segunda-feira, junho 06, 2011

THEOSIS: A DEIFICAÇÃO DA HUMANIDADE (PARTE 3)

A DIVINIZAÇÃO DA HUMANIDADE NA PREGAÇÃO PATRÍSTICA

A expressão petrina “Co-Participantes da Natureza Divina”, embora única em termos de formulação expressa colocando de forma clara a possível participação humana na Divindade, pode parecer estranha aos ensinos do Novo Testamento, no entanto conforme já destacamos, encontra o seu paralelo teológico principal na tradicional doutrina da “Filiação Divina” através do batismo na morte de Jesus. Os Pais Apostólicos não tiveram dificuldades em aceitar este ponto de vista, pelo menos é o que se verifica na pregação de alguns representantes da patrística. A pregação de Irineu expõe esta verdade de forma teológica, onde baseia a filiação espiritual na encarnação, ou seja, na “Humanização da Divinda­de”, conforme lemos: “Esta é a razão pela qual o verbo se fez homem, e o filho de Deus, filho do Homem: para que o homem unindo-se ao verbo e recebendo assim a adoção, filial se tornasse filho de Deus (Adv. HAER III, 19,1, apud COTHENET, 1986, p.65)

A idéia da adoção filial a partir da união com Cristo na pregação de Irineu e muito mais que simples experiência espiritual, assim como a encarnação do verbo foi manifestado na concretude não sendo apenas uma expe­riência docética, que afirmava que Cristo não possuía um corpo carna1, material e que não seria possível a união da Divindade com a humanidade. Tal pensamen­to foi retomado na teologia de Apolinário, pensamento este analisado por Hagglund da seguinte maneira: “Apolinário combatia vigorosamente a idéia que os elementos Di­vino e humano se combinaram em Cristo, que o logos simplesmente se revestiu-se da natureza humana e ligou-se a ela de modo espiritual. (HAGGLUND, 1986, Pg.76)

Esta tese se torna mais forte ainda na pregação de Orígenes, onde encontramos relatos claros nos escritos do apologista de Alexandria acerca do tema. Orígenes fala expressamente da deificação do homem nos seguintes termos: “Com Jesus a natureza Divina e a natureza humana, começaram a se entrelaçar, a fim de que a natureza humana, pela participação na Divindade, fosse DIVINIZADA, não em Jesus somente, mas também em todos aqueles que com fé adotar o gênero de vida que Jesus ensinou e que eleva a amizade a Deus e a comunhão com Ele quem quer que viva segundo os preceitos de Jesus”(apud. COTHENET, op. Cit. p.65)

Não há dúvida de que Orígenes aceitou plenamente a doutrina da Divinização da humanidade como natural e necessária ao processo de salvação está em Cristo e participar da natureza do Senhor é conforme seu pensamento o entrelaçamento entre Cristo e o fiel que o coloca em contato com o processo de participação na Divindade de forma defi­nitiva, esta doutrina foi pregada e aceita pelos apologistas da Igreja.

Da mesma forma Santo Atanásio se apoiou na doutrina da Divi­nização da humanidade para refutar os arianos e sua negação da huma­nidade de Cristo e não é muito pensar nesses termos uma vez que na época esta doutrina havia se tornado tradicional no pensamento de Atanásio a Divinização da humanidade é algo certo e irrefutável, interessante é o seu discurso apologético doutrinário para reafirmar a divindade de Cristo: “Como poderia ele divinizar-nos, se ele mesmo não fosse Deus? a união (da encarnação) foi feita assim para que a natureza Divina se unisse a natureza humana e para que a salvação do homem e a sua divinização fossem asseguradas”. COTHENET, Op. Cit. p.65)

As afirmações e as convicções de Atanásio são de que a Divindade de Cristo é a garantia da nossa divinização, assim como a ressurreição de Cristo e a garantia da nossa ressurreição. Ao refutar os Arianos, Atanásio conclui que a Divinização dos fiéis está assegurada na nossa identificação com Cristo, que Ele de­nomina união entre a natureza humana e a natureza de Cristo. A con­cepção de “Divinização de Cristo” pode ser compreendida pela verifi­cação da posição de Orígenes acerca da relação das duas naturezas em Cristo: A alma de Cristo no seu estado puro, sua alma ingressou em seu corpo, e assim a natureza Divina e a humana se uniram. Mas, dizia Orígenes: “O lado físico de cristo foi progressiva­mente absorvido pelo Divino de modo que deixou de ser homem”. (HAGGLLUND, Op. Cit p. 55 20) A posição de Orígenes nesse sentido fala claramente de uma possível divinização da humanidade na pessoa de Cristo ao afirmar que “o lado físico de cristo foi progressivamente absorvido pelo Divino”, se assim for Cristo seria o protótipo de uma nova realidade na dimensão humano-Divino.

São Thomas de Aquino também fez uso deste argumento na sua teologia da graça. Aquino não demonstra qualquer dúvida ao afirmar: “A graça é uma verdadeira participação na natureza Divina, não enquanto pode ser atingida pela razão como ser subsistente, mas enquanto natureza de Deus uno e trino. A graça nos torna assim participantes da vida íntima de Deus”. (COTHENET, Op. Cit. p. 65 )

Fica claro que os Pais Apostólicos manifestaram claramente a convicção da participação do homem na natureza Divina, No entanto, tudo nos leva a crer que esta convicção foi abandonada pela pregação posterior, ficando esta verdade oculta nos escritos e na pregação do cristianismo ortodoxo atribuindo um tom mais subjetivo ao conteúdo teológico da nossa participação na filiação com Deus. Ao comentar o texto de II Pedro em pauta, a Bíblia de Jerusalém não deixa dúvida quanto ao propósito da abordagem petrina: Em nota lemos: “Expressão de origem grega, única na Bíblia, e que causa sur­presa pelo seu tom impessoal. O apóstolo a empregou aqui para exprimir a plenitude da vida nova em Cristo, isto é, a comuni­cação que Deus faz de uma vida que só a ele pertence”. (Bíblia de Jerusalém, Comentário em Nota de Rodapé de II Pedro1:4,) A nova vida em Cristo, é muito mais que uma concepção teológica destituída de implicações concretas. Para o escritor a nova vida em Cristo nos torna Co-participantes da natureza Divina. Com razão os exegetas da Bíblia de Jerusalém reconheceram que “Está aqui um dos pontos de apoio da doutrina da Deificação dos pais gregos”. (Bíblia de Jerusalém, Nota citada). Conforme descrito a concepção de uma possível “Deificação” marcou a pregação dos pais gregos que viram em II Pedro 1:4, não uma doutrina nova e sim a ratificação explicita daquilo que os outros escritores do Novo Testamento afirmavam em categorias mais próximas ao pensamento hebreu. A doutrina Petrina da Co-Participação na Natureza Divina estabelece uma ligação entre a filiação espiritual com a idéia teológica do novo nascimento e com o pensamento Paulino da nossa união com Cristo conforme lemos: “...o que se une ao Senhor é um só espírito com ele”. (I Cor. 6:17, Versão da Imprensa Bíblica)

Para Orígenes, “existe no corpo um logos spermaticos que é o germe do ressuscitado (…) e ele insiste sobre o nascimento do Cristo em cada um de nós, como em Maria, pois o Cristo deve crescer na nossa alma, como Ele cresceu em Maria. Simeão o Novo Teólogo afirma que os santos se casam com Deus e concebem o Logos nas suas entranhas (…) Para os Pais da Igreja do Oriente (…) para os teósofos cristãos no Ocidente, a verdadeira teologia é a que trata deste novo nascimento. E também para os místicos, que como Angelus Silesius afirmam que É em ti que Deus deve nascer. Se Cristo nascer mil vezes em Belém e não em ti, tu ficarás perdido para sempre” (Denis Labouré, op. cit., p. 8. Merece referência ainda, uma excelente tradução portuguesa do Peregrino Querubínico, com o título de A Rosa sem porquê (Vega), da autoria, entre outros, de José Augusto Mourão.

Por isso, na seqüência do que foi afirmado na globalidade da mensagem do Novo Testamento, a divinização é um movimento ascensional em direção a Deus, teândrico, o Homem é inseparável da Encarnação – descida do Deus/Cristo na carne. Isto é afirmado por Pais ocidentais como Irineu e Agostinho – Dieu s‘est fait homnme pour que l’homme devienne Dieu. Citado por Denis Labouré, Le Christiannisme comme alchimie, op. cit., p. 5.

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