sábado, dezembro 24, 2011

NESSE NATAL EU QUERO UM PRESENTE DIFERENTE: UM NATAL PARA TODOS


Uma das mais conhecidas tradições do Natal é a realização de pedidos. Todo ano, milhares de cartas escritas por crianças, adultos e velhos são entregues aos correios. Normalmente as cartas são endereçadas ao Papai Noel, e revelam desejos que variam de uma simples boneca, passando por empregos e até mesmo automóveis são pedidos. Eu resolvi escrever não ao Papai Noel e sim a um certo “Espírito do Natal” que é o responsável por trazer ao mundo a realização de todos os desejos natalinos. É a primeira vez que escrevo, e gostaria muito que meus pedidos fossem atendidos, afinal são pedidos muito simples e não custam nada:

Querido Espírito do Natal, nesse dia eu não quero pedir nada para mim, afinal tem muita gente precisando bem mais do que eu, meu desejo é que todos participem dos meus pedidos.

Primeiramente eu quero entender o que significa o Natal. As imagens do Natal em sua forma tradicional nos remetem para uma festa colorida, com muitas luzes, Papai Noel, muita comida, muita bebida, trocas de presentes, músicas específicas, compra de roupas e sapatos novos, além de outros complementos. Eu pergunto: O Natal é isso mesmo? Ou será que tudo isso na verdade seja a forma como o famoso e conhecido “Espírito do Natal” se manifesta? 

Eu quero pedir que o Natal seja diferente; eu acredito que o problema não esteja naquilo que o Natal é e sim naquilo que ele não é e deveria ser. Creio que o Natal deve ser um tempo de comer boa comida, beber boa bebida, mas eu quero que ele também seja um tempo para pensar na fome daqueles que durante todo o ano não tem o que comer. De que adianta “Espírito do Natal” uma vez por ano entregar cestas de natal para uns poucos se durante todo o ano esse mesmo alimento é negado e muitas vezes tirado da mesa de quem mais precisa? Eu quero um natal permanente onde a comida farta desse dia nas mesas de alguns se transforme em um direito de todos.

Creio que não existe nada de errado em trocar presentes com aqueles que nos são queridos e que muitas vezes nem precisam deles. Mas o que fazer com as milhares de crianças espalhadas pelo mundo para os quais a única esperança de ganhar um brinquedo se ressume ao dia 25 de dezembro de cada ano? Eu quero um natal diferente onde o direito de brincar esteja acima da esperança de ganhar o brinquedo. Talvez um natal assim nos revelasse que de nada adianta a criança ganhar um brinquedo se ela sequer pode brincar; muitas precisam vender amendoim, catar lixo, pedir esmolas nos sinais, se drogar, roubar e até mesmo matar. São vítimas de um mundo onde o Natal acontece uma vez por ano.

Não Acredito que papai Noel seja uma figura deletéria e que deva ser banido do Natal para que ele fique melhor. Pelo contrário, eu quero que o mundo seja invadido por “Papais Noeis” durante o ano todo, que os homens ganhem roupas vermelhas, barba e cabelos brancos e até mesmo uma barriga grande e até mesmo um saco enorme cheio de presentes para distribuir. Creio que um mundo de Papais Noeis seria menos violento, com menos mortes e mais desejos de felicidades; ao invés de desviar dinheiro da merenda escolar, da saúde da educação para fazer o Natal de alguns, os homens se alegrem em presentear ofertando aquilo que promove a paz.  Quero que as crianças sejam lembradas, tocadas, abraçadas sem medo de serem abusadas, espancadas e mortas, eu prefiro um mundo de papais noeis, acho que ele seria melhor.

Não quero que as luzes do Natal se apaguem, pelo contrário elas deveriam permanecer acessas por todo o ano.   Mas será que vale a pena iluminar algumas casas e algumas ruas, iluminar árvores em dezembro, quando as grotas e as periferias da cidade permanecem as escuras durante o ano todo? Quantos barracos são iluminados a luz de velas, de candeeiros a querosene. Quantos barracos precisam fazer gambiarras furtando energia elétrica, correndo risco de incêndio apenas para fugir do escuro. Gostaria que a energia consumida para iluminar a cidade chegasse também às palafitas, aos barracos de lona. Na verdade eu quero mesmo era que o “espírito de Natal” acabe com as favelas, com as grotas, com as casas de lona, com as palafitas, permitindo que todos tenham uma casa digna para viver.

