Que bela coisa para nós, na verdade - para mim, para Aristodemo, para Fedro e para os outros convivas – que vós, os fortes em bebedeiras, renuncieis agora às bebidas! Não falo de Sócrates, que bebe e se contém, como se vê, e está pronto a aceitar a decisão que tomarmos (Platão: O Banquete, , p. 26)
Recentemente me encantei com a leitura do livro “Sócrates e o Beba Com Moderação” do escritor Maranhense Ricardo Coelho um jovem do qual ainda ouviremos falar. O que mais me encantou no pequeno opúsculo, foi a forma profunda e ao mesmo tempo descontraída e descomprometida com que o autor tratou de um tema tão sério e importante que é o problema da bebida alcoólica, seus efeitos e conseqüências na vida dos bebedores, suas famílias e na sociedade.
Para produzir a obra que na minha visão se reveste de uma singularidade no ramo, uma vez que não se atem diretamente à bebida e sim foca o bebedor e suas relações com a bebida, o autor se baseia nos escritos de Platão sobre Socrátes: “O Banquete”, “Fédro” e “Apologia de Sócrates”, livros nos quais Platão apresenta o homem Sócrates em suas múltiplas relações com a sociedade ateniense.
Conhecido por frases filosóficas antológicas como “só sei que nada sei” ou pelo lema que guiava sua caminhada existência, a famosa “homem conhece-te a ti mesmo”, encontramos no “Banquete”, outra face do filósofo que poucos conhecem, a sua dimensão erótica, um homem envolvido em farras, e noitadas na cidade de Atenas, cultivador de relações amorosas, que bebe o bom vinho sem se embriagar, ou seja um homem que encontrou o equilíbrio entre a bebida e a sobriedade, entre o “aproveitar a vida” sem desperdiçá-la, um homem que em outras palavras dominava a bebida, e jamais se deixou dominar por ela, uma das mais difíceis tarefas para quem se aventura no mundo da bebida. Na prática o que vemos é que as pessoas sabem a hora de começar a beber mas dificilmente sabem a hora de parar, dessa forma, nas palavras do autor “a bebida rola sem limites, alta velocidade nas estradas, índice de acidentes duplicados, brigas e bagunças são reflexos claros do mau uso da bebida” p. 15. Para sintetizar o conteúdo do precioso livro, destaco alguns tópicos para uma rápida reflexão:
Sócrates bebia mas não ficava bêbado: As pessoas que bebem sabem muito bem que a embriaguez é uma possibilidade real, o excesso de bebida termina sempre em uma inevitável e indesejável bebedeira. De certa forma, Sócrates ensina o caminho para domar a bebida: Jamais beber até ficar bêbado, Sócrates não tomava a famosa “saideira” que na verdade se repete por vezes até que o bebedor desista de sair, permanecendo no local “enchendo o saco dos donos de bares” e contraindo dívidas.
Além disso, a bebedeira de Sócrates não atrapalhava o seu trabalho: A relação entre bebedeira e trabalho é uma conta que não fecha nunca. Embalados pela curtição, muitos caem na gandaia e enchem a cara de cachaça nos finais de semana, indo dormir encharcado até a alma de bebidas, esquecendo que precisam trabalhar na segunda feira. O resultado são olhos vermelhos, pessoas mal humoradas, desconcentração e baixa produtividade no trabalho, muitos passam a segunda feira bocejando e cochilando em frente ao computador, resultando não poucas vezes em demissões.
Sócrates não ficava ressacado, das noitadas de Atenas: A ressaca é o efeito colateral da bebedeira, isso já está pacificado entre aqueles que se aventuram a tomar um porre. Engov, Red Bull, caldo de ovos com carne e cheiro verde são velhos companheiros daqueles que lutam para vencer a cefaléia e o enfado depois de uma noitada bebendo.
Sócrates bebia mas não vomitava nos bares de Atenas: Essa é uma cena conhecida nos bares. O excesso de bebida provoca reações indesejáveis, entre elas o vômito. Muito bem, embora seja verdade que nem todo mundo que se embriaga chegue a este estágio, não se pode negar também que essa seja uma possibilidade real para aqueles que perdem o controle da bebida.
Além disso Sócrates discutia mas não brigava: Ele não era um bebedor chato ou abusado Sócrates bebia e mantinha a polidez. Beber e abusar, falar demais, agir como se fosse rico, inteligente e namorador, são atitudes que muitas vezes se manifestam nas pessoas depois de esvaziar algumas garrafas ou de sorver várias doses. Além disso, muitos se tornam violentos e irritantes ao mesmo tempo, sendo esse um dos motivos das muitas brigas que se originam nas mesas de bares, com resultados catastróficos.
A bebida não afetou a longevidade de Sócrates. Sócrates não morreu de cirrose hepática como infelizmente acontece com aqueles que se deixam dominar pelo vício de beber, fato esse que as vezes antecipa em anos o final de uma vida; na verdade, Sócrates foi morto aos setenta anos envenenado por cicuta, se não fosse assim, provavelmente teria tido uma vida ainda mais longa. Ainda segundo nosso autor, Sócrates bebia, mas não fumava: Um dos problemas que via de regra acompanha quem bebe é a necessidade de fumar, por vício ou por mera ostentação, o resultado é que nesse caso, a saúde do já combalido bebedor acaba se agravando pelos males do cigarro.
Esse texto baseado no livro citado, não tem qualquer conotação moralista ou de condenação explícita a bebida ou a quem bebe; na verdade, ele analisa uma realidade que se manifesta no seio da sociedade com conseqüências as mais duras possíveis, aprender a beber sem se deixar dominar pela bebida talvez seja uma das coisas mais difíceis de se realizar.
Se vale um conselho já desgastado pela mídia, o ideal é que você não beba, e se beber, faça como Sócrates, beba com moderação.
Obs. O livro "Sócrates e o Beba Com Moderação" pode ser encontrado no endereço:
www.eticaeditora.com.br
NA GALÁXIA DE GUTEMBERG
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NA GALÁXIA DE GUTEMBERG
Marcos Monteiro
Desde a invenção da imprensa, os tipos móveis aumentaram a nossa capacidade
de comunicação, diminuíram a necessi...
Há um ano
1 comentários:
Olá, pastor!
Um grande abraço e belo texto.
Parabéns!
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