quinta-feira, abril 02, 2009

Olhando para o Passado, Enxergando o Futuro! “Os Batistas Brasileiros no divã da História”

“Restam-nos a nostalgia e o lamento. Parece que, cansado, Deus abandonou-nos à mercê das nossas próprias inconseqüências.” (Pr. Carlos Cesar Novais)

Não sou saudosista, não acredito nessa história de que “já não se fazem coisas como antigamente”. Parafraseando as palavras do Pr. Ed René Kivitz, em seu livro Quebrando Paradigmas, podemos dizer que isso é porque “já não se fazem coisas para antigamente”, fazemos coisas para o presente e para o futuro. Não creio que o passado seja melhor e que o novo seja diabólico pelo simples fato de ser novo.

Por outro lado, também não sou um sonhador, um tipo de “José do Egito evangélico”, que vive no mundo dos sonhos, buscando sentido nas filigranas da religião; crendo que tudo acontece pela ação de anjos ou de demônios que impedem a sua realização. Quero antecipar que a culpa pelos nossos infortúnios não se encontra no mundo espiritual. Penso como Rubem Alves em seu livro A Gestação do Futuro, que o futuro não é algo determinado, pronto e acabado, ele depende das decisões que tomamos hoje, Deus constrói o futuro juntamente conosco.

No caso dos Batistas brasileiros, e em especial dos alagoanos, acho que olhar para trás, e enxergar o futuro num processo de regressão meta-histórica talvez seja um exercício psicanalítico necessário, uma espécie de terapia às avessas para que possamos nos entender (ou não), encarar as nossas neuroses e esquizofrenias e quem sabe, uma vez conscientes das nossas enfermidades, possamos reencontrar o caminho para garantir a nossa existência no 3º, no 4º ou sabe-se lá em qual milênio. O desafio é sentarmos no divã da história e deixar que ela revele as nossas patologias, uma espécie de regressão coletiva.

Por ocasião da Assembléia da Convenção batista Brasileira em Brasília, algumas inquietações começaram a surgir naqueles que ali estiveram. Creio que o senso comum é de que alguma coisa precisa ser mudada; precisamos avançar bastante para que possamos chegar ao local onde já estivemos antes. Veja bem, neste momento precisamos caminhar para o futuro para chegar ao passado (Freud explica), uma vez que nesse momento o nosso futuro ainda é o nosso passado.

Calma, antes que alguém resolva chamar o psiquiatra para fazer um diagnóstico da minha sanidade, eu explico: Nos últimos tempos nós temos andado com a marcha ré engatada; caminhamos tanto para trás que por mais que caminhemos para frente, ainda assim estaremos em um terreno pelo qual já passamos. Segundo o Pr. Paulo Maurício Lomba:

“Já fomos a maior denominação evangélica do Brasil! Já tivemos o maior parque gráfico da América Latina! Já realizamos as maiores campanhas missionárias de todos os tempos! já fomos recordistas em impressão e vendas de Bíblias (Imprensa Bíblica Brasileira!) Já tivemos um pastor batista brasileiro como presidente da Aliança Batista Mundial! Já tivemos os maiores seminários teológicos da América Latina!”[1]

Podemos acrescentar ainda que já fomos proprietários de um Banco![2], de uma Junta de Rádio e Televisão, dos mais respeitados colégios evangélicos do Brasil, e por ai vai. Veja que nós já “fomos” e já “tivemos”; a verdade é que atualmente “nem somos” e “nem temos” mais. Os tempos de abundância passaram, e nos últimos anos vivemos períodos de vacas magras; fomos ultrapassados em números por denominações que aqui chegaram depois de nós, já não temos onde publicar nossa literatura (utilizamos serviços terceirizados) e cedemos os direitos sobre a impressão de nossas Bíblias para terceiros. Nosso trabalho missionário não vai bem. Nosso patrimônio está sendo vendido em todo o país para pagar dívidas com o Estado. Bem, para não ser enfadonho, prefiro parar aqui; acho que já temos um quadro psicanalítico que indica que de certa forma vivemos hoje o Cativeiro Babilônico dos Batistas. Na opinião do Pr. Carlos Cesar Novais:

Como aconteceu a outras tantas denominações ao longo desses vinte séculos de cristianismo, os batistas surgiram, cresceram e agora, em muitos países, vemos sinais claros do seu melancólico ocaso[3]

Mesmo sem a pretensão de oferecer respostas aos nossos graves problemas que enfrentamos como denominação, proponho um olhar despretensioso sobre a nossa realidade em buscas de um diagnóstico que ateste a nossa momentânea insanidade.

