Esse texto foi produzido pela minha filha e pela importancia decidi compartilhar aqui.
Ficha Técnica
Gênero: Documentário, cor.
Ano: 2006
País: Brasil
Diretor: Sílvio Tendler
Duração: 89 minutos.
Milton Almeida dos Santos: (1996 – 2001
Em seguida, Milton Santos insere na discussão o conceito de Clarividência: a habilidade adquirida de “tentar ver, a partir do presente o que se projeta no futuro”.
Inicia-se a partir do conceito uma discussão que afirma que a visão do que acontece no mundo é diferente, a depender da localização do observador e sua experiência: “O mundo é o que se vê de onde se está”.
É exibido em seguida os primeiros processos de globalização e seus efeitos. A primeira data dos tempos do descobrimento dos novos continentes foi caracterizada pela ocupação territorial e domínio dos povos para o saque de suas riquezas, ignorando sua história e cultura. A segunda globalização começa no século XX, marcada pela fragmentação dos territórios. A revolução tecnológica promoveu a desorganização da sociedade. O humanismo é deixado de lado e o meio para o progresso passa a ser o consumo voraz, no centro das atenções das sociedades e dos Estados.
A partir desse ponto, a estrutura é dividida em sub-tópicos que constroem uma lógica que exibe as contradições e falhas na política da globalização:
Um pouco de Milton: um discurso em que ele diz considerar-se um intelectual outsider, fala sobre as dificuldades de ser intelectual e negro, os motivos de ter escolhido a geografia e seu interesse sobre as comunidades que mudam de lugar e pela história e considera-se um marxista por ser contra a não-discussão de disciplinas, que acabam por se tornar dogmas. Explica também que o mundo está chegando a um estado de saturação, o que torna possível a construção da sociedade mundial de outra forma.
Ignorando a prerrogativa de que o mundo é assim como nos é mostrado, pode-se considerar a existência de três mundos num só: O mundo como nos fazem ver (globalização como fábula), o mundo como ele é (globalização como perversidade) e o mundo como ele pode ser (uma outra globalização). Existem meios de garantir dignidade e igualdade a todos, mas o interesse privado apossou-se de tais meios e escolheu fazer um mundo perverso.
Consenso de Washington - a globalização como perversidade: uma reunião organizada em 1989 formulou propostas para os países retomarem o rumo do desenvolvimento com medidas como aumento de impostos e juros, mas a crise econômica foi única crise que essas medidas visaram evitar. As crises surgiram e se agravaram, e aconteceram rebeliões populares contra as medidas tomadas. As economias foram desestruturadas pelas importações, privatizações e pelo neoliberalismo. Os países que não atenderam ao Consenso experimentaram desenvolvimento crescente.
As grandes empresas não tem proximidade com os Estados e isso lhes permite agir de forma irresponsável do ponto de vista social e moral, desorganizando os territórios onde se instalam. A mão-de-obra é explorada na divisão internacional do trabalho: mais riqueza distribuída aos pobres e mais lucro para os ricos. O desemprego e a pobreza só aumentam, o salário médio tende a baixar, a classe média perde qualidade de vida: “os de baixo, a cada dia mais, trabalham mais com menos direitos”. O desemprego é visto como algo normal e a fome já não surpreende. Além da fome, as empresas planejam privatizar a água e matar os mais pobres também de sede.
Muralhas do capitalismo: enquanto a globalização permite o livre tráfego de mercadorias, comércio e serviços, proíbe o tráfego de pessoas. Os influenciados negativamente pelos efeitos negativos do capitalismo são impedidos de migrar para países onde supostamente as condições seriam melhores. As armas e o controle são avançados para evitar que a imigração ilegal ocorra nas fronteiras entre os países, custando inclusive a vida de quem tenta uma chance.
A fábula da globalização: O homem deixou de ser o centro das atenções, e este passou a ser o dinheiro em seu estado puro, proposta pelos economistas e imposta pela mídia. Davos se torna o símbolo do capitalismo como trilha para o paraíso. Surge o homo-davos, que propõe a criação de fundos para amenizar a pobreza. As notícias são interpretação dos fatos, e são expostos do ponto de vista dos interesses das empresas que controlam a mídia.
A revanche: Outros autores mostram na mídia, com menor alcance, mostrando o cenário a partir da visão a favor do povo, através do cinema, fora ou dentro dos movimentos populares, mostrando a outra face dessa globalização.
A técnica como plataforma para a liberdade: hoje é possível ser universal sem sair de onde se está, e entender como o mundo funciona se houver uma curiosidade um pouco mais aguçada. A rede representa a conquista da liberdade intelectual do indivíduo e a libertação da alienação por parte dos povos mais isolados que tem acesso à informação e podem produzi-la e publicá-la sem passar por intermediários. Pela primeira vez podemos conviver com o futuro possível.
A revanche da periferia: Hoje, com meios limitados, também se faz uma opinião. A aura de “cultura” é dada às atividades desenvolvidas por parcelas já privilegiadas da população. O que é feito pela periferia não é considerado, mas é, também, cultura, por expressar as opiniões daquele grupo. Há uma possibilidade uma revanche da cultura popular, pondo em relevo a vida dos pobres por meio da exaltação do dia-a-dia.
O período popular da história: o período tecnológico está terminando. A mudança na sociedade virá de baixo – das camadas populares, dos países mais pobres, não de maneira uniforme e ordenada, mas em explosões com bastante força e energia, impossíveis de conter. E eles construirão esse novo mundo.
África e América Latina - Os Gigantes despertando: os problemas dos países desenvolvidos foram causados pelos europeus, que agiram dentro do mundo subdesenvolvido como criminosos, influenciando nas relações entre as tribos e grupos, roubando as riquezas e trazendo pobreza, exploração e sofrimento. Seremos caricaturas tristes dos países do norte, vivendo segundo o modelo imposto? Vivemos sendo convencidos que a habilidade de imitar é a maior virtude que há, exemplificados nos símbolos representados pelo papagaio e pelo macaco. Não aprendemos a pensar a realidade por nós mesmos porque preferimos pensar como europeus, resultando alucinados e tolos.
Por uma outra ética: Há uma ética dos poderosos, uma ética dos que não tem nada e uma para aqueles que, desesperados, tomam o caminho da violência. A ética dos que querem mudanças é suprimida pela ética dos poderosos. Há, em grupos como os sem-terra, uma organização e uma solidariedade que não são divulgadas pela mídia, e que podem ser o modelo de uma revolução que virá a acontecer em breve.
Polifonia política: As formas tradicionais de cidadania, sem direito a trabalho e à moradia (que, quando existe fica longe dos centros), não agradam mais às camadas mais populares da sociedade, e as manifestações são o recurso que muitos usam para se fazer ouvir. Há modificações que só podem ser realizadas pelo Estado, porque é o único que tem o poder de cuidar de todos. As outras instituições são limitadas e, quando tentam fazer o papel que deveria ser do estado, acabam por privilegiar um grupo sobre outros. O Estado se torna cada vez mais indispensável, porque as diferenças são mais fortes que antigamente, e mais difíceis de solucionar.
A democracia, como organização, foi esvaziada de sentido e se tornou limitadora, reduzindo o poder do povo a tirar um grupo que não lhe agrade do poder e substituí-lo por outro, que talvez chegue a gostar, e a representatividade perdeu sua força, sendo todas as demais decisões são tomadas em outra esfera, por instituições de base não-democrática, cujos representantes não foram escolhidos pelas bases populares.
Por uma outra globalização: Criticamos as formas de totalitarismo registradas pela história e caímos noutro, onde o comportamento, as ações, devem ser todas iguais, seguindo o mesmo modelo e todo escape é punido, comprometendo o exercício da cidadania. O mundo suprime a verdadeira liberdade. É a carência de liberdade a marca do nosso tempo, que mais cedo ou mais tarde se tornará insuportável.
Como geógrafo e intelectual, o professor criou uma teoria otimista, na qual o sistema que se instalará beneficiará a maior parte da sociedade, e que em sua opinião é realmente possível acontecer: “...estamos fazendo os ensaios do que será a humanidade. Nunca houve”.(Milton Santos)
Milton Santos, em seu relato, em conjunto com as imagens e discursos colocados no documentário, tenta nos fazer acreditar que é possível construir uma lógica de igualdade e democracia, no sentido original da palavra, no futuro, e que estamos caminhando em direção a ela. Uma visão utópica percebida, por exemplo, quando afirma que o período tecnológico acabará, quando a velocidade com que a tecnologia se renova em 2011, em comparação com o período de 2001 a 2006, quando o documentário foi produzido, é muito maior, e tende a crescer. A alienação provinda da dependência das notícias, das informações, a “onipresença” criada pela rede da internet teve impactos maiores que provavelmente Milton Santos previu quando formulou sua teoria, e com o passar do tempo se torna mais difícil e não mais fácil, quebrar essa regra.
link do documentário no youtube: http://youtu.be/-UUB5DW_mnM
Myllena Karla Santos Azevedo
6º Período de Arquitetura – UFALLeia Mais…