quinta-feira, junho 09, 2011

THEOSIS: A DEIFICAÇÃO DA HUMANIDADE (PARTE 6)

A DEIFICAÇÃO HUMANA, NATUREZA E EXTENSÃO:

Quanto a determinar a natureza da Divindade humana, não nos parece fácil, uma vez que a própria encarnação está no âmbito do mistério. Tanto que compreender a relação entre humanidade e Divindade em Cristo foi uma das maiores dificuldades dos primeiros séculos, dando origem as grandes controvérsias Cristológicas produzindo em seu bojo seus “hereges” e “heróis”:

Quanto a extensão dessa deificação, as opiniões são divergentes o que em certo sentido pode contribuir, para uma reflexão mais substantiva do tema em epígrafe.

A DEIFICAÇÃO HUMANA: SUA NATUREZA:

Na opinião de Rienecker e Rogers, a expressão natureza não significa a possibilidade da absorção da humanidade pela Divindade, segundo este: “Pedro não está dizendo que os seres humanos são absorvidos na Divindade, mas assim que todos aqueles que participam de Cristo participarão da glória que há de ser revelada”. (RIENECKER E ROGERS, p. 570)

Para Champlin, a natureza da participação é primária, isto e, o homem participa diretamente daquilo que o próprio Deus é, assim como Cristo é participante da natureza Divina, os remidos também terão aces­so a esta natureza. Apreciemos o seguinte comentário, onde afirma explicitamente: “Os remidos não participarão de alguma natureza Divina secundária, como também Cristo não possui nenhuma natureza Divina secundária”. (CHAMPLIN, op. Cit. p. 179)

O fundamento da proposição aqui, é o princípio da primogenitura de Cristo, “primeiro entre muitos irmãos”, e a doutrina da filiação Divina, como filhos, o salvo agora começa o caminho em direção a plenitude desta filiação, cujo ápice é a participação a natureza do pai.

A DEIFICAÇÃO HUMANA: SUA EXTENSÃO:

Uma questão necessária nesta doutrina, diz respeito a extensão desta participação do homem na Divindade, há uma espécie de consenso entre apologistas e antagonistas deste postulado, reconhecendo que o homem jamais atingira a plenitude da Divindade. Embora participante da natureza Divina, no entanto não poderá jamais gozar dos atributos que satisfazem a plenitude da Divindade, como a onisciência, onipresença e onipotência que são atributos exclusivo da Divindade, o comentário a seguir resume este ponto de vista na teologia de Champlin: “A diferença entre o homem que vier a participar da natureza Divina e essa natureza possuída pelo próprio Deus, não e questão de tipo e sim de extensão, Deus é infinito, assim sendo embora os remidos venham a participar de sua natureza, no sentido mais real, terão menor grau de poder, de glória e etc., a natureza será a Divina mas os atributos estarão sempre em desenvolvimento, mais esta extensão menor da par­ticipação nos atributos Divinos irá sempre aumentando é disso que consiste a vida, aqui ou na eternidade”. (CHAMPLIN Op Cit p. 179)

Fica patente que pelo menos em tese não há uma esperança que o homem chegue a plenitude de Deus. Não serão transformados em deuses a povoar o céu, mais a realidade espiritual implica em mudanças estruturais que capacitem o homem a viver a eternidade, crescendo a cada dia, nesta “Divinização do corpo” pela participação em Cristo. Em que consistiria esta participação, acreditam os apologistas numa constante e progressiva identificação com Cristo, redundando isto no enfraquecimento da carne (mortificação da natureza humana) e pelo fortalecimento da natureza Divina. Assim e que: “Os filhos de Deus vão se tornando cada vez mais com o Senhor e não poderia fazer isso, porem, se não participassem da natureza Divina”. (CHAMPLIN Op Cit p. 179)

