Nos próximos dias estaremos publicando partes de uma breve reflexão acerca da teodicéia (problema do mal)
(Parte 01)
INTRODUÇÃO
O Problema do Mal é sem dúvida um dos mais intrigantes da teologia, e tem por elemento central discutir o relacionamento entre Deus e o mal, haja vista que muitas pessoas se questionam constantemente: Será que podemos crer em um criador que tanto é bom como é Senhor do mundo material que em sua essência apresenta facetas da maldade. Quando nos deparamos com tantos males no mundo (bactérias, terremotos, pestes, guerras, fome ... etc.), como entender estas coisas em relação com um Deus bom que criou todas as coisas. O problema do mal ainda implica em uma multiplicidade de mal que pode ser dividido em: Mal moral, em que o bem que há na natureza humana é distorcido; o mal situacional, em que as pessoas boas são esmagadas pelas conseqüências das ações de pessoas que fazem da prática do mal uma forma de vida, onde os corruptos prosperam, as oportunidades de se praticar o bem são desperdiçadas; e o mal pessoal, o sofrimento físico e mental que vem por meio de acidentes, enfermidades, pobreza, crueldade, exploração, desapontamentos, desespero. Se Deus fosse bom, mas não soberano, ou se fosse soberano, mas não bom, então a realidade do mal seria compreensível para nós. Mas, conforme muitos argumentam, é incrível que o mal ao nosso redor seja uma realidade, e, apesar disso, Deus seja tanto genuinamente bom quanto genuinamente onipotente e controle todas as coisas.
Procurando responder as estes questionamentos apresentaremos nosso trabalho dividindo-o em 4 capítulos, onde no 2º Capítulo mostramos O Conceito do Mal no prisma Filosófico, Pelagiano, Agostiniano, Maniqueista, Católico e Bíblico; No 2° Capítulo. A Origem do Mal, com base na Bíblia e na História da humanidade; no 3° Capítulo. O Mal e o Homem, antes e após a queda, e no contexto atual; e por fim no 4° capítulo. Apresentamos A Resposta de Deus ao Mal, com base na Morte Expiatória de Cristo.
O objetivo desse trabalho é buscar uma compreensão de forma mais clara que Deus não tem se mantido indiferente para com as aflições da humanidade. A encarnação e a vida terrena do Filho de Deus estavam penetrando nas profundezas do mal, em suas piores formas.
O que não se pode ignorar, é que Deus age de acordo com o seu próprio cronograma e não segundo o nosso. Ele sabe o que está fazendo (2Pe. 3:3-9). Ele saberá o dia certo para a inauguração da nova ordem de coisas, no qual o mal não terá mais lugar. Entretanto, para nós, isso já pode ser uma realidade, basta que admitamos que Deus esteja exercendo neste mundo presente a sua bondade soberana, precisamente a fim de produzir o maior bem possível na presente ordem maligna, embora não saibamos dizer exatamente como isso está sucedendo, então desaparecerá para nós o problema teórico do mal.
1. CONCEITUANDO O MAL
O mal para nós é um enigma, um mistério, percebemo-lo ao nosso redor mas, não o conhecemos na sua profundidade. O mistério do mal não pode ser discernido por nossa inteligência humana e limitada. Poder-se-ia dizer que a idéia da mal é uma das muitas idéias enigmáticas que encontramos na vida. Mesmo assim muitos tentam defini-l o, como mostraremos a seguir:
1.1 - Conceito Filosófico:
Dentre os vários pensamentos a respeito do mal, enumeraremos aqueles que consideramos de maior relevância. Pode-se dizer em síntese, que o mal é a ausência do bem, como o frio é a ausência do calor. O mal nesse sentido, não é um fluido especial; é o negativo do bem, ele se manifesta onde o bem não existe. Forçosamente o mal; não fazer o mal, já é o começo do bem. Deus não quer senão o bem; só do homem vem o mal. Se houvesse, na criação, um ser predisposto ao mal, nada poderia evitá-lo; mas o homem, tendo a causa do mal em si mesmo e tendo, ao mesmo tempo, seu livre arbítrio e, por guia, as leis divinas, evitá-lo-ia quando quisesse. Alguns filósofos apresentam de forma sintética, a questão do mal.
