sábado, dezembro 12, 2009

O CÓDIGO SAGRADO: ELEMENTOS DE UMA MAGI-TEOLOGIA PÓS MODERNA

Uma das marcas mais evidentes da religião na era pós moderna, tem sido a busca pela descoberta de códigos, que supostamente abre os segredos milenares que guardam informações criptografadas, conduzindo aquele que os decifrar a tomar posse de informações valiosíssimas e, portanto, a tomar posse de verdadeiros tesouros, no melhor estilo Dan Brow em “O Código da Vinci ou de...em os “caçadores de Tesouros” ou do “Código da Bíblia”, no qual se acredita que a Bíblia possui informações.

Ficção à parte, chegamos ao tempo em que a Igreja se aventura na busca de encontrar esse segredo, alguns conferencistas tem viajado o mundo ensinado as pessoas como se apossar de conhecimentos secretos que abrem as portas para o sagrado. Deus deixou de ser o senhor inescrutável, que age segundo a sua soberana vontade e tornou-se previsível, tornou-se uma marionete que age mediante comandos, frases, palavras mágicas no estilo abracadabra, palavras secretas que uma vez proferidos, abrem as portas da caverna da prosperidade da bênção espiritual e em última análise, da conquista de uma vida farta. Poderíamos intitular a busca de tais “conhecimentos como a procura do “ código sagrado”, ou ainda como “uma chave para Deus” em que consiste esse código.

A OFERTA DECIFRA O CÓDIGO DE DEUS.

Recentemente foi veiculado na Televisão e circula pela Internet, a mensagem pregada por Morris Cerullo, em um dos programas do Silas Malafaia. Em sua mensagem pregada em bom inglês e traduzido para o vernáculo, o citado pregador não teve dificuldade em afirmar claramente que Deus havia revelado a ele um grande segredo. Deus lhe disse claramente que faria algo que jamais havia feito antes, derramaria uma unção de prosperidade sobre as pessoas; acontece que Deus também lhe revelou outro segredo, qual seja a chave para receber essa unção. Segundo ele para ter acesso a tal bênção, era necessário fazer um depósito em uma conta bancária indicada e exibido no monitor da TV, para o ministério do Pastor Silas Malafaia, só depois de feito o depósito Deus derramaria a tal unção. É a queda das máscaras de dois farsantes que insistem em pregar um pseudo evangelho, pregadores de fachada, verdadeiros trambiqueiros, mercadores da fé, que ganham dinheiro vendendo pretensos “segredos divinos” enganando os incautos e lucrando com a miséria alheia.

O JEJUM COMO UMA CHAVE PARA AS REALIZAÇÕES.

Outros buscam no jejum, encontrar a chave que move as ações divinas. O jejum que sempre foi visto como símbolo de tristeza, arrependimento (juntamente com o vestir saco, deitar na cinza, raspar a cabeça, rasgar a roupa) na teologia posterior assumiu o caráter de meio pelo qual aquele que jejua conquista seus objetivos. Não sem motivos, muita gente se entrega a jejuns rigorosos, fazendo da abstinência uma chave para obrigar Deus a atender suas petições. Embora nada de errado em jejuar, há que se entender que jejuns, penitências ou outro exercício espiritual qualquer que seja não abre nenhuma porta para Deus, Deus não age mediante ações programadas. Essa visão teológica da realidade pode ser enquadrada como pura magia supersticiosa, ou magi-teologia, uma mistura entre teologia e magia. De nada adianta negar o alimento ao corpo, isto não fará qualquer diferença na manifestação do sagrado, pelo simples fato de não existir uma chave para desvendar os segredos de Deus.

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sábado, novembro 28, 2009

MERCADORES DE ILUSÕES

Vivemos um tempo de profundas contradições; uma verdadeira simbiose entre a loucura e lucidez. Verificamos, no presente, que de um lado prolifera o fanatismo religioso, o radicalismo teológico e consequetemente a infantilidade, reduzindo a experiência religiosa a uma espécie de cativeiro eclesiástico. Por outro lado, assistimos a multiplicação de movimentos religiosos que transformam o cenário da religiosidade brasileira em um verdadeiro palco, onde hábeis ilusionistas se apresentam, transformando a espiritualidade numa panacéia capaz de resolver todos os problemas; e a oração, numa cornucópia de onde jorra a realização de todos os desejos, desde os mais sinceros aos mais voluptuosos. Nesse cenário, a religião deixa de ser algo a busca pelo sagrado e em última instância o encontro com o outro que caminha ao nosso lado; ou ainda o desejo de desenvolver e aperfeiçoar as mais sublimes virtudes inerentes ao ser humano; ela se torna o meio mais fácil de realização de desejos incontidos, através de atitudes egoístas de pessoas que buscam apenas se locupletar utilizando para isso de forma infame e perversa, a miséria alheia.

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terça-feira, novembro 10, 2009

SAIA CURTA, SAIA JUSTA, VIOLÊNCIA E TRAPALHADAS: AS ANTI- LIÇÕES DA UNIBAN

Não pretendia escrever sobre esse episódio teatral que pelas lamentáves cenas já poderia ser chamado de “A novela da saia curta”. Resisti o quanto pude na esperança de que não viesse a passar de um incidente envolvendo jovens e adolescentes de uma universidade, até aí, algo aceitável.

