sexta-feira, janeiro 23, 2009

PREFIRO ANDAR NA CONTRAMÃO

"É tão arriscado acreditar em tudo como não acreditar em nada" (Diderot)

Conheço o Código de Transito Brasileiro e os perigos de andar na contramão, cuja principal possibilidade é a de provocar uma colisão. Sei também que o bom senso não recomenda que se haja dessa maneira, principalmente quando a maioria quase absoluta concorda que o sentido oposto em que estamos transitando é o caminho certo e a única direção a seguir. E mais, a menos que o motorista seja um suicida eu também não recomendo tal procedimento.

No entanto, em se tratando dos rumos da Igreja Evangélica no Brasil (ou pelo menos parcela dela) eu não vejo outra opção. È seguir com a maioria, nessa verdadeira corrida maluca, ou a andar na contramão.

Talvez seja hora de perguntar quem está na contramão? Será que a mão não foi invertida e a Igreja atualmente insiste em seguir em frente, apesar dos insistentes avisos encontrados pelo caminho?

Prefiro andar na contramão, a seguir em frente na maioria das idéias pregadas e defendidas em nosso tempo. Sei que possivelmente isso implicará em choques, com aqueles que consideram que existe apenas um caminho certo, que cristalizaram suas idéias e não admitem discuti-las. Gostaria de apresentar algumas estradas nas as quais já não já não consigo mais seguir.

Prefiro andar na contramão dessa "Teologia Curupira" que muitos dos nossos líderes insistem em pregar. Chamo "Teologia Curupira", a tendência quase que obstinada de manter os pés para trás e os olhos no passado. È sempre a mesma coisa, toda vez que alguém levanta um problema, a primeira coisa que se faz é voltar os olhos para o passado, a algum texto bíblico e de lá não se consegue mais sair. Essa visão teológica fundada apenas nas experiências passadas, que não se contextualiza, já não consegue responder aos reais problemas que afligem ao homem do presente. Sabemos que a teologia não pode ser estática,

Prefiro pensar uma teologia que ande para frente e olhe para o futuro, que contemple o presente. Creio que Deus não tem compromisso com o passado, as experiências de ontem não obrigam Deus a agir da mesma forma. Estou cansado de ouvir pregações afirmando que "assim como foi com fulano assim será com você". Creio firmemente que Deus age de acordo com a sua vontade e acho temerário afirmar que as coisas vão se repetir tal qual aconteceu no passado.

Algumas perguntas que insistimos em responder já não trazem qualquer contribuição para aqueles que ouvem. Tais como: "As 7 semanas de Daniel", o significado da "agulha e do camelo" Como é o céu? Para onde vão as almas depois da morte? Questões sobre as quais até hoje ninguém conseguiu ser convincente ao tentar responder tais perguntas.

Prefiro a contramão a seguir com aqueles que insistem em fazer da vida cristã um mundo de faz de contas, criando ilusões, castelos de areia, negando a realidade e pregando um Deus manipulável. Já não acredito que seja possível "mover" Deus por meio de jejuns, sacrifícios pessoais, que existam formulas para fazer as coisas acontecerem. Não consigo pensar nesse Deus marionete, que atende aos comandos daqueles que se utilizam de "métodos infalíveis" que podem inclusive ser ensinados e reproduzidos por outras pessoas. Já não acredito que o mundo seja mecânico, onde as coisas "funcionam assim", prefiro aceitar a dúvida à certeza que tudo já está predeterminado, estou convencido de que o elemento central da fé não é a certeza e sim a esperança, sim porque a certeza nos torna estáticos e arrogantes, enquanto que a esperança nos mostra onde estamos e nos estimula a contunuar andando. Prefiro a expectativa do futuro, daquilo que ainda não é ao imobilismo da pregação escatológica, que insiste em afirmar que tudo já está decidido pelos desígnios divino e que portanto nada podemos fazer para mudar. Nesse sentido acredito que Raul Seixas tem mais a dizer que muitos pregadores atuais quando afirma "prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo". Prefiro a utopia, o ainda não, o "devir", pois conforme atesta Eduardo Galeano:.

"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".

