quinta-feira, dezembro 08, 2011

NÃO ACREDITO EM MUITAS COISAS. E VOCÊ EM QUE ACREDITA?


“É tão arriscado acreditar em tudo como não acreditar em nada”  (Denis Diderot)
“A descrença não consiste em acreditar, nem em desacreditar; consiste em professar que se crê naquilo que não se crê. (Thomas Paine)
A maioria das crenças que professei na vida não eram minhas, eram crenças de outras pessoas que me foram impostas como obrigatórias, como requisito indispensável para ser um cristão. Jamais me deram o direito de pensar sobre elas, de duvidar delas e até mesmo de crer nelas de forma diferente. Cheguei à conclusão que eu mesmo não sabia se cria ou não em muitas das minhas crenças, eu simplesmente as repeti, as professei como verdadeiras sem nenhuma análise de seu conteúdo. Como afirmou o filósofo David Hume “os homens não ousam confessar, nem mesmo a seus corações, as dúvidas que têm a respeito desses assuntos. Eles valorizam a fé implícita; e disfarçam para si mesmos a sua real descrença, por meio das afirmações mais convictas e do fanatismo mais positivo”.
Estou convencido de que assim como existe muitas pessoas que continua professando crenças que não lhe pertence e sobre as quais jamais fizeram qualquer questionamento sobre a sua validade, ou seja, muita gente crer em coisas nas quais não tem certeza se acredita de verdade, mas não tem coragem ou desejo de repensar seus credos. Crença é em si mesmo algo tão pessoal que não deveria em hipótese alguma se cogitar em impor a outra pessoa aquilo no qual ela deve crer, a liberdade de acreditar  ou não deveria ser um direito sagrado de todos os homens.
Vencer o comodismo e decidir em que acreditar, em vez de simplesmente aceitar as crenças dos outros, pode ser um exercício doloroso, mas não menos gratificante. Essa busca pode implicar em perdas, muita coisa nas quais se creu pode ser que já não seja possível continuar crendo, e muita coisa que julgávamos indignas de serem cridas podem vir a integrar nossas crenças. Isso é bom ou ruim? Não sei, mas prefiro crer naquilo em que realmente acredito a repetir crenças alheias.
Do ponto de vista da estrutura religiosa imperante, especialmente no meio evangélico, alguém dizer que não acredita em alguma coisa na qual a maioria pensa acreditar, soa como uma grande heresia, como apostasia e desvio doutrinário. Ora mas o que são crenças? Crenças nada mais são que aceitação como verdade de algo que não pode ser provado, ou seja, a crença se baseia no absurdo, no improvável; certeza de que as coisas são assim mesmo ninguém tem e nem precisa ter, afinal é para isso mesmo que a crença serve. Em outras palavras a crença é o instrumento que se utiliza para vencer a dureza da realidade. Ou seja, quando não der mais para argumentar pela lógica basta recorrer ao definitivo “eu creio” ponto, está encerrada a questão.  Como diz T.H. Huxley: “O fundamento da moralidade é [...] renunciar a fingir que se acredita naquilo que não comporta evidências, e a repetir proposições ininteligíveis sobre coisas que estão além das possibilidades do conhecimento”.
De certa forma, vivemos a ditadura da crença, somos levados a crer em coisas nas quais não creríamos em outras circunstâncias, não fomos ensinados a refletir sobre nossas crenças, e, dessa forma, as repassamos para a geração seguinte sem questionar a origem de tais idéias.
As pessoas acreditam nas coisas que gostariam que fosse verdade, dessa forma é levado a rejeitar tudo que contrarie as suas expectativas. Dessa forma, as maiorias das crenças religiosas, das superstições, das crendices manifestadas, são na verdade projeções dos desejos mais íntimos do ser humano. Cremos naquilo que desejamos.
Acreditar ou não acreditar em alguma coisa é sempre uma questão de escolha. O que leva alguém a acreditar ou não em duende, saci pererê, curupira, gnomo, anjo, demônio e tantos outros seres que permeia o imaginário religioso popular. Muitas das crenças professadas no meio evangélico não passam de superstições e são em si mesmo incompatíveis, com uma fé madura que não aceita acreditar em qualquer coisa. Comungo com Diderot quando diz que “É tão arriscado acreditar em tudo como não acreditar em nada”
Confesso que hoje já não acredito em muitas coisas nas quais acreditei no passado, elas já não me satisfazem. Alguém diria perdeu a fé? Eu respondo: não! Apenas abandonei crenças que não me pertenciam para assumir minhas próprias crenças. Eu assumo, já não creio em muita coisas nas quais me fizeram acreditar no passado. E você em que acredita?

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