Surpreso eu fiquei com a falta de habilidade dos dirigentes da citada instituição, ao lidar com o assunto, transformando um copo d’água numa tempestade, dando uma demonstração pública de incompetência, e preciosas lições daquilo que não se deve fazer no contexto educacional. Causa espécie, ver que pessoas pelo menos aparentemente tão bem formadas, sejam capazes de trapalhadas jurídicas tão infantis, a ponto de dá inveja ao Chaves e ao Kiko, sem querer ofender os dois.
De qualquer forma, vamos tirar algumas lições desse verdadeiro imbróglio na qual se meteram os dirigentes da Uniban.
Saia curta não pode, ela atenta contra a moral e os bons costumes da universidade. Garotas decentes não vestem saia curta, isso provoca reação de uma comunidade que ainda vive na idade média, alheia à realidade que os cercam. Os alunos da Uniban (e não são todos tem gente boa e educada nesse meio) se parecem mais com alunos de uma universidade Talibã, localizada no coração do Afeganistão. Que tal adotar a Burka como farda para todas as alunas? Isso com certeza deixaria os Aiatolás da Uniban com suas consciências tranqüilas. Santa hipocrisia.
A segunda lição é: Violência e intolerância podem. Parece que o regimento interno da famigerada instituição se esqueceu de acrescentar além da preocupação com a falsa moralidade, também o respeito para com a liberdade dos outros. Parece que esta aula os dirigentes faltaram. O Brasil é um país democrático, as pessoas tem direito de se vestir como bem entenderem; e ainda que seja tolerável a restrição em determinados ambientes, isso deve ser feito dentro dos limites da lei, respeitando a Constituição Federal, mas parece que este documento também é um ilustre desconhecido na Uniban.
Não se pode aceitar que pessoas sejam hostilizadas, achincalhadas, ridicularizadas, agredidas, e finalmente julgadas ao arrepio da lei e sentenciadas a expulsão sumária sem direito de defesa. Doe ver um advogado na televisão tentando explicar o inexplicável. Parece que estou diante do conto infantil Alice no País das Maravilhas que narra a história de um estranho julgamento que submeteu Alice a um Júri Popular.
A presidenta do Júri era a Rainha de Copas, que tinha escolhido também os membros do Conselho de Sentença. Alice respondia pelo crime de lesa-majestade, sem ter idéia do que se tratava, enquanto que a Juíza era sua própria inimiga.
Composto o Júri, a juíza grita: "Cortem a cabeça".
Alice protesta: " Mas, e o julgamento?"
A presidente do Júri, responde: " Primeiro a sentença e depois o julgamento".
Por Falar em saias, no final, de um atrapalhado processo de expulsão e revogação, que bem poderia inspirar um filme do Renato Aragão; os dirigentes da Uniban vestiram SAIAS JUSTAS, nem curta nem longa (para não dar problemas), sendo este até agora o último ato dessa verdadeira comédia educacional. Parece que nesse vestibular, os dirigentes e a própria universidade foram reprovados. Santa ignorância.

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sábado, novembro 07, 2009

UM MUNDO ESTRANHO

Descobri que o mundo é mesmo estranho.

As pessoas não se entendem;

não se gostam;

não se aceitam; nem gostam das outras;

não aceitam as outras, nem entendem as

outras;

nem são entendidas, nem aceitas;

nem aceitam serem aceitas.

É esse é mesmo um mundo estranho!!

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SOBRE MORANGOS, CHOCOLATES E DESEJOS

Contrariando aquilo que possa parecer, os morangos não são frutas, são flores; o verdadeiro fruto é a semente amarela que fica incrustada na superfície da parte carnosa e historicamente exerce certo fascínio, verdadeira atração sobre os nossos olhos.
De certa forma eles representam prazer, despertam desejos secretos e estimulam a libido inconsciente da raça humana. Mais do que o sabor, é a sua beleza, o seu formato, a cor e o cheiro inebriante que faz dessa flor o que ela é e que lhe confere essa particularidade. Em sentido mais restrito, ele estimula a imaginação e provoca verdadeiros êxtases nos amantes.
E o que dizer do chocolate. Ele é uma verdadeira iguaria; produto do fruto do cacau, quase uma unanimidade quanto ao sabor e ao prazer que provoca. Sua variedade no mercado é tão grande que se torna impossível qualquer tentativa de enumerar os tipos existentes e assim, em forma de bombom, sorvetes, musses, etc., fazem a alegria dos amantes desse verdadeiro néctar dos deuses.
A mistura entre morangos e chocolates representa o ápice do estímulo aos sentidos sensoriais que controlam a libido. Se aqueles tocam os olhos, este atinge diretamente o paladar, e realiza um dos maiores prazeres da vida... O prazer de comer.
De certa forma todos nós somos atraídos pelo desejo, somos seres volitivos, amamos tudo aquilo que nos proporciona o deleite. Querendo ou não os prazeres são ilhas de felicidade que se renovam cada vez que se repete. Nossos sentidos são talhados para captar aquilo que seja prazeroso; os olhos captam o belo, o arrebatador, aquilo que seja admirável. Os ouvidos percebem os fenômenos acústicos, os sons que nos agradam, melodias que nos embalam, e para isso muitas vezes, um sussurro já é suficiente.
E o paladar... Quanto prazer se esconde embaixo do sabor das coisas, sensações quase orgásticas que promove a satisfação. A vida é feita de sabores e dissabores; o sabor da vitória contrasta com o gosto amargo da derrota; Os relacionamentos são em essência agridoces; conquistar alguém pode ter um início doce e um final azedo, faz parte da vida. O tato recebe e promove o prazer pelo contato, e quanto prazer pode está em apenas um toque. Toda a nossa pele é revestida de sensores altamente sensíveis e sensitíveis, capazes de apreender a brisa do vento e o seu frescor; o olfato carrega consigo a estonteante capacidade de distinguir os mais diversos odores, rejeitando aqueles que agridem e se apropriando dos aromas aprazíveis. A fragrância de um perfume, aguçando a imaginação; o cheiro de alguém, incitando desejo; o cheiro da comida, estimulando o apetite.... Comer morangos, apreciar chocolates e viver os desejos, são três lados de uma única moeda. Abrir a imaginação soltar as asas e voar com ela pode ser uma experiência simplesmente excitante. Experimente!