Prefiro caminhar contra a multidão a acreditar que tudo que for material, humano e prazeroso pertence ao diabo. Já não aceito a idéia platônica/agostiniana/maniqueísta de que as coisas boas são espirituais e as materiais são ruins. Vou na contramão e digo que tanto o material como o espiritual pertencem a Deus e se todas as coisas foram criadas por ele, são boas, que o Deus não condena o prazer, alegria e a felicidade, porque ele também é o autor das emoções e dos sentimentos .

Prefiro andar na contramão daqueles que professam a idéia do casamento indissolúvel, e do divórcio como pecado. Não pretendo fazer uma apologia ao divórcio e à dissolução do casamento e das famílias. No entanto, já não dá para se tratar tal instituto apenas com base na concepção judaica sobre o casamento. O que fazer quando os relacionamentos se deterioram e passam a produzir apenas sofrimento? Creio ser preferível um divórcio sincero a um casamento de fachada. Manter as pessoas juntas apenas para dar satisfação à Igreja e à sociedade, não parece razoável.

Já não agüento a hipocrisia daqueles que baseados em seus relacionamentos querem fazer regra para todo mundo com frases moralistas do tipo "tenho tantos anos de casado com a mesma mulher" ou com o mesmo homem fazendo disso regra para todo mundo. Tais exemplos via de regra são fornecidos por pessoas que vivem relacionamentos estáveis, (amém por isso), jamais enfrentaram uma crise conjugal e por isso não sabe exatamente o que significa enfrentar o problema. Além disso, cada caso é um caso. Existem crises que são superáveis e outras que não. Impor às pessoas permanecerem presas a um relacionamento que já não existe, é prolongar um sofrimento desnecessário e atentar contra a liberdade das pessoas. È negar que as pessoas podem se equivocar na escolha de seus cônjuges como se equivoca em tantas outras escolhas da vida. Não creio nessa baboseira de "se você escolheu errado pague o preço" Deus não aprova esse tipo de radicalismo quer seja ele na esfera espiritual, conjugal ou qualquer outra.

Depois de ler este texto, você também poderá decidir que caminho seguir, Talvez não seja prudente caminhar na contramão, sendo mais confortável seguir em frente com a multidão; bem nesse caso, vamos ver aonde este caminho levará a igreja brasileira. De qualquer forma, eu já tomei minha decisão: prefiro a contramão da realidade ainda que dura, a seguir o caminho da ilusão, da fantasia que insiste em seguir em frente sem olhar as placas que indicam que existe alguma coisa errada com este caminho.

2 comentários:

helvio disse...

Meu Mestre, Reitor, Professor e Dr. Concordo em parte com o seu pensamento, pois o casamento é sagrado, quando você se separa, com quem ficaria os filhos? e quantas vezes precisamos nos casar até que o casamento dê certo? e por quê tentamos recuperar um Seminário, uma vez que já foi negado pelo MEC? por quê o mesmo, e não começar com um outro totalmente diferente já que não deu certo? por quê as tentativas com as mesmas substancias? Me perdoe meu Mestre, tenho uma grande admiração e apreço pela sua pessoa, tenho um respeito muito profundo, não estou tentando lhe desrespeitar, apenas acveite a minha maneira de pensar.
Obrigado
Deus te abençoe.
Pr. Hélvio Gomes

Anônimo disse...

Grande Helvio, que bom poder dialogar com você.
Concordo plenamente com você que o casamento é algo sublime, que deve ser preservado, este texto não faz apologia ao divórcio, o que ele busca é discutir se eu tenho ou não direito de impor a outra pessoa que ela permaneça casado quando na verdade o casamento já acabou.
A pergunta é o que é mais honesto? Um casamento de fachada ou um divórcio consciente?
O que questiono são alguns pastores que sem jamais ter enfrentado uma crise conjugal, julgar outras pessoas que passam pelo problema, e assim impor que que em nome de uma visão sacramental do casamento, permanecer casado alimentando um sofrimento desnecessário.
Acho lindo a visão romãntica do casamento, no entanto, nós sabemos que as pessoas erram em suas escolhas. Muitas vezes esses erros podem ser remediados e outra vezes não.
De qualquer forma creio como você tambem que o divórcio so se justifica depois que o casamento acaba de fato.
graças a Deus que eu e você temos uma família estável, no entanto sabemos que isso não é uma régra para todo mundo, cada caso é um caso.
grande
Pr. Neilton