As músicas de Natal são lindas e tocantes mas eu quero que a mensagem de paz e felicidade cantadas ganhem vida e alcance as pessoas, que elas possam não apenas cantar que “tudo é paz tudo amor” e sim que essa paz seja tão real que não precise ser cantada.

Encerro aqui os meus pedidos na esperança de uma resposta positiva em breve. Muito obrigado “Espírito de Natal”

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sexta-feira, dezembro 23, 2011

O SAGRADO CAMALEÔNICO



  "Crenças são correntes lacrando grandes portas” (Fábio Ibrahim El Khoury)


A teologia sistemática concebe Deus como um ser imutável e até certo ponto estático. Atualmente tenho pensado na possibilidade de ser a dinâmica, a mudança, a metamorfose mais adequada para entender a divindade. Depois de tantos anos pensando Deus a partir da estática, vamos ver o que dá pensar um Deus a partir da dinâmica, da mutabilidade.

Mesmo sabendo que isso possa parecer um insulto à santidade de Deus, para aqueles que só são capazes de conceber Deus a partir de uma metafísica desvinculada da concretude da realidade, mesmo assim vou utilizar a figura do camaleão para tentar descrever outras facetas da metamorfose divina. A simbologia africana, apresenta o camaleão como um animal sagrado, e como criador dos primeiros homens. Do ponto de vista biológico, ele é um réptil conhecido pela capacidade de mudar a sua cor para se adaptar ao ambiente ou a uma determinada situação.

Considerando que a existência de Deus do ponto de vista da ontologia não pode ser objeto de verificação, o agnosticismo passa a servir ao debate. Tudo que falamos de Deus como diria Thomás de Aquino não passa de analogias, não se refere ao ser enquanto ser.

Acho que podemos pensar a divindade partindo da contribuição de Pierre Teilhard Chardin. Ele ousou pensar Deus numa perspectiva evolutiva, ou seja, a partir da mutação, já que ele não pode (ou pelo menos não deve) ser um ser  estranho ao universo do qual ele é o fundamento.  Sobre as teologias, acredito que o próprio termo já traz consigo o germe da impropriedade, já que não se faz Teo-Logia. O que fazemos é na verdade não passa de Teantropologia, ou seja, falamos de Deus a partir de nós mesmos. Ou mais ainda, a teologia não é a ciência ou o campo do conhecimento que se ocupa de Deus, como pode sugerir  a expressão Teo-Logia, já que Deus em si mesmo não pode ser objeto de estuso.

Sobre a imagem de Deus, acredito que o panteísmo seja a forma mais interessante de pensar a divindade. Acredito que Deus seja a junção de muitas coisas que se manifestam no universo, e quem sabe, o ser humano seja parte disso tudo também. Acredito que Espinosa tinha razão quando defendeu que Deus e Natureza eram dois nomes para a mesma realidade. Creio que as imagens de Deus construídas pelo judaísmo a partir de uma compreensão mais concreta, ou seja, um deus antropomórfico, personificado e distinto do universo, produto das limitações da língua hebraica que em tese não era dada a abstrações, precisam passar por uma re-visão de forma a se aproximar da cosmovisão moderna.

certa vez, quando perguntado se acreditava em Deus, Albert Einstein respondeu: "Acredito no Deus de Espinosa, que se revela na harmonia ordeira daquilo que existe, e não num Deus que se interesse pelo destino e pelos atos dos seres humanos."
 
A mitologia Grega desenvolveu a figura do deus marinho Proteu, uma figura metamorfósica que apesar de assumir diversas aparências, não precisava mudar a sua essência. Gosto dessa idéia, a de que a metamorfose em Deus não implique necessariamente em mudanças na sua estrutura, se é que se pode dizer que ele tenha uma estrutura fixa. Será que Deus não se caracteriza exatamente pela mobilidade? ou seja, pela dinâmica tão presente no universo? Nietzsche dizia não acreditar em "um deus que não soubesse dançar" eu me arriscaria a dizer não ser possível acreditar em um Deus incapaz de mudanças. Acreditar que Deus não pode mudar não seria acreditar numa limitação à divindade? O que significaria uma impossibilidade para aquele que em tese pode todas as coisas? Não representa uma negação da onipotência divina? 

Esse argumento nos remete à dúvida escolástica: "Deus pode fazer uma pedra que ele mesmo não consiga carregar?" Essa premissa embora aparentemente estapafúrdia e desconexa se apresenta como uma encruzilhada, um gargalo no caminho da afirmação da onipotência divina. 