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quinta-feira, novembro 05, 2009

A SEDUÇÃO DO MUNDO ENCANTADO

A idéia do encanto permeia o imaginário coletivo da raça humana, talvez uma espécie de neurose primitiva, uma fantasia retardada que existe em todos nós. Desde cedo ouvimos falar de floresta encantada, reinos encantados, animais e princesas que vivem em castelos encantadas; príncipes que subsistem em forma de sapos e que são desencantados com o beijo da princesa amada; fadas madrinhas que realizam sonhos, duendes, elfos, bruxas, magia, feitiços, mistérios e segredos milenares. Basta uma história que envolva a idéia do encanto e o sucesso é garantido. A priori, não há nada de errado com isso, afinal a fantasia cumpre um papel importante em nossa fase infantil; o problema é quando essas imagens e fantasias perduram na idade adulta, lançando o ser humano em um mundo povoado de seres encantados que jogam com o nosso destino e de certa forma passa a decidir a vida das pessoas aqui e agora.

Podemos dizer que o encanto do mundo se manifesta na crença de anjos, arcanjos, demônios, querubins, serafins e demais entidades que habitam o mundo religioso. A crença em tais seres nos coloca em contato com esse mundo mágico, repleto de segredos que desafiam a nossa imaginação. Somos seduzidos pela idéia de que para além da realidade visível, existe um mundo encantado, de seres invisíveis que apesar de não vermos são reais. Viver nesse mundo irreal é deixar de viver a realidade com todas as suas implicações, é viver em mundo de quimeras.

Reconheço não ser fácil quebrar esse encanto, ele exerce fascínio sobre todos nós, de forma que muitas vezes é preferível viver num mundo ilusório a encarar a realidade. Despovoar o mundo dos seres encantados que criamos é uma tarefa que exige muito esforço de cada um de nós. Quebrar o encanto do mundo é adquirir uma visão adulta da realidade e deixar a fantasia do encanto para o universo infantil; só assim, poderemos desfrutar a delícia de viver o verdadeiro encanto de apreciar o mundo com toda sua beleza, sabores e magia. De gozar os prazeres que a vida nos oferece e desprezamos passando a viver prisioneiros de nossos castelos assombrados pelas bruxas que habitam em nosso inconsciente.

Em outras palavras se quisermos viver encantado com mundo precisamos ter coragem e determinação para deixar o mundo encantado.

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sexta-feira, outubro 30, 2009

O ANTÍDOTO PARA OS SONHOS FRUSTRADOS

A despeito do triunfalismo romântico enfatizado com estardalhaço em certas áreas dos escritos de auto-ajuda, da necessidade que temos de acreditar no sucesso, devemos refletir com lucidez acerca de um tema não muito agradável: a FRUSTRAÇÃO DOS SONHOS. Todos nós já tivemos, em algum momento da vida, expectativas que não se concretizaram, planos que não foram levados a termo e desejos que jamais saíram do campo das intenções. Todos nós já tivemos em algum momento nossos sonhos frustrados.

O fato de cultivarmos uma fé genuína de que nada de mal vai nos acontecer, não evita que experimentemos frustrações e fracassos pessoais inesperados. Uma das causas das nossas frustrações são as fantasias e idealizações forjadas por nós mesmos, algumas verdades sobre isso podem ser elencadas da seguinte forma:

Os sonhos se frustram toda vez que nos iludimos que na vida tudo ocorrerá como desejamos. Nada mais ingênuo do que achar que basta planejar bem para que tudo aconteça a contento. Sabemos que, as vezes, preparamos tudo, projetamos com cuidado, e basta um detalhe para que tudo vá por água abaixo. Há situações na vida que foge ao nosso controle, e a ansiedade surge exatamente neste ponto: quando descobrimos que as circunstâncias da vida não se encontram sob nosso total comando.

Como diz o poeta, “a vida vem em ondas”, e com elas também, as intempéries e os reveses: A seca mata a plantação, a enchente inunda a casa e leva os móveis e muitas vezes a derruba fazendo vítimas; a fábrica vai à falência e demite os funcionários provocando desemprego; uma doença imprevista se manifesta e com ela muitos sonhos e projetos se frustram.

