sexta-feira, fevereiro 13, 2009

HACKERS ESPIRITUAIS, OU A SACRALIZAÇÃO DO CALOTE?

Ora, os que querem ficar ricos, caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é a raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores. ( I Tim. 6: 9-10)

HACKERS SÃO PIRATAS DE COMPUTADORES e ficaram conhecidos, pela capacidade de violar sistemas de segurança e invadir computadores de grandes instituições bancárias para desviar vultosas somas de dinheiro para contas particulares, independentemente da realização de qualquer depósito. Um hacker não precisa se preocupar; com apenas alguns clics, invade sistemas, captura senhas, e o dinheiro simplesmente aparece na conta bancária.

Já o caloteiro, é aquele velho conhecido dos brasileiros, um “esperto” que compra e não paga; toma dinheiro emprestado e não quita a dívida, passa cheque sem fundos e jamais resgata, além de outras práticas similares. Em síntese, adquire as coisas com extrema facilidade, simplesmente “passando a perna” nos credores.

Historicamente essa prática foi condenada pela igreja, que com base nos sólidos princípios éticos da honestidade, da decência da dignidade, ensinava que o cristão deve ser íntegro pagar as suas dívidas e não se locupletar com o suor alheio. Acontece que os tempos mudaram (e parece que Deus também mudou), o evangelho já não leva em conta essas pequenas filigranas da vida cristã. Já vai longe o tempo em que os pastores pregavam sobre honestidade, probidade e lisura no trato com os negócios; tempos em que os cristãos eram orientados a devolver aquele troco errado que recebeu no ônibus ou a carteira encontrada na rua com dinheiro e documentos; tempos em que ser cristão era sinônimo de integridade, inteireza e de retidão.

Recentemente, os valores foram invertidos, e agora os pastores ensinam formas de enriquecer sem esforços, simplesmente tirando vantagem da sua condição de filho de Deus, e pasmem! Deus não apenas apóia a desonestidade nos negócios, agora, Ele mesmo promove esse tipo de transação escusa; essa é a conclusão que chegamos, depois de fazer uma análise, ainda que perfunctória da teologia da prosperidade (ou da desonestidade) e do ensino de seus profetas.

DEUS AGE COMO HACKER E DINHEIRO APARECE NAS CONTAS DOS CRISTÃOS.

Sem dúvida essa é uma das piores teologias já produzidas em todos os tempos, e representa uma degeneração da própria teologia da prosperidade, Os profetas dessa teologia chegam ao despautério, de envolver Deus nesse verdadeiro imbróglio teológico, nessa maracutaia espiritual, qual seja a de imitar as práticas ilegais dos piratas de computador. De repente alguém freqüenta uma palestra proferida por um guru, e no dia seguinte, os “milagres” começam a acontecer, (Deus só faz a transferência bancária e cancela a dívida, depois que o cliente, passa por um treinamento).

Sinceramente eu não sei nem pretendo saber de onde vem o dinheiro que aparece nas contas, (se Deus transforma papel em dinheiro ou se ele desvia de outras contas) a verdade é que num passe de mágica (ou de esperteza) o dinheiro aparece na conta; verdadeira obra de hacker, e o mais intrigante é que o mentor dessa transação esquisita ilegal e imoral é o próprio Deus em pessoa. Quem quiser acreditar que acredite, eu não creio nisso, afirmo categoricamente que Deus está fora desse esquema, e que cristãos de verdade também não entra nessa.

DEUS ABENÇOA E PROMOVE O CALOTE, APAGANDO REGISTROS DE DÍVIDAS

Mais esquisito ainda que as operações bancárias de transferência ilegal de dinheiro é o apoio que Deus agora dá ao calote. O esquema funciona mais ou menos assim: Alguém compra o que não pode pagar, toma dinheiro emprestado, esbanja tudo como bem quiser e deixa a dívida por conta de Deus, tais dívidas nunca serão pagas, elas simplesmente serão apagadas dos arquivos dos credores; e não existe sistema seguro, afinal é o próprio Deus quem viola as senhas. Em outros tempos isso seria considerado como pirataria cibernética e apagar dados, como cybercrime de estelionato, no entanto, hoje é reputado como “bênção” “milagre”, e sinal de espiritualidade, por outro lado, aqueles que ensinam como ganhar dinheiro assim, são chamados de “homens de Deus”. É a sacralização da desonestidade.

Finalmente, Deus assumiu seu lado Hobin Hood tira dinheiro de quem tem (ou não) para dar a aqueles que desejam enriquecer facilmente. Se essa moda pega, teremos em breve um novo perfil para a idéia de santidade e espiritualidade; santo será aquele que conseguir fazer “aparecer” o maior volume de dinheiro na sua conta bancária; espiritual será aquele que fizer “desaparecer” a maior de todas as dívidas. Nesse tempo, a primeira coisa que alguém vai ter que fazer ao se converter, na igreja, não será comprar uma Bíblia, participar de qualquer treinamento. A coisa mais urgente será abrir uma conta bancária, a segunda tão importante quanto a primeira será contrair uma dívida, o terceiro passo, assistir uma palestra proferida por um pastor pop star e aguardar as bênçãos, ou seja: o dinheiro jorrar na conta bancária e as dívidas sumirem. Depois disso, é só contrair novas dívidas para que Deus tenha o que fazer, afinal é para isso que ele existe.

O mais estranho de tudo é que Deus também leva a sua parte do bolo e isso antecipadamente. Sim, para que tudo possa dar certo, o cliente precisa fazer um depósito antecipado na conta de Deus, ou seja: uma oferta generosa a ser entregue ao seu representante aqui na terra; só depois do ok, Deus começa a atuar. Se esse negócio continuar, não estará longe o dia em que os jornais estamparão a notícia da prisão da ‘quadrilha de Deus’, formada por estelionatários sagrados e Hackers espirituais, nesse dia será difícil explicar que o dinheiro tem origem divina e que foi Deus quem apagou os dados dos computadores.

1 comentários:

Jeyson Rodrigues disse...

(Risos). Seu texto mexe profundamente com algumas inversões de valores éticos que temos testemunhado. Não me adimira a o fenômeno da secularização experimentado em alguns círculos, bem como o da pluralização inter-religiosa que passa a prestar mais atenção em outras propostas religiosas mesmo aqui, no Ocidente. Afinal, cristianismo, como apresenta seu texto, não é mais grande referência. Na verdade, para muitos é uma referência sim, mas de esperteza. Parece que o pessoal está mesmo levando a sério o lance de ser "prudentes como as serpentes".
Muito legal essa brincadeira com a "teologia da desonestidade" e o lado Hobin Hood de Deus. Mas o que eu mais gostei foi sua provocação sobre uma possível prisão da quadrilha de Deus. Já imaginou?