segunda-feira, janeiro 05, 2009

Um Mundo sem Religiões

SEI QUE PARECE ESQUISITO, mas recentemente eu venho pensando nessa possibilidade. Sei também que muitos poderão achar que pensar desta forma é jogar na defesa e fazer gol contra. No entanto depois de algumas reflexões é possível que você também venha a pensar como eu.

Recentemente me encantei com a leitura do livro Religião e Repressão do teólogo brasileiro Rubem Alves. Confesso que algumas afirmações ali contidas me marcaram profundamente e me fizeram re-pensar algumas verdades que me negava a admitir.

Quero compartilhar com você algumas dessas conclusões contidas, nesse texto e desafiar você a refletir sobre elas:

Assegura Alves:

“Deus dá nostalgia pelo vôo.

As religiões constroem gaiolas.

Quando o vôo se transforma em gaiolas, isso é idolatria”.

Não pude deixar também de pensar nas palavras de Jesus: “Em vão me adoram ensinado doutrinas que são preceitos de homens” (Mc. 7.7) O que será que ele estava criticando naquele momento? Como reconhecer uma “doutrina” que seja ou não “preceito humano”, Sabemos, porém que a vocação das religiões é construir e preservar. doutrinas

Diante dessas inquietações, comecei a pensar na possibilidade de um mundo sem religiões.

Obviamente que não estou levantando dúvida sobre a validade da religião como fenômeno, como manifestação de uma espiritualidade sadia. No entanto, não posso negar que as religiões enquanto instituições se transformaram em gaiolas que buscam prender o pássaro da espiritualidade proclamando ainda que ele só pode ser encontrado dentro delas.

Verdade é que a religião tem vocação natural para a proibição, para construir e preservar os tabus, dentro dela não existe lugar para a liberdade e para o vôo. “Prisioneiro, dize-me quem foi que fez essa inquebrantável corrente que te prende? “(pergunta Tagore) Fui eu disse o prisioneiro fui eu que forjei com cuidado esta corrente”.

Toda vez que o “pássaro” se nega a cantar dentro da gaiola e começa a cantar de forma diferente, que o prisioneiro resolve quebrar as correntes, é logo acusado de rebeldia e rotulado de herege, afinal pássaro bom é pássaro adestrado.

Sempre pensei a religião como algo libertador, mas quando olho os sistemas religiosos que atualmente se multiplicam no mundo, suas múltiplas regras normas e proibições, fico a pensar se às vezes esta pretensa liberdade não se traduz em prisão.

Em “Os irmãos Karamázovi”, no relato sobre o Grande Inquisidor, Dostoiévski escreveu: “Não há nada mais sedutor aos olhos dos homens do que a liberdade de consciência, mas também não há nada mais terrível”. As correntes, algemas e grilhões forjados pela religião impedem que a experiência religiosa se torne um vôo nostálgico e se transforma em uma caminhada penosa. Deixa de ser a manifestação prazerosa da experiência com o sagrado e se torna a cega observância de regras, normas, dogmas e doutrinas, ou seja: a religião passa a escravizar o homem, alimentando-o com a ilusão de que é melhor a segurança da gaiola que a incerteza da liberdade.

Na verdade, as religiões acreditam ter o monopólio da experiência religiosa, de forma que a única forma de liberdade possível é dentro das gaiolas da religião. Nas palavras de Rubem Alves: “As religiões são instituições que pretendem haver colocado numa gaiola o pássaro encantado”

Fiquei pensando: Como seria um mundo sem religião? Sem gaiolas nem correntes! Sei muito bem que o mundo não se transformaria em um utópico Éden na terra, porém vislumbro algumas realidades que poderiam mudar.

Creio que um mundo sem religiões, nos proporcionaria a superação do DOGMATISMO, sabemos que a religião se funda no dogma, na certeza ainda que irracional de que determinada verdade não comporta questionamentos, o dogma representa a mordaça da liberdade religiosa, ela mata a liberdade de consciência, e impede o desvelar de novas compreensões sobre o fenômeno religioso.

Além disso, um mundo sem religiões nos conduziriam pelo caminho para vencer a INTOLERÂNCIA religiosa. Sei muito bem que a religião não é a única responsável pelas manifestações de intolerância na sociedade. Não se pode negar, porém que ela ainda representa o principal foco, as pessoas são inflexíveis e impiedosas na defesa das suas convicções religiosas, talvez motivado por uma intenção sincera, os resultados, porém não precisamos citar aqui, a história é testemunha de que em nome de Deus e em defesa das religiões, muito sangue foi derramado, muita lágrima vertida e a dor semeada em abundância.

Acredito ainda que um mundo destituído das religiões enfim nos proporcionasse o fim dos movimentos FUNDAMENTALISTAS religiosos, a exemplo do Taliban, dos Xiitas, Ku Klux Klan, que serviu para garantir o domínio dos protestantes brancos sobre negros, católicos, judeus e asiáticos dos Estados Unidos.

Creio que um mundo sem religiões nos pouparia do radicalismo e do Legalismo que caracteriza o fanatismo religioso capazes de tudo na defesa intransigente da fé.

Talvez tenha sido pensando assim que o teólogo contemporâneo Dietrich Bonhoeffer idealizou um “Cristianismo sem religião” e Karl Barth a falar do “caráter diabólico da religião”

Penso que um mundo sem religiões, porém, com fraternidade, sem instituições religiosas, porém sensível aos reais problemas que afligem a humanidade, que proporcionasse aos homens uma convivência pacífica e respeitosa, talvez seja um sonho, uma utopia. Más acredite: Eu trocaria todas as religiões do planeta por um mundo assim.

2 comentários:

Jairo disse...

Que bom Neilton encontrá-lo nesse ambiente, parabéns!

Aqui voltateremos a debater nossas idéias.

Do ponto de vista prático a que fardos você se refere? Que fardos você deixou e recomenda que deixemos?

Você faz referência a um cansaço por esse modelo de cristianismo. Não sei se você vê todas as igrejas evangélicas brasileiras praticando esse modelo. Mas observo os templos religiosos, de um modo geral, todos cheios. Existe uma busca de espiritualidade cada vez mais crescente no meio do povo brasileiro. Como você explica isso?

Ademais o Islamismo, pelo que tenho ouvido falar, é a segunda religião que mais cresce no mundo. Existe uma religião mais dogmática, fundamentalista e castradora do que essa? Como você explica esse fenômeno?

Te admiro muito, meu bom amigo!

Jairo

Anônimo disse...

O jairo, que bom poder dialogar com você, não estou desencantado com a Igreja nem com o Cristianismo, critico nesse texto, uma vertente que se alegra em chantagear os seus fiéis, infundindo medo como forma de dominá-las, creio que Deus não nos deseja ser seguido por medo e sim por amor.
Além disso, independentemente do sucesso do Islamismo, não vejo razão para que possamos copiá-lo. A Igreja Universal também faz sucesso no meio evangélico, no entanto, eu não também não recomendo que alguem venha a aderir a tal modelo.
Em tempo, eu também me algro com as Igrejas sérias que verdadeiramente amam e pregam o evangelho e sei que você faz parte desse grupo,ão podemos negar no entanto que nem sempre uma multidão reunida é sinal de pessoas libertas, as vezes pode a té ser o contrário.
abraços
Neilton