Como sugere Tiago, não temos garantias de sucesso em nossos projetos pessoais: "Eia agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, lá passaremos um ano, negociaremos e ganharemos. No entanto, não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois um vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece. Em lugar disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. (4.13-16).

Aprendemos assim que os nossos planos e projetos são rigorosamente falíveis. A questão é o que fazemos com as nossas frustrações.

Algumas pessoas se tornam vítimas de suas desilusões e arrasta pela vida afora os erros e os fracassos vividos; se tornam vítimas de refém do seu passado. Muitos vivem recalcados e amargurados, reabrindo feridas antigas que continuam a sangrar. Lembre-se que somos nós quem cultivamos ou não coisas boas ou ruins e que na vida colhemos exatamente o que plantamos.

Encare os fracassos de forma positiva. Ninguém é um derrotado até que se sinta assim. Por maiores que sejam os seus dilemas, eles durarão o tempo que você quiser que durem. O lado bom das coisas ruins é que elas passam, e o lado ruim das coisas boas é que elas também são passageiras. Não existe vitória que dure para sempre e não existe derrota que perdure eternamente.

Cultive um espírito positivo. Sorria, acredite na vida, encare as derrotas de forma pedagógica, cada fracasso tem suas lições, e podemos aprender mais com os erros e com os fracassos do que com as realizações. Lembre-se a derrota de hoje, a frustração de agora pode ser o caminho para uma grande vitória amanhã.

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terça-feira, outubro 27, 2009

A VIDA NOS PALCOS DA EXISTÊNCIA

Vivemos em um mundo marcado pela cultura do simulacro, do teatro, das representações. De certa forma somos todos atores, estamos no palco representando papéis. Somos heróis e vilões, mocinhos e bandidos e às vezes palhaços. Quem somos depende do enredo, do script a ser seguido em cada personagem que encarnamos na vida, a vida não passa de uma grande novela, um filme ou seria um reality show? Quem é você? Quem sou eu? Quem somos nós? Nesse set de filmagem? Se olharmos com sinceridade talvez nem nos reconheçamos diante do espelho. Estamos tão travestidos, tão envolvido pelo personagem que representamos na vida que já nos esquecemos de ser quem realmente somos. De certa forma nos tornamos uma caricatura de nós mesmos.

Ser quem realmente somos, é um desafio que muitos já não se arriscam a enfrentar (e talvez com razão) As pessoas não nos aceitam como somos; preferem que sejamos como elas querem, conforme nos idealizam. Já não há lugar para aqueles que desejam ser autênticos, que se assumem com os todos os seus predicados, defeitos e qualidades. Agir assim é transgredir as sagradas regras do nosso tempo isso é um pecado imperdoável e o resultado pode ser a expulsão do paraíso.

Na novela da vida, ama-se a hipocrisia, a mentira e a fantasia. Preferimos as coisas ensaiadas, as palavras decoradas, os gestos repetidos, tudo como manda o figurino. Se agimos assim recebemos aplausos honras e louvor; caso contrário somos dignos de vaias e de críticas da platéia que julga a nossa atuação.

Eu decidi. Vou representar outro papel, quero ser eu mesmo; afinal, não somos super heróis, vida não é um programa e não passa na televisão.

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domingo, outubro 25, 2009

UMA MENSAGEM PARA VOCÊ NO DIA DE HOJE

Uma coisa já está decidida; você é alguém importante. Aprenda a se amar, sem se tornar egoísta; lembre-se ninguém merece mais o seu amor do que você mesmo. Aprenda a se cuidar sem se tornar narcisista. Afinal, o prazer de se sentir bem, não tem preço.

Você tem um valor, e esse seu valor não pode ser medido monetariamente; você vale pelo que é não pelo que tem. De forma que você pode ter sem ser e também pode ser sem ter, a escolha é sua.

Cuide bem das suas emoções. Não alimente o ódio, o rancor, o desejo de vingança, a tristeza, amargura, a ansiedade e o desgosto. Vencer os sentimentos negativos é uma questão de atitude. Lembre-se ninguém pode fazer você infeliz, a não ser você mesmo.

O dia de ser feliz é hoje. Não espere para amanhã ou para ser feliz na eternidade. A felicidade é um sagrado direito que você tem. Ela não depende de conquistas nem de realizações; lembre-se sempre haverá uma nova conquista a ser alcançada, e a sua felicidade pode ser adiada indefinidamente.

As melhores coisas da vida são aquelas que possuímos. Muita gente se esquece de agradecer pelo que possui, e prefere sofrer pelo que não tem. Se você tem saúde, pode enxergar, consegue andar, ouvir, falar, ler esse texto, tem apetite; você é um afortunado e tem muito para agradecer. Muita gente daria tudo para possuir o que você tem.

Não lamente os erros cometidos, os amores perdidos, os sonhos frustrados, os projetos irrealizados. Não se julgue nem se condene. Seja paciente e se possível, indulgente com você mesmo. Lembre-se que você é um ser humano e nessa condição tem o direito de falhar. Não esqueça que amanhã será um novo dia e novas oportunidades nascerão para todos.

Liberte-se de seus medos. As maiores e piores prisões da vida são interiores. Elas aprisionam a alma, acorrenta os sentimentos, e encarceram os sonhos. O medo de cair nos impede de voar, e o medo errar aborta o desejo de tentar. Libere-se para a vida, arrisque-se um pouco mais, aceite novos desafios. A liberdade é uma questão de espírito, ela se manifesta dentro de nós.