1.1.1 - Otloh de Saint Emmeran - A seu ver, a dificuldade está, não em aceitar que o pecado e o mal entraram no mundo com a queda de Adão, nem na idéia de que o gênero humano inteiro esta em estado de condenação como resultado, mas na desordem da situação presente. Se a misericórdia divina enche a terra, é difícil entender como o homem pode ser afligido por tantos males, também quando a graça de Deus age nele. Otloh "sugere que a vontade de Deus era que os homens não fossem estabelecidos na bondade pela ação da graça, para que permanecessem conscientes do poder do mal e da grandeza do que Deus fez por eles".[1]
1.1.2 - Kant – Considera o mal como algo inexplicável, por ser uma coisa pertencente à esfera super - racional; [2]
1.1.3 - Leibnitz – O mal era fruto das limitações do universo. ensinava que o presente mundo é o melhor mundo possível. A existência do pecado deve ser considerada inevitável. Para ele, as limitações da criatura o tornam inevitável. Ainda que diretamente não acuse Deus de ser o autor do pecado, visto que inocenta o homem, Leibnitz deixa claro que Deus é o autor das limitações do homem, e que estas sim, são a causa do pecado;"[3]
1.1 4 - Schleiermacher - Relacionava a origem do mal aos sentidos humanos,noutras palavras, mostra o pecado como inerente à consciência do homem,não tendo existência objetiva, Mesmo sem o desejar, Schleiermacher faz de Deus o culpado pela existência do pecado, pois Ele é o criador da natureza sensorial do homem, ao tempo em que o homem torna-se inocente, e até vítima do pecado;"[4]
1.1.5- Ritschl - Via o mal como resultado do desconhecimento ou ignorância do homem;[5]
1.1.6 -Barth - Associa à doutrina da predestinação toda forma de mal; [6]
1.1.7 - Urgeschicthe - concorda que o pecado originou-se na queda do homem, mas afirma que a queda não foi um evento histórico, e sim pertencente à super-história. Adão foi de fato o primeiro pecador, mas a sua desobediência não pode ser considerada a causa do pecado no mundo; [7]
1.1.8 - O Pensamento Dualista - Oriundo da filosofia grega, conseguiu penetrar na Igreja Primitiva sob a forma do gnosticismo, e causar considerável estrago. Afirma a existência de um princípio eterno do mal e que o espírito humano é bom e toda maldade reside no corpo. Este ensino retira a responsabilidade do homem na prática do pecado. Na verdade, anula a idéia de pecado, pois afirma que o mesmo é uma necessidade física do homem;[8]
1.1.9 – Baruc de Spinoza - O pecado é apenas um defeito, uma limitação da qual o homem está consciente. Ele mostra que o resultado da consciência do pecado deve à inadequação do conhecimento do homem da eterna e infinita essência de Deus. Conhecesse o homem a Deus num nível adequado, não haveria sequer idéia de pecado. Sendo assim, Spinoza nega todas as distinções éticas e reduz conceitos como "caráter moral e "conduta moral" a frases sem sentido;[9]
1.1.10 - Strong e Mueller - A essência do pecado é o Egoísmo. O homem entroniza seu "ego" em lugar de Deus, no seu íntimo. Daí a razão dos males, de todo pecado. Em relação às idéias anteriores, esta aproxima-se da verdade bíblica, mas apenas em parte. O egoísmo é pecado, mas nem todo pecado é ou provém do egoísmo. O roubo motivado pela fome, a dureza de coração, a incredulidade e a impenitência são pecados, como muitos outros, embora não sejam classificados como egoísmo.[10]
1.1.11 Nietzsche - Propõe pensarmos para além do Bem e do Mal: "Perguntai aos escravos quem é o "mau"? e apontarão a personagem que para a moral aristocrática é "bom", isto é, o poderoso, o dominador" (GM, pref. XI). Então, o Bem e o Mal, dependem da perspectiva e dos interesses de quem julga.