UM POVO SEM JUIZ E SEM REI: A CRISE DE LIDERANÇA

Tenho lido a respeito das frustrações que se abatem sobre os nossos líderes, o desânimo que enfrentam em perseverar nessa caminhada. Talvez devêssemos ter coragem e dizer como Ricardo Gondim, “Estou Cansado”, como faz em um sincero desabafo pastoral:

Cansei! Entendo que o mundo evangélico não admite que um pastor confesse o seu cansaço. Conheço as várias passagens da Bíblia que prometem restaurar os trôpegos. Compreendo que o profeta Isaías ensina que Deus restaura as forças do que não tem nenhum vigor. Também estou informado de que Jesus dá alívio para os cansados. Por isso, já me preparo para as censuras dos que se escandalizarem com a minha confissão e me considerarem um derrotista. Contudo, não consigo dissimular: eu me acho exausto.[4]

Vivemos hoje uma crise de liderança em nosso meio, não que não tenhamos líderes preparados, pessoas sérias e comprometidas com o reino e que amam profundamente o evangelho. O que se percebe na atualidade é uma indisposição generalizada para continuar levando pancadas, ouvindo palavras agressivas e desrespeitosas, muitas vezes produzidas em discursos inflamados e em pareceres apaixonados que em nada lembram que estamos em um ambiente formado por pessoas cristãs. Em artigo duro e igualmente emocionado intitulado Vergonha e Desesperança, o PR. Carlos Cesar Novais assim se expressa:

Tenho vergonha de participar das reuniões do conselho administrativo e das assembléias convencionais, onde — numa patética passarela de encenações e dissimulações — desfilam a mentira, a ironia, a desfaçatez, a astúcia da serpente, a hipocrisia dos fariseus e a violência dos gananciosos. Tenho vergonha de uma denominação que, apesar de estar inserida numa sociedade com graves crises e problemas complexos, aos quais deveria responder com marcantes ações de influência ética, prefere dar amplo espaço a disputas mesquinhas, à estúpida chama da fogueira das vaidades, à repartição implacável dos seus despojos, optando por rodear em torno do seu próprio umbigo, enclausurar-se em seu próprio casulo e tornar-se assim inútil porque fútil, tão fútil e inútil quanto estruturas outras que o tempo fez o favor histórico de enfraquecer, desmontar e extinguir.[5]

Cansados de lutar em vão, muitos preferem se retirar para o aconchego de suas igrejas e não querem sequer ouvir falar em envolvimento denominacional. Vivemos um verdadeiro “salve-se quem puder”, “cada um por si e Deus por todos” ou ainda “todos por mim e eu por ninguém”. Mais do que nunca entendemos as palavras de Jesus, “ferirei o pastor e as ovelhas se dispersarão”, (Mat. 26:31), são tempos de pastores feridos e ovelhas dispersas; líderes machucados, desmotivados, sem forças para continuar. Nesse cenário, sem uma liderança capaz de unir os batistas vivemos o drama do povo de Israel na transição entre a judicatura e a monarquia, “naqueles dias não havia rei em Israel; cada um fazia o que parecia bem aos seus olhos” (Juízes 21:25).

A ILUSÃO DA DEMOCRACIA ABSOLUTA: UM POVO A BEIRA DA ANARQUIA

Não quero ser simplista, sei exatamente que estamos mexendo em um vespeiro, no entanto, não podemos deixar de tocar em um ponto nevrálgico o nosso modelo administrativo. Talvez com um pouco de atraso seja tempo de re-pensar a nossa forma administrativa. Qual o motivo pelo qual enfrentamos dificuldades para gerenciar o nosso patrimônio?

No caso específico dos batistas alagoanos, enfrentamos a vergonha de estarmos hoje alijados dos meios de comunicações a todos disponíveis. Não possuímos programas de televisão, nem de rádio pelo qual possamos nos fazer ouvir (já que até mesmo o velho “Voz Batista” fechou). Não possuímos um jornal Batista, (já nem lembro quando foi que saiu o último exemplar) nem mesmo um blog oficial existe hoje em nosso meio. Vivemos sem dúvida o ocaso da nossa denominação.

Todos nós concordamos que a democracia é uma conquista batista, a luta pela liberdade das pessoas é uma bandeira levantada no passado e que deve permanecer hasteada. O que não se pode negar é que perdemos muito tempo em intermináveis reuniões, comissões, pareceres, GTs e por ai vai. Enquanto os batistas se preparam para mais uma reunião, denominações que ainda deveriam usar fraldas se comparadas com os batistas, passam a nossa frente, conduzida por administrações ágeis e eficientes. Talvez seja hora de termos coragem e admitir que o modelo faliu e não adianta remendar; precisamos de vinho e de odres novos.

A nossa propalada “autonomia” oriunda do princípio da liberdade se transformou em individualismo, e em alguns casos em motivos para a indiferença. Na verdade somos hoje um povo à beira da anarquia e nesse isolamento, vivemos “encaramujados” “ensimesmados” acreditando e pregando que ainda somos os melhores. Queira Deus que a nossa loucura seja revelada no divã da história, pois, se nos negarmos hoje a ouvir a história, não fugiremos de pagar a conta; e a história sabe cobrar.



[1] Os Batistas Brasileiros Em Brasília. Matéria de capa do boletim da Igreja Batista Asa Sul em Brasília, em texto assinado pelo Pr. Paulo Maurício Lomba

[2] Informação prestada pelo Pr. Ademar Paegle da Igreja Batista Casa Amarela em Recife. Segundo informou, tivemos um banco batista que faliu.

[3] Vergonha e Desesperança. Texto disponível em:

http://hojeteologia.blogspot.com/2008/10/vergonha-e-desesperana.html

[5]Vergonha e Desesperança. Texto disponível em:

http://hojeteologia.blogspot.com/2008/10/vergonha-e-desesperana.html

Leia Mais…