terça-feira, outubro 20, 2009

MEU CANSAÇO

Talvez essa confissão soe estranha para alguns, mas preciso confessar: eu estou cansado. Algumas coisas já não me motivam, já não tenho disposição para continuar andando em determinadas direções. Devo informar que meu cansaço não é físico, e quem dera fosse; ele seria facilmente vencido com um bom banho, uma dose de descanso e um sono reparador. Não! Não é este o meu cansaço. Na verdade eu cansei de algumas coisas que para mim perderam o sabor e já “não me interessam mais” (Jeyson Messias).

Cansei dos discursos políticos. Eles são repetitivos e enfadonhos. Todo ano é a mesma cantilena, a velha conversa da sociedade mais fraterna, humana e igualitária; da Saúde, educação de qualidade, da segurança e do emprego para todos. Sequer se dão ao trabalho de mudar o discurso, fazer uma revisão, inventar outros termos para enganar os incautos. Já não tenho paciência para ouvir tanta demagogia, tamanha hipocrisia travestida de projeto político, tudo isso é uma grande mentira. Isso me cansa me enoja e provoca repulsa; só de ouvir já sinto um desânimo generalizado. Cansei! Não acredito nessas coisas; tudo isso não passa de uma grande balela, conversa mole para adormecer bovinos. Na verdade vivemos em uma sociedade egoísta, e cada um se preocupa apenas com o seu bem estar pessoal. Eu confesso, estou enfadado de tudo isso.

Estou cansado do falso moralismo que impregna a nossa sociedade. Já não tenho paciência para ouvir as frases feitas para sustentar a mentira e o preconceito que permeiam as mentes de pessoas sem escrúpulos. Cansei desse embuste de atitudes fingidas. Precisamos de mais ética e menos moralismos, mais aceitação e menos preconceitos.

Eu cansei de religião. Já não tenho disposição para as velhas querelas envolvendo o certo e o errado, o sagrado e o profano, vida espiritual e vida secular, mundo e igreja, Deus e o Diabo, da velha luta cósmica entre o bem e o mal, enfim, desse “mundo assombrado pelos demônios” (Carl Segan). Todos esses clichês já deram o que tinham de dar e já é tempo de mudar o vocabulário que a bem da verdade já está obsoleto.

Cansei dos formalismos religiosos, dos jargões e dos muitos chavões que permeiam toda e qualquer conversa sobre a realidade espiritual. Já não vejo razões para insistirmos nessa caminhada, estou convencido que essa estrada não vai dar em nada. Cansei daqueles que acreditam possuir o monopólio de Deus e se dizem despenseiros de seus mistérios. Prefiro crer que “Deus é como um pássaro encantado que nunca se vê. Só se ouve o seu canto” (Rubem Alves) e que uma das mais sutis formas de se conhecer a Deus é pelo sentimento (Schleiermacher). A afirmação Nietzcheana de que “Deus morreu” e que as “Igrejas são túmulos de Deus” talvez se sustente, pelo fato de que insistimos em falar de um Deus estático, apático imóvel e preso ao passado, e em última análise, um deus morto. Estou entediado e afirmo o contrário; Deus é eclético, dinâmico, é um ser em movimento e o tempo todo em constante mutação. Não acredito que divindade se harmonize com estatismo, com a imobilidade e com a repetição. O divino se caracteriza pela inovação; não existem dois homens iguais, nem duas flores com as mesmas características; não encontraremos duas aves que sejam exatamente idênticas e assim por diante. Deus faz todas as coisas novas. A marca da divindade é a heterogeneidade.

Eu também cansei de verdades absolutas. Já não tenho disposição para continuar ouvindo aqueles que acreditam serem possuidores de uma verdade absoluta. Em nome dessa crença muita coisa feia e nojenta foi feita dentro e fora das religiões. Acho sinceramente que toda verdade é dinâmica e mutante; uma boa verdade se metamorfoseia se encasula, se engravida para produzir novas verdades. Nada mais depressivo que uma verdade empoeirada, cheirando a mofo, verdade essa que pelo tempo já cumpriu o seu papel, e já não passa de “casca de cigarra vazia no tronco da árvore”; prefiro uma verdade mutante, enérgica e beligerante, ela é “a cigarra em movimento” (Rubem Alves).

Já não aguento a senilidade de algumas imagens cultivadas em nosso meio. Cansei dessa santidade abstrata, doentia e deformada que encontramos por ai. Já não acredito nesse tipo de espiritualidade, ela na verdade não passa de mera religiosidade e serve apenas para iludir a mente daqueles que preferem viver num mundo de fantasia. Creio que a verdadeira santidade se caracteriza pela humanidade; quanto mais espiritual alguém é, mais humano ele se torna. Por outro lado, proclamo uma matemática inversa, ou seja, quanto mais espiritual, menos religioso e vice versa. Prefiro mais a confissão sincera do pecador assumido do que a oração do santo travestido, até porque Deus não nos ouve, ele “vê secretamente” Mat. 6:6. Não posso negar, essas coisas me cansam.

Depois de chegar aqui há que se perguntar... e agora José? Bem, o lado bom desse cansaço emocional é que o refrigério se encontra exatamente aí, na disposição de olhar em outra direção, para novos horizontes e contemplar que existe ainda um longo caminho a percorrer. Eu vou andando, afinal, nada mais restaurador do que a certeza de estarmos iniciando uma nova jornada.

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