Frases importantes sobre o mal:
Leon Tolstoi: Não faças o mal, e o mal não existirá.
Alfred de Musset: O mal existe, mas nunca sem o bem, tal como a sombra existe, mas jamais sem luz.
Marcel Jouhandeau: O mal é aquilo que não perdoamos a nós próprios.
Goethe: Sou uma parte dessa força que embora deseje o mal, no entanto, origina o bem. O maior mal que pode acontecer a um homem é que ele pense mal sobre si mesmo.
Franz Kafka: Desde que alberguemos uma única vez o mal, este não volta a dar-se ao trabalho de pedir que lhe concedamos a nossa confiança. Depois de ter dado abrigo ao mal, ele não mais pedirá que você acredite nele.
Nicolas Boileau: Quantas vezes o medo que temos de um mal nos leva a outro ainda pior.
Romain Rolland: Não há mal que não possa ser útil a alguém.
Maomé: Suporta o mal com paciência e perdoa, pois há nele grande e verdadeira sabedoria.
Jean de La Fontaine: Não há bem sem mal, nem prazer sem preocupações.
Jean-François Paul de Gondi, Cardeal de Retz: A maior parte dos homens só fazem grandes males por causa dos escrúpulos que lhes provocam os pequenos. Penso que é indispensável fazer um grande mal momentâneo para que venha a ser possível um grande bem duradouro.
Simon Vestdijk: Talvez que o mal no universo não passe de uma censura que Deus faz a si próprio.
Anatole France: O nosso mal é julgar as opiniões humanas pelo prazer ou pela dor que nos causam.
Oliver Goldsmith: Não nos deixemos criar males imaginários, quando sabemos que temos tantos outros reais para enfrentar."
Leonardo da Vinci: "O mal que não me atinge é como o bem que não me dá proveito.
Albert Einstein: O mundo é perigoso não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa daqueles que vêem e deixam o mal ser feito.
Bertrand Russell: Grande parte dos maiores males que o homem tem infligido sobre o homem surgiu de pessoas que se sentiam absolutamente certas sobre algo que, na realidade, era falso.
Christopher Dawson: Assim que o homem decide que todos os meios são permitidos para combater um mal, então seu bem se torna indistinguível do mal que ele começou a destruir.
Edgar Allan Poe: Mas assim como na ética o mal é uma conseqüência do bem, assim, com efeito, da nossa alegria tem nascido a dor.
Theodore Roosevelt: Nenhum homem é justificado em fazer o mal pelo fundamento da utilidade.
Mary Wollstonecraft: Nenhum homem escolhe o mal por ser o mal; mas apenas por confundi-lo com felicidade.
Miguel de Cervantes: O mal é um bem quando vem desacompanhado.
Benjamin Franklin: Pequenos descuidos podem produzir grandes males.
Calderón de la Barca: Que mal não é moral, se mortal é o homem?
Jean-Paul Sartre: O mal só pode ser vencido por outro mal.
Sidonie Gabrielle Colette: Que o mal nos modela, eis uma coisa que temos de aceitar.
Pierre Corneille: Quem de seus males fala, alívio já desfruta.
Victor Hugo: O mal é como as mulas: teimoso e estéril.
[1] R, G. Evans. Agostinho - Sobre o Mal. São Paulo Ed. PAULUS: 1995. p.253.
[2] MARCOS, Antônio A. Paixão. Tese - O Pecado, É Possível Vencê-lo. Aracaju. 1996. p.6.
[3] Id. Ibid., p. 2.
[4] Id. Ibid., p. 2.
[5] Id. Ibid., p. 6.
[6] Id. Ibid., p. 6.
[7] Id. Ibid., p. 6.
[8] Id. Ibid., p. 2.
[9] Id. Ibid., p. 2.
[10] Id. Ibid., p. 3.
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