesmo em liquidação. Nesse feirão espiritual a regra é: quem dá mais, dou-lhe uma, dou-lhe duas, pagou levou. Leva mais quem oferece mais.

Esse tipo de evangelho se fundamenta numa fé chantagista, emocionalista característica da pregação pseudo-pentencostal, onde a ênfase NÃO ESTÁ NO SER E SIM NO TER. Mercadores de ilusões viajam pelo país vendendo sonhos (ou devaneios) e fantasias (ou alucinações coletivas) e caro, diga-se de passagem, para aqueles que querem ficar ricos, mas condenam a Mega Sena.
Essa teologia concebe a vida cristã como uma transação financeira com Deus, quanto maior a oferta maior a bênção. Assistimos hoje a mercantilização da fé conduzida por executivos do evangelho, que apresentam aos incautos, um Deus caricaturizado, nepotista e agiota que abençoa aqueles que podem dar mais e abandona os que não podem demonstrar sua fé por meio da oferta.

O que assistimos hoje é uma geração de pessoas frustradas com a fé, decepcionadas com a graça e desiludidos com a Igreja. A única forma de valorizar a graça de Deus é oferecê-la gratuitamente, uma vez que a graça não tem preço. Muito bem, façam suas apostas, a sorte está lançada, e quem sair por último por favor apague a luz.

1 comentários:

Anônimo disse...

Sabe que como Pelagiana que sou, não creio que nosso Creador espalhe graças ... pois já As deu ... nos capacidade e O Exemplo a ser seguido. Me assombra que há os que acreditam enganar a Deus!
Excelente artigo, Neilton! Sempre um prazer te ler!
Bjks
Simone Simon Paz