Em síntese pode-se afirmar que esta doutrina aponta para uma nova ordem espiritual marcada pela exaltação do ser humano, agora ser transformado, atingindo uma natureza Divina, o que, portanto o coloca acima das outras criaturas inclusive os anjos, esta qualidade de vida superior, é possível pela presença de Cristo no homem produzindo nele as características do próprio Cristo. Este ponto de vista e defendido claramente por Champlin: “Os remidos tornar-se-ão Divinos, ou seja, serão maiores que os anjos”. (CHAMPLIN Op Cit p. 179)

O NOVO NASCIMENTO: COMO UMA PARTICIPAÇÃO NA NATUREZA DIVINA

A identificação do novo nascimento, conceito teológico extensamente conhecido e afirmado na teologia sistemática, com a Divinização da humanidade, ou seja, como uma Co-Participação na natureza Divina. Remete o estudioso a uma nova realidade a de que segundo os protagonistas desta doutrina, o novo nascimento na verdade nos torna Co-participantes da natureza do próprio Deus. Na verdade o novo nas­cimento expresso de forma teórica não pode ser explicado efetivamente de forma inequívoca sobre qual mudança caracteriza este novo nascimento, seria apenas a mudança de comportamento, mudança no pensamento na forma de encarar o mundo. O novo nascimento é algo que atinge o homem como um todo enquanto “carne e sangue”, incapaz de herdar o Reino produzindo nele o novo ser recriado pela ação do Espírito Santo. A exegese a seguir pode lançar um pouco mais de luz sobre o assunto: “... Nascer de novo é mais do que converter-se, é tornar-se um tipo de ser inteiramente novo, que chega finalmente a compartilhar da natureza e da vida de Deus. A conversão é tão somente o primeiro passo terreno na direção do total “novo nascimento”. Sendo realmente nascido de novo, entramos nos lugares celestiais como uma forma nova e prodigiosa de seres, os autênticos Filhos de Deus”. (CHAMPLIN Op Cit p. 180)

De qualquer forma a posição teológica de Champlin, deve despertar a questão sobre o significado real do novo nascimento e suas implicações na participação dos fiéis na herança do pai.

UMA FUNDAMENTAÇÃO GNÓSTICA PARA A DOUTRINA DA DIVINIZAÇÃO DA HUMANIDADE

As raízes da doutrina da Divinização humana podem ser encontradas nos postulados do Gnosticismo, se aceitarmos que o autor de II Pedro estava se posicionando contrariamente as doutrinas Gnósticas emergentes no seu tempo, será difícil entender as razoes pelas quais, temas teológicos como este, seja abordado aqui pelo autor, é provável que o objetivo seja não simplesmente contestar ou negar o seu valor, e sim, fornecer o verdadeiro sentido para verdades, tão profundas e sutis dos propósitos da salvação Em oposição aos postulados teológicos do Gnosticismo.o Apóstolo apresenta seu ponto de vista

Os fundamentos da doutrina gnóstica se encontra no próprio texto sagrado conforme lemos:

“E disse Deus: Façamos o Homem à nossa imagem conforme a nossa semelhança (Gênesis, 1: 26)

Seguindo esta passagem bíblica fundamental – e atendendo à Queda do Homem na matéria -, os gnósticos cristãos tiraram daí todas as conseqüências, pois, com a Queda (que obscurece a sua dignidade espiritual, o Homem, embora mantendo inteira e imanente a imagem divina, perdeu entretanto a semelhança divina que tinha no Jardim do Éden, mantendo-se esta apenas potencial ou virtual. Essa “semelhança divina”, deverá ser reencontrada e readquirida.