Como disse, penso num tipo de mudança que seja capaz de manter os elementos originais inerentes ao ser. Mudar não para ser outra coisa e sim a mesma coisa com novas características.

Concordo com Paulo Nascimento ao concber o ser a partir da "mutação constante, do "tudo flui" e em especial da sua opinião de que o ver o Ser como "constante devir e movimento: metamorfose pura". A sua resistência de muitos para aceitar uma possível mutabilidade em Deus se justifica pelo fato de encarar a mutabilidade como perda de características existentes para adquirir outras até então inexistentes. Acontece que essa verdade se aplica à realidade material, aos seres, não tendo que necessariamente ser verdade em relação ao Ser Sagrado. Aquela velha história de ser Jesus o Homem-Deus, que "se torna Homem" sem deixar de ser divino e humano numa única existência. isso é possível? Se não aceitarmos a mutabilidade em Deus, então estamos sepultando de vez a crença na encarnação (não que isso para mim faça muita diferença)

Acredito que estamos aqui diante da velha divisão dos atributos de Deus sedimentado pela Teologia Sistemática: Atributos Naturais da divindade e Atributos Morais, os primeiros têm a ver com o Ser de Deus, os segundos se referem a sua forma de manifestação. (Embora eu não faça esta distinção)

Como afirma Paulo Nascimento "Deus mesmo, ninguém sabe o que é nem como é". Concordo com essa visão e acrescento que além de não saber "como é" ninguém sabe "se ele é" em outras palavras: estamos todos num limbo teológico para o qual ainda não existe saída. Estou convencido que Deus é um ser mutante, por isso mesmo, todas os nomes e idéias de Deus construídas pela religião, muitas vezes conflitantes entre pode na verdade ser as interfaces de um Deus camaleônico que se manifesta conforme a realidade se movimenta sem perder a essência.

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quinta-feira, dezembro 22, 2011

DEUS, SEGUNDO SPINOZA (Baruch Spinoza - 1632, 1677)



O filósofo Bento de Spinoza, legou alguns conselhos para serem vividos no seio da religião. Utilizando sempre a primeira pessoa ele coloca na boca de Deus palavras que deveriam ser entendidas e guardadas pelos homens para viver a verdadeira religião.

Pára de ficar rezando e batendo no peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.

Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau.

O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.

Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro!

Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti? Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.

Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção à tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro.

Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.

Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não houvesse. Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei.

E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?

Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja?

Aborrece-me que me louvem. Cansa-me que agradeçam. Tu te sentes grato?

Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo. Te sentes olhado, surpreendido? Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para que tantas explicações?

Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em ti.

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sexta-feira, dezembro 09, 2011

ELEMENTOS PARA UMA UTOPIA TEOLÓGICA


“A utopia cristã começa de forma insólita, quando um homem se anuncia como filho de Deus”.(José Tolentino Mendonça)[1]

A expressão de José Tolentino Mendonça de que a “a utopia cristã começa de forma insólita, quando um homem se anuncia como filho de Deus” parece ser o prenuncio de uma grande heresia. Muita gente torceria o nariz para engolir a possibilidade de alguém tratar a divindade de Jesus como utopia. Ora, não se pode negar que os elementos humanos e divinos são do ponto de vista teológico tão eqüidistantes que apenas uma hiper-utopia poderia pensar a possibilidade da existência de um Homem-Deus, e de certa forma, podemos dizer que, se entendermos o sentido e o propósito da utopia, ela serve bem ao seu objetivo.
Em regra geral, a narrativa bíblica é pródiga em produzir utopias, elas serviram para orientar e encorajar o povo em meio às crises pelas quais tiveram que passar. D certa forma, podemos dizer que a essência da literatura escatológica é eminentemente utopista; Em meio às catástrofes que se abatia sobre o povo o escatologista precisava acenar com um tempo imaginário de vitória e sucesso que via de regra não se materializava, mas isso não era importante, a utopia que se realiza não é utopia. Como dizia Karl Mannheim ideologia e utopia sofrem de um déficit de realidade. Elas não correspondem à realidade. No caso do profeta, essa não era uma preocupação iminente, sua mensagem era parenética, se destinava a encorajar e confortar e não a fornecer uma descrição do futuro.  

A UTOPIA DA VOLTA DE ELIAS.