Hoje pode ser o dia de mudar. Faça uma autoanálise, defina seus sonhos, arrume o armário, compre novas roupas, compre novos sapatos, mude o cabelo, troque seu estilo... Faça algo novo, realize aquele velho desejo que nunca teve coragem de viver.

Isso pode dar certo, mas se não der... se alguma coisa sair errada. Não lamente, recomece outra vez, mas tenha cuidado de fazer diferente. Afinal não há razão para que a vida se repita.

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sábado, outubro 24, 2009

PARA JAMAIS ENVELHECER

Uma das coisas mais difíceis que enfrentamos na vida é o desafio de envelhecer. Ainda não cheguei a este ponto da minha caminhada, no entanto, tenho me preparado para que de certa forma a velhice jamais me alcance. Considero um grande privilégio envelhecer, conquistar uma vida longeva, e cheia de experiências; o problema é quando a velhice alcança atinge não apenas a dimensão física (fato natural), mas torna senil a psique, as emoções; quando isso acontece a velhice passa a ser uma dura realidade que vai além da mera cronologia.

Mesmo correndo o risco de errar, de ser tachado de petulante ou de querer dar conselhos a que já viveu bem mais do que eu (o que bem pode ser verdade) me arrisco formular algumas orientações para jamais envelhecer:

NÃO DEIXE A NOSTÁLGIA DOMINAR O SEU PRESENTE: Muitas pessoas envelhecem porque jamais conseguem se desvencilhar do passado; a certa altura da vida passam a olhar para trás numa atitude nostálgica e dessa forma se esquecem de viver o presente. O que envelhece as pessoas não são os anos conquistados e sim os perdidos. O sentimento de ter “perdido” primeiro a infância, depois a adolescência, e finalmente a juventude é um passo para perder a fase da maturidade. Viver uma fase de cada vez sem sentimentos de culpa pode ser um caminho para nunca envelhecer.

NÃO TENTE EVITAR QUE OS JOVENS COMETAM ERROS. Uma das coisas mais desgastantes da adultícia é a neurose que domina as pessoas de querer impedir que os jovens cometam os mesmos erros que se cometeu no passado. Deixe que as coisas sigam seu rumo, alcançar uma idade avançada não transforma ninguém em xerife do mundo. Tal atitude torna o adulto rabugento intransigente e acelera processo de envelhecimento.

CULTIVE UMA ATITUDE POSITIVA EM RELAÇÃO AO FUTURO. A coisa mais importante não é quanto tempo ainda resta para viver. A vida não é uma questão de quantidade de dias, na vida a qualidade é mais importante. Lembre-se que viver é uma conquista e só se vive um dia de cada vez. A pior velhice é aquela que anula o prazer de viver e destrói a vontade de sonhar.

Para nunca envelhecer é preciso, pois manter uma atitude positiva em relação à vida, deixar o que passou e acreditar no amanhã, aceitar que se cometam erros e de vez em quando se permitir errar também.

Eu estou plenamente convencido que não se pode parar o tempo, mas que é possível evitar o envelhicimento.

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terça-feira, outubro 20, 2009

MEU CANSAÇO

Talvez essa confissão soe estranha para alguns, mas preciso confessar: eu estou cansado. Algumas coisas já não me motivam, já não tenho disposição para continuar andando em determinadas direções. Devo informar que meu cansaço não é físico, e quem dera fosse; ele seria facilmente vencido com um bom banho, uma dose de descanso e um sono reparador. Não! Não é este o meu cansaço. Na verdade eu cansei de algumas coisas que para mim perderam o sabor e já “não me interessam mais” (Jeyson Messias).

Cansei dos discursos políticos. Eles são repetitivos e enfadonhos. Todo ano é a mesma cantilena, a velha conversa da sociedade mais fraterna, humana e igualitária; da Saúde, educação de qualidade, da segurança e do emprego para todos. Sequer se dão ao trabalho de mudar o discurso, fazer uma revisão, inventar outros termos para enganar os incautos. Já não tenho paciência para ouvir tanta demagogia, tamanha hipocrisia travestida de projeto político, tudo isso é uma grande mentira. Isso me cansa me enoja e provoca repulsa; só de ouvir já sinto um desânimo generalizado. Cansei! Não acredito nessas coisas; tudo isso não passa de uma grande balela, conversa mole para adormecer bovinos. Na verdade vivemos em uma sociedade egoísta, e cada um se preocupa apenas com o seu bem estar pessoal. Eu confesso, estou enfadado de tudo isso.

Estou cansado do falso moralismo que impregna a nossa sociedade. Já não tenho paciência para ouvir as frases feitas para sustentar a mentira e o preconceito que permeiam as mentes de pessoas sem escrúpulos. Cansei desse embuste de atitudes fingidas. Precisamos de mais ética e menos moralismos, mais aceitação e menos preconceitos.

Eu cansei de religião. Já não tenho disposição para as velhas querelas envolvendo o certo e o errado, o sagrado e o profano, vida espiritual e vida secular, mundo e igreja, Deus e o Diabo, da velha luta cósmica entre o bem e o mal, enfim, desse “mundo assombrado pelos demônios” (Carl Segan). Todos esses clichês já deram o que tinham de dar e já é tempo de mudar o vocabulário que a bem da verdade já está obsoleto.