Para os Gnósticos, o alvo da redenção era a participação do homem na natureza Divina, ou seja: a participação do remido no Aeon, emanações angélicas de Deus, tornando-se uma partícula da natureza Divina. Trazendo em si alguns aspectos dos Atributos Divinos, assim a participação do homem na Divindade, consistia na transformação do homem em um Aeon. Materializado em partículas individuais do ser Divino, e ainda de acordo com a Teologia Gnóstica esse novo Aeon era absorvido pela Divindade perdendo sua individualidade e sua identidade. Segundo o comentarista Champlin, a Teologia do autor da Carta de II Pedro vai muito além do pensamento Gnóstico, que aceitava uma participação secundária do homem na Divindade apenas como “AEONS” ou emanações. Para os defensores da Divinização da humanidade, a nossa participação vai muito além e é muito mais real, assim afirma: Haveremos de ser cheios de toda plenitude de Deus ( ... ) chegando a manifestar todas as suas perfeições, todos os seus atributos”. (CHAMPLIN P. 180) A Teologia da Divinização do homem portanto, expressa em termos reais apresenta alguns exageros, que devem ser considerados por exemplo: Ao afirmar a participação na divindade a ponto de manifestar “todas as suas perfeições” e todos os seus “atributos”, podemos afirmar que a doutrina atinge o seu ápice com uma “deificação real” do homem tornando-se por assim dizer “deuses”, seres onipotentes capazes de realizar qualquer coisa, este é o ponto em que procura evitar a maior parte dos defensores da doutrina da “Divinização do homem”, no entanto rejeitando, portanto, a sua “deificação”

Ao analisar a possível absorção do homem em Deus. A teologia Gnóstica é ampliada pelos defensores desse postulado, dando a ela uma aplicação mais pessoal, em função dos seus pressupostos teológicos. “Mais a verdade é que os remidos participarão da Divindade, sem perderem sua identidade pessoal, tal como o filho é dis­tinto do seu pai, embora ambos tenham a mesma natureza”. (CHAMPLIN P. 180)

Seguindo esta perspectiva, é responsabilidade do Homem readquirir essa dignidade espiritual, que ele possuía in principio e que perdeu com a Queda, passar enfim da potencialidade à realidade divina. Para tal são precisas duas coisas: a existência da potencialidade (uma graça divina) e a realização dessa virtualidade (pelo esforço pessoal e pela graça), isto é a divinização, os que são, na realidade, dois momentos indissociáveis do percurso do cristão. Recorde-se que para a Gnose, apesar da Queda, “existe no Homem uma parcela divina ou espiritual que provém do mundo superior e que aspira a ser purificada da ganga que a aprisiona, a fim de retornar à sua pátria celeste” (J.M. Ansembourg, La gnose et les gnoses, in “L’Esprit des cchoses”, vol. III, nº. 8-9, CIREM, Guérigny);

Segundo a crença gnóstica, “um ou vários mediadores descem através dos Éons (ou Aions) para trazer aos Eleitos a Gnose que lhes dará aqui em baixo a purificação e a via de repatriamento, isto é, a regeneração (para os gnósticos cristãos). O último e o único Mediador é o Cristo (que transmitiu secretamente a Gnose aos seus discípulos” (J.M. Ansembourg, La gnose et les gnoses, in “L’Esprit des cchoses”, vol. III, nº. 8-9, CIREM, Guérigny.)

Para a Gnose, apesar da Queda, “existe no Homem uma parcela divina ou espiritual que provém do mundo superior e que aspira a ser purificada da carne que a aprisiona, a fim de retornar à sua pátria celeste”; além disso, “um ou vários mediadores descem através dos Éons (ou Aions) para trazer aos Eleitos a Gnose que lhes dará aqui em baixo a purificação e a via de repatriamento, isto é, a regeneração. Para os gnósticos cristãos. O último e o único Mediador é o Cristo que transmitiu secretamente a Gnose aos seus discípulos.

A palavra gnose aparece já no Novo Testamento 29 vezes – por exemplo, a riqueza, a sabedoria e a gnose de Deus (Rom., 11, 33), o perfume da gnose (II Cor. 2, 14), a chave da gnose (Luc., 11, 52) e Crescei na graça e na gnose de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (II Pedro, 3, 18) -, com o sentido de ciência secreta, reservada a uma elite (outra “antipatia” a que os gnósticos já nos habituaram…), a qual é transmitida por uma Unção que engendra o Corpo de Glória, fim do processo de divinização, pois ele consiste em tornar o homem inteiro perfeito (“teleios”) em Cristo (I Col., 1: 26-28).

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