Dentre as muitas utopias que podemos encontrar no texto bíblico, uma delas e que guiou o povo de Israel em meio aos momentos mais difíceis de sua caminhada, foi a utopia da esperança da volta de Elias. O profeta Malaquias lançou mão desse personagem que com a sua morte deixou o povo órfão, para trazer o conforto de que ele voltaria para ajudar o povo a encontrar sua redenção. “Eis que vos envio o profeta Elias, antes que venha o dia grande e terrível do Senhor; E converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha, e fira a terra com maldição." (Malaquias 4:5-6)
Não precisamos questionar o sentido teológico desse texto para entender que se trata de uma expectativa utopista, Elias jamais voltou em momento algum da história do povo de Israel, mas a esperança de sua volta foi um elemento importante para mater o sonho de um novo tempo que viria, embora não se soubesse quando. 

A UTOPIA DO PARAÍSO TERRESTRE: 
Segundo Carlos Masters em seu livro: “Paraíso Terrestre: saudade ou esperança”  o paraíso terrestre não esta no passado, trata-se de um mundo ideal, pintado pelo autor da narrativa no Gênesis, sem os pecados do mundo que o cercava e projetado num passado mítico. Essa descrição nos releva que o paraíso terrestre longe de ser um lugar no qual fatos históricos se desenrolaram, é na verdade, um projeto utópico de um mundo ideal, no qual as mazelas do mundo que afligem o homem são excluídas dessa sociedade. Uma leitura literal desse texto nos lança num limbo histórico, tendo em vista que não se pode atestar a sua veracidade em razão da inexistência de qualquer modelo idêntico em qualquer momento ou em qualquer lugar no mundo.

A UTOPIA DO REINO DE DEUS NA TERRA:
Jesus sonhou com um mundo diferente e justo, ao falar da possibilidade de um “reino de Deus” na terra, muito embora seja evidente que ele não se realizou. A semente plantada por Jesus de um mundo marcado pelos valores do reino de Deus ainda continua como um ideal a ser perseguido pelas gerações do presente e do futuro, ela nos ajuda a caminhar, já que esse é em última instância o papel da utopia. Mas sejamos realistas, onde esta o reino de Deus que como dizia Jesus “já estava entre (ou no meio) de vós?”  Segundo Leonardo Boff, “Uma sociedade não vive sem utopias, isto é, sem um sonho de dignidade, de respeito à vida e de convivência pacífica entre as pessoas e povos. Se não temos utopias nos perdemos nos interesses individuais e grupais e perdemos o sentido do bem viver em comum. [ ] a utopia que pode reencantar a vida é uma relação de reverência e respeito com toda a vida, de sinergia com as forças da natureza, de hospitalidade com todos os seres humanos e de convivência na diversidade de culturas, religiões e de visões de mundo”.[2]
Gosto da opinião de Juarez Ferreira de Jesus quando diz que : “utopia” [ ] é uma proposta que não cabe onde há um sistema imperando. Utopia não tem lugar neste tempo. E para ocupar o seu lugar é preciso reorganizar o espaço e desarticular a hegemonia. Utopia é o sentimento motivador da realização do Reino de Deus que se constrói com a força das pessoas simples assim como podemos perceber no texto bíblico. Este Reino é o Reino da persistência, conhecimento, comunhão. Da espiritualidade e da solidariedade. É também o Reino da esperança. Ele não tem lugar em nossa sociedade. Mas, nós podemos antecipar a reorganização da nossa sociedade e reavaliar nossos valores”[3] Tenho a impressão que as utopias servem para isso mesmo, para que não deixemos de sonhar e caminhar. Depois de tantos sistemas teológicos construídos, talvez seja tempo de pensar na possibilidade de uma Utopia Teológica, ou quem sabe de uma Teologia Utópica  para nos guiar nesse tempo.






[1] José Tolentino Mendonça. Cristianismo e utopia. Disponível em http://www.snpcultura.org/vol_entrevista_jose_tolentino_mendonca.html
[2]Leonardo Boff: ‘Se não temos utopias, nos perdemos nos interesses individuais” http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=34666
[3] Juarez Ferreira de Jesus. Uma Utopia Possível. Disponível em http://www.metodista.br/pastoral/reflexoes-da-pastoral/uma-utopia-possivel

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quinta-feira, dezembro 08, 2011

NÃO ACREDITO EM MUITAS COISAS. E VOCÊ EM QUE ACREDITA?