Cansei dos formalismos religiosos, dos jargões e dos muitos chavões que permeiam toda e qualquer conversa sobre a realidade espiritual. Já não vejo razões para insistirmos nessa caminhada, estou convencido que essa estrada não vai dar em nada. Cansei daqueles que acreditam possuir o monopólio de Deus e se dizem despenseiros de seus mistérios. Prefiro crer que “Deus é como um pássaro encantado que nunca se vê. Só se ouve o seu canto” (Rubem Alves) e que uma das mais sutis formas de se conhecer a Deus é pelo sentimento (Schleiermacher). A afirmação Nietzcheana de que “Deus morreu” e que as “Igrejas são túmulos de Deus” talvez se sustente, pelo fato de que insistimos em falar de um Deus estático, apático imóvel e preso ao passado, e em última análise, um deus morto. Estou entediado e afirmo o contrário; Deus é eclético, dinâmico, é um ser em movimento e o tempo todo em constante mutação. Não acredito que divindade se harmonize com estatismo, com a imobilidade e com a repetição. O divino se caracteriza pela inovação; não existem dois homens iguais, nem duas flores com as mesmas características; não encontraremos duas aves que sejam exatamente idênticas e assim por diante. Deus faz todas as coisas novas. A marca da divindade é a heterogeneidade.

Eu também cansei de verdades absolutas. Já não tenho disposição para continuar ouvindo aqueles que acreditam serem possuidores de uma verdade absoluta. Em nome dessa crença muita coisa feia e nojenta foi feita dentro e fora das religiões. Acho sinceramente que toda verdade é dinâmica e mutante; uma boa verdade se metamorfoseia se encasula, se engravida para produzir novas verdades. Nada mais depressivo que uma verdade empoeirada, cheirando a mofo, verdade essa que pelo tempo já cumpriu o seu papel, e já não passa de “casca de cigarra vazia no tronco da árvore”; prefiro uma verdade mutante, enérgica e beligerante, ela é “a cigarra em movimento” (Rubem Alves).

Já não aguento a senilidade de algumas imagens cultivadas em nosso meio. Cansei dessa santidade abstrata, doentia e deformada que encontramos por ai. Já não acredito nesse tipo de espiritualidade, ela na verdade não passa de mera religiosidade e serve apenas para iludir a mente daqueles que preferem viver num mundo de fantasia. Creio que a verdadeira santidade se caracteriza pela humanidade; quanto mais espiritual alguém é, mais humano ele se torna. Por outro lado, proclamo uma matemática inversa, ou seja, quanto mais espiritual, menos religioso e vice versa. Prefiro mais a confissão sincera do pecador assumido do que a oração do santo travestido, até porque Deus não nos ouve, ele “vê secretamente” Mat. 6:6. Não posso negar, essas coisas me cansam.

Depois de chegar aqui há que se perguntar... e agora José? Bem, o lado bom desse cansaço emocional é que o refrigério se encontra exatamente aí, na disposição de olhar em outra direção, para novos horizontes e contemplar que existe ainda um longo caminho a percorrer. Eu vou andando, afinal, nada mais restaurador do que a certeza de estarmos iniciando uma nova jornada.

