quinta-feira, fevereiro 12, 2009

O Último Tabu. Sobre Gênero, Vocação e o Equívoco de Deus

Já faz algum tempo desde que fui convidado a proferir palestra sobre ordenação feminina, e sinceramente acreditava que não voltaria a escrever sobre o assunto, tendo em vista que a matéria já foi por demais debatida, existindo farto material contra e a favor disponível na Internet e em diversas publicações. Juro que imaginava que a polêmica sobre se mulher pode ou não ser pastora já estava encerrada e sepultada, até porque, já é uma realidade inegável em nosso meio.

No entanto, diante do episódio envolvendo a ordenação de uma mulher em alagoas, surgiram algumas perguntas que nos traz de volta à cena do debate.

Em primeiro lugar há que se perguntar, quem dentre nós é autoridade para dizer quem tem ou não vocação pastoral? Quem pode ou não pode ser pastor ou pastora? Confesso que me encontro diante de um dilema; se aceitarmos que seja possível resolver esta questão baseado apenas na questão de Gênero, estaremos adotando um critério absolutamente arbitrário e destituído de qualquer fundamento e mais do que isso, limitando o agir de Deus. Nesse caso, pela primeira vez na vida penso na possibilidade de Deus ter se equivocado ao vocacionar (ou será que não?) pessoas que efetivamente não estão autorizadas ou credenciadas para exercer o ministério pastoral.

Durante muito tempo, ouvi pessoas que se posicionavam contra ou a favor da ordenação feminina, no entanto quando acreditava que já havíamos resolvido a questão, me deparo com o inusitado caso de pessoas que são a favor e contra ao mesmo tempo, a esperança é que os que hoje são contra passe a agir favor, dessa forma chegaríamos a uma solução da querela..

Sinto saudade dos tempos em que sabíamos quem era contra, quando os debates se davam no campo das convicções teológicas; sinto saudade, porque naquele tempo, pelo menos havia uma motivação para ser contra ou a favor. Vejo com profunda tristeza que as pessoas que mais tem travado o debate e dificultado o fim desse verdadeiro absurdo histórico, são exatamente aqueles que se dizem a favor da ordenação de mulheres. Nesse caso, já não se trata de convicção teológica, Bíblica, filosófica, antropológica ou outra qualquer agora empacamos na burocracia .

Talvez tenhamos copiado a atitude daqueles que são a favor da ecologia e poluem as águas, defendem a pureza do ar e destroem as florestas, que defendem espécieis em extinção, ao tempo que se alimentam de jacaré de papo amarelo, arara azul e patrocinam o trafico de animais silvestres. Se assim for, Deus tenha piedade de nós homens.

Quero, no entanto, fazer justiça. Já não ouço pessoas questionando a possibilidade de se ordenar mulheres ao pastorado, baseados nos velhos preconceitos de capacidade, inferioridade, sexo frágil possibilidade bíblica ou sei lá quais outros. Diante do fato de que tais argumentos não se sustentavam, a maioria deu a mão à palmatória, afinal temos pelo Brasil Batista afora (e fora dele) mulheres que provaram na prática que são pastoras com “P maiúsculo”, já não dava para insistir repetindo os velhos jargões baseados numa hermenêutica capenga de textos isolados da Bíblia até porque, devemos lembrar que as mulheres nada escreveram e isso por si só já dificulta o debate.

Verifico, no entanto, que os homens recuaram, mas não se renderam se ENTRINCHERARAM e construíram a última barricada, á última tentativa de se salvarem. Talvez dizendo “por aqui elas não passam!!”. Essa última trincheira é a ORDEM DOS PASTORES BATISTAS DO BRASIL. Vergonhosamente nos encontramos diante do ÚLTIMO TABU, verdadeiro clube do Bolinha, com uma faixa bem enorme dizendo MULHERES NÃO ENTRAM. Talvez seja uma questão de honra, (ou da falta dela) o certo é que não podendo mais conter o avanço das mulheres, nos refugiamos no “castelo OPBB”, para nos guardar do ataque final das perigosas pastoras que buscam conquistar nosso reino. Que Deus nos proteja delas.

A questão atual já não é se mulher pode ou não ser ordenada, isso parece que já foi resolvido, o que elas não podem e isso de jeito nenhum, é fazer parte da ORDEM DOS PASTORES BATISTAS, que neste caso, se tornou a última fortaleza a ser conquistada.

Sinceramente, tenho me perguntado quais as causas desse temor, e para não dizer que sou um “traidor” ou um desertor que se alistou nas fileiras inimigas; que estou fazendo gol contra ou mesmo dando um tiro no pé, me arrisco a verificar a possibilidade da existência de um perigo real escondido por baixo do sorriso inocentes dessas mulheres pastoras, vejamos então:

  1. A Bíblia proíbe a ordenação de mulheres e veta que estas assumam cargos de liderança e assim proceder seria um verdadeiro sacrilégio, uma heresia intolerável. Bem vejo que não procede, a Bíblia é pródiga de exemplos de mulheres líderes, juizas, profetisas, sacerdotisas, e tantos outros cargos importantes do judaísmo e da Igreja, além disso, temos centenas de “Missionárias” que pregam, ensinam, aconselham, fundam igrejas, etc. Neste caso.o que negamos é apenas o título, isso é hipocrisia.
  2. Elas vão realizar uma invasão silenciosa e aos poucos tomarão nossos lugares, Nesse caso, estamos vendo fantasmas, elas já se encontram presentes em todas as categorias profissionais e nada disso aconteceu. Tal atitude é corporativista e mesquinha, não precisamos temer, nossos empregos estão salvos.
  3. Essas pastoras vão se unir e dominar terra e nós seremos transformados em escravos. Dias virão em que mundo será dominado pelas pastoras. Sendo assim, vamos nos unir, mas precisamos ser rápidos, temos destituí-las dos cargos que já ocupam, afinal não vai dar para salvar o mundo entrincheirados no “Forte OPBB”.
  4. Elas não possuem capacidade para conduzir a Igreja, assim, com as mulheres à frente do ministério pastoral, será o fim da Igreja no mundo, finalmente as portas do inferno prevalecerão contra ela, será o fim do cristianismo na terra. Nesse caso, como bons guardiões da Igreja e da fé, precisamos ir para o sacrifício. Vamos combater até a morte em defesa do evangelho, temos ai uma causa para viver e morrer. Acho que não precisamos temer, a UFMBB, sobreviveu nas mãos delas e funciona(uma das poucas coisas que funcionam).

Verifico finalmente que estes argumentos são fantasiosos, fruto da imaginação, afinal, quem acreditaria nessas coisas. Então qual é a razão? Não vejo outra saída, apenas algumas coisas justificam a atitude de vetar a entrada de mulheres na Ordem dos Pastores: A hipocrisia, o corporativismo, o preconceito e a falta de humildade, que apesar dos discursos de igualdade, é o que não tem faltado entre nós pastores,. Finalmente, quero trazer a lume os sempre balisados conselhos de Gamaliel (por sinal muito usado pelos pastores). (...) deixai-os (ou as), pois se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará, más se é de Deus não podereis desfaze-la, para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus. (Atos 5: 38) Nesse caso Deus tenha misericórdia de nós

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