“É tão arriscado acreditar em tudo como não acreditar em nada”  (Denis Diderot)
“A descrença não consiste em acreditar, nem em desacreditar; consiste em professar que se crê naquilo que não se crê. (Thomas Paine)
A maioria das crenças que professei na vida não eram minhas, eram crenças de outras pessoas que me foram impostas como obrigatórias, como requisito indispensável para ser um cristão. Jamais me deram o direito de pensar sobre elas, de duvidar delas e até mesmo de crer nelas de forma diferente. Cheguei à conclusão que eu mesmo não sabia se cria ou não em muitas das minhas crenças, eu simplesmente as repeti, as professei como verdadeiras sem nenhuma análise de seu conteúdo. Como afirmou o filósofo David Hume “os homens não ousam confessar, nem mesmo a seus corações, as dúvidas que têm a respeito desses assuntos. Eles valorizam a fé implícita; e disfarçam para si mesmos a sua real descrença, por meio das afirmações mais convictas e do fanatismo mais positivo”.
Estou convencido de que assim como existe muitas pessoas que continua professando crenças que não lhe pertence e sobre as quais jamais fizeram qualquer questionamento sobre a sua validade, ou seja, muita gente crer em coisas nas quais não tem certeza se acredita de verdade, mas não tem coragem ou desejo de repensar seus credos. Crença é em si mesmo algo tão pessoal que não deveria em hipótese alguma se cogitar em impor a outra pessoa aquilo no qual ela deve crer, a liberdade de acreditar  ou não deveria ser um direito sagrado de todos os homens.
Vencer o comodismo e decidir em que acreditar, em vez de simplesmente aceitar as crenças dos outros, pode ser um exercício doloroso, mas não menos gratificante. Essa busca pode implicar em perdas, muita coisa nas quais se creu pode ser que já não seja possível continuar crendo, e muita coisa que julgávamos indignas de serem cridas podem vir a integrar nossas crenças. Isso é bom ou ruim? Não sei, mas prefiro crer naquilo em que realmente acredito a repetir crenças alheias.
Do ponto de vista da estrutura religiosa imperante, especialmente no meio evangélico, alguém dizer que não acredita em alguma coisa na qual a maioria pensa acreditar, soa como uma grande heresia, como apostasia e desvio doutrinário. Ora mas o que são crenças? Crenças nada mais são que aceitação como verdade de algo que não pode ser provado, ou seja, a crença se baseia no absurdo, no improvável; certeza de que as coisas são assim mesmo ninguém tem e nem precisa ter, afinal é para isso mesmo que a crença serve. Em outras palavras a crença é o instrumento que se utiliza para vencer a dureza da realidade. Ou seja, quando não der mais para argumentar pela lógica basta recorrer ao definitivo “eu creio” ponto, está encerrada a questão.  Como diz T.H. Huxley: “O fundamento da moralidade é [...] renunciar a fingir que se acredita naquilo que não comporta evidências, e a repetir proposições ininteligíveis sobre coisas que estão além das possibilidades do conhecimento”.
De certa forma, vivemos a ditadura da crença, somos levados a crer em coisas nas quais não creríamos em outras circunstâncias, não fomos ensinados a refletir sobre nossas crenças, e, dessa forma, as repassamos para a geração seguinte sem questionar a origem de tais idéias.
As pessoas acreditam nas coisas que gostariam que fosse verdade, dessa forma é levado a rejeitar tudo que contrarie as suas expectativas. Dessa forma, as maiorias das crenças religiosas, das superstições, das crendices manifestadas, são na verdade projeções dos desejos mais íntimos do ser humano. Cremos naquilo que desejamos.
Acreditar ou não acreditar em alguma coisa é sempre uma questão de escolha. O que leva alguém a acreditar ou não em duende, saci pererê, curupira, gnomo, anjo, demônio e tantos outros seres que permeia o imaginário religioso popular. Muitas das crenças professadas no meio evangélico não passam de superstições e são em si mesmo incompatíveis, com uma fé madura que não aceita acreditar em qualquer coisa. Comungo com Diderot quando diz que “É tão arriscado acreditar em tudo como não acreditar em nada”
Confesso que hoje já não acredito em muitas coisas nas quais acreditei no passado, elas já não me satisfazem. Alguém diria perdeu a fé? Eu respondo: não! Apenas abandonei crenças que não me pertenciam para assumir minhas próprias crenças. Eu assumo, já não creio em muita coisas nas quais me fizeram acreditar no passado. E você em que acredita?

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