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sábado, outubro 17, 2009

OS FRADES, AS FORMIGAS E OS SEM-TERRA

As crônicas do século XVII dos Frades Menores da Província do Maranhão relatam um estranho litígio. Foi o caso que naquela Capitania as formigas, muito numerosas, muito grandes e daninhas estenderam seu reino subterrâneo por debaixo da despensa dos frades, furtando a farinha da comunidade, e ameaçando os fundamentos da casa. Os Frades temeram pelo pão cotidiano por causa da multidão organizada e laboriosa das formigas. Por isto planejaram uma repressão eficaz. Mas, diante da solução final proposta, um religioso lembrou que seu Seráfico Patriarca São Francisco chamara todas as criaturas como irmãs: irmão sol, irmão lobo, irmã andorinha, etc. Não deveriam eles agora ter uma convivência pacífica com as irmãs formigas, em vez de buscar exterminá-las? E o devoto religioso propôs instaurar um tribunal perante a Divina Providência, em que eles fossem autores e as formigas rés. O Juiz seria o Prelado que, em nome da suprema equidade, ouvisse as processadas. Esta proposta agradou aos discípulos de São Francisco, e o Procurador dos Frades abriu libelo contra as formigas.
Por parte dos Frades, o argumento dizia que eles, conformando-se com as leis de seu instituto mendicante, viviam de esmolas, ajuntando-as com grande trabalho pelas roças daquele país; e que as formigas as roubavam; e não somente procediam como formigueiros ladrões e invasores, mas ainda com manifesta violência pretendiam expulsá-los de sua casa, arruinando-a. Por isto voltassem à razão ou fossem exterminadas com algum ar pestilento, ou afogadas com alguma inundação, ou exterminadas para sempre de outra forma qualquer. A isto veio contestando o Procurador daquele negro e miúdo povo, alegando que as formigas, uma vez recebido o benefício da vida por seu Criador, tinham direito natural a conservá-la pelos meios de que dispusessem. E que estes meios, que o Senhor lhes permitira, eram virtuosos. A saber: buscando alimentos, garantiam a sobrevivência futura, cumprimdo o mandamento do Criador "crescei e multiplicai-vos"; ajudando umas às outras, eram caridosas; donas de suas terras, davam sepultura digna a seus mortos. Além disto, o trabalho das formigas era muito superior ao trabalho mendicante dos Frades, pois a sua carga, muitas vezes, era maior que o corpo, e o ânimo maior que as forças; concordavam as formigas que os frades eram irmãos mais poderosos, mas perante Deus também não passavam de formigas. Embora racionais, muitas vezes haviam ofendido o Criador, não observando as leis da razão, como elas observavam a lei da natureza. O fato de os frades, tantas vezes, não usarem a razão desolava muito mais a Deus do que as formigas furtarem a sua farinha. E, por sinal, as formigas estavam de posse daquele sítio, já mesmo antes de a Ordem dos Frades ter sido fundada. Portanto, as formigas não deveriam ser esbulhadas das terras que o Criador lhes dera, nem sujeitas à violência. Por fim o Procurador das formigas concordou que os frades defendessem sua casa e sua farinha com os meios humanos de que dispusessem, mas que elas haveriam de continuar com suas diligências, tendo em vista que do Senhor e não dos Frades era a terra, e tudo o que ela produzia.
Diante das réplicas e tréplicas, o Procurador dos Frades se sentia apertado, pois a contenda, uma vez reduzida ao simples forum das criaturas, abstraindo de poderes e razões históricas, e de motivos contemplativos, demonstrara que as formigas não estavam destituídas de direito. Pelo que o Juiz, com ânimo sincero de equidade, deu sentença, obrigando os frades a sinalizar, dentro de sua cerca, sítio competente para a vivenda das formigas; e que elas, sob pena de excomunhão, logo se mudassem para lá. Havia lugar mais que suficiente para ambas as partes se acomodarem nestas terras. Assim os frades cumpriram em paz seu estatuto, e as formigas trabalhariam garantindo sua sobrevivência.
Consta nas crônicas que a sentença do Juiz se cumpriu, como por milagre, tanto pelas leis da razão como pelas leis da natureza. Os Frades deixaram de temer a ruína de sua casa e o saque de seus celeiros; as irmãs formigas sentiram-se aliviadas das ameaças de extermínio. Maravilha do Senhor!
Como a questão dos sem-terra acontece 300 anos após o curioso litígio entre os frades e as formigas do Maranhão, qualquer semelhança entre posseiros e possuidores de terra do nosso tempo é pura conjetura. Mas, não será verdade que a terra é de quem a trabalha, e que o Senhor a constituiu para o bem de todos os homens? Com justa equidade há lugar e terra para todos os brasileiros em nosso vasto território. A parábola dos frades e das formigas, no mínimo, merece reflexão, embora Frades não sejam latifundiários, nem sejam da UDR, e os sem-terra não sejam formigas.

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Inácio Strieder é Professor de Filosofia da UFPE

Inácio Strieder é meu professor no Mestrado em Ciencia das Religiões, achei o texto apropriado e resolvi divulgá-lo aqui.

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quarta-feira, outubro 07, 2009

A NEUROSE DO PARAISO PERDIDO

O tema dessa reflexão é uma contribuição de Pierre Weil, foi assim que ele intitulou um de seus livros. O citado livro me encantou pela leveza com que fala de realidades psicológicas tão intensas que ocupam o imaginário da raça humana envolta em seus dilemas.

Na verdade, parece que de uma forma ou de outra todos nós temos uma certa neurose pela idéia de um paraíso perdido, um lugar paradisíaco de onde fomos expulsos e para onde anelamos voltar. Talvez seja um sonho oculto, interiorizado desde a mais tenra idade em nosso ser; ela ocupa a nossa imaginação nos fazendo sentir culpados pela sua perda. Como seria bom se pudéssemos voltar ao paraíso? Qual o caminho para esse lugar de delícias? De certa maneira consciente ou inconsciente acredito que todos nós já nos sentimos órfão desse lugar paradisíaco.

Não vejo problemas em sonhar com um lugar assim, afinal a fantasia faz parte da vida de todos nós e não custa nada sonhar. O problema é quando a idéia do paraíso vira neurose e passamos a viver com olhos voltados para um passado imaginário acreditando que um dia de lá fomos expulsos, quando a nostalgia do Jardim do Édem assume um caráter psico-histórico, adotando um tom melancólico, representado pela eterna perda da liberdade; e aquilo que deveria ser um sonho passa a existir como fantasia, como ilusão e delírio, nos impedindo encarar o presente, de olhar para frente como forma de perseguir na busca de novos ideais.

De onde vem essa obsessão pelo paraíso perdido? Talvez esteja no inconsciente coletivo da ração humana, ela permeia o horizonte de quase todas as religiões e ainda persiste nas culturas modernas. Creio que essa neurose obsessiva funciona como um desejo invertido, ela representa um ideário de uma sociedade perfeita, um projeto de plena realização humana uma quimera impossível. A pergunta que resta é uma só; o paraíso terrestre é saudade ou esperança? Ele esta no passado ou no futuro de todos nós? Em última instância, a neurose do paraíso perdido não seria também a neurose de um paraíso desejado e jamais alcançado. Estou convencido de que o paraíso é produto de nossos desejos, ele é perdido ou encontrado todas as vezes que olhamos para além do imaginário, para a concretude da nossa existência, é lá que o paraíso se encontra, ou não. Permanecer ou ser expulso do paraíso é simplesmente o dilema de curtir ou perder a liberdade.

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terça-feira, outubro 06, 2009

DA SANTIDADE PROFANA AO PROFANO SAGRADO

Sei muito bem que num primeiro momento esse título não parece plausível. As contradições que apresenta são em si mesmo sinais de que alguma coisa pouco ortodoxa se afigura.

A marca da santidade sempre se apresentou como distinção de tudo aquilo que permeie a esfera do profano, sendo que os dois termos até mesmo são auto-escludentes, não podem permanecer no mesmo espaço sob hipótese nenhuma. Por outro lado, tem-se por certo que na ótica da religião, tudo que for profano é essencialmente mal, ao contrário tudo de bom tem o selo do sagrado. Talvez numa atitude de revanche o materialismo, mesmo sem se ater aos termos supra, proclamou a superioridade do profano sobre o sagrado, decretando a nulidade da religião com seus símbolos e congêneres.

Pois bem proponho uma reconciliação, entre as partes, de forma a pensar numa santidade profana, e em seu reverso também na sagração do profano.

Inicialmente quero pensar nas muitas imagens criadas historicamente pelas religiões que divide o mundo em duas partes, o mundo material e o espiritual, e numa contribuição platônico-gnóstica, concebemos o mundo material como essencialmente mau e a realidade espiritual como eminentemente boa, daí, as muitas neuroses que se desenvolveram no meio religioso especialmente no cristianismo e em particular no evangelicalismo; devemos rejeitar tudo que não for material como mundano diabólico e pernicioso para a fé. O resultado foi que criamos pessoas esquizofrênicas, em conflito consigo mesmas, com o mundo em que vive, negando suas emoções reações e sentimentos, levados pelo medo de “agradar a carne”.

Creio firmemente que as coisas podem ser diferentes, que o mundo é um só e que espiritual e material são apenas convenções que utilizamos para distinguir a realidade material daquela que chamamos imaterial, e que elas não são boas ou más em si mesmas, chego a acreditar que elas são apenas meios onde a bondade e maldade se manifestam.

Outra importante expressão dessa deformação da realidade encontramos no conceito de coisas sagradas e profanas. Entende-se por sagrado, santo, santificado, etc. A idéia de coisas que receberam a visitação de seres divinos ou divinizados cuja manifestação conferiu determinadas qualidades transmissíveis aos fiéis. Nesse sentido temos lugares sagrados, pessoas santas e espaços sacros, objetos bentos, que não pode se misturar com a realidade profana que ao tocá-la pode conspurcá-la, poluindo a sua pureza.

Penso que sagrado e profano são dois lados de uma mesma moeda, seu reverso, de forma que o sagrado sem o profano se platoniza, se desencarna e existe apenas como realidade etérea, sem implicações na realidade concreta. Por outro lado, o profano que não se deixa nutrir pelo sagrado, também se torna estéril, sem vida e sem motivações. Proponho uma realidade na qual sagrado e profano se misture, como o fermento na massa, o resultado pode ser diferente, porém muito mais aconchegante. É a reconciliação entre dois extremos numa nova melodia, num novo poema, é o desnudar de um novo tempo.

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domingo, outubro 04, 2009

OS CORDÉIS IDEOLÓGICOS


Ideologia pode ser descrita como um instrumento de dominação que age através do convencimento, de forma prescritiva, alienando a consciência humana e mascarando a realidade.

As principais estruturas promotoras da ideologia são: a religião, a filosofia, a moral, o direito, as doutrinas políticas, dentre outras. Más, como nos diz o poeta em sua canção, “ideologia eu quero uma pra viver” (cazuza), dessa forma nos submetemos a determinadas idéias crendo que elas representam o melhor para nós. Quantas idéias que defendemos são realmente convicções nossas ou idéias que colocaram em nossas cabeças?

Não dá para negar, vivemos mergulhados em um mundo marcado e dominados por ideologias, e de certa forma nos sentimos seguro nele.

Porque as coisas são assim? E não de outro jeito? Na verdade todos nós somos manipulados para que determinadas pessoas alcancem seus objetivos, ser livre é conhecer esses mecanismos. Como diria Spinosa: “liberdade consiste em conhecer os cordéis que nos manipulam”. Se não conhecemos os cordéis e quem os movimenta, servimos de fantoches e não passamos de marionetes nas mãos dos dominadores.

Somos levados a comprar o que não precisamos com o dinheiro que não temos para agradar a pessoas que não conhecemos.

Ser livre é vencer a tirania do consumismo.

Somos levados a comprar produtos (presentes) para atender aos muitos “dias” disso, dia daquilo dia daquilo outro, como se a única forma de comemorar fosse comprando coisas. A quem interessa “comemorar todo dia o dia de alguma coisa?

Maquia-se a realidade com afirmações generalistas como “o petróleo é nosso”, todos são iguais, na verdade a quem pertence o petróleo? E é verdade que todos são iguais, mas alguns são diferentes, e ponha diferente nisso.

Seguimos normas morais e preceitos religiosos que nem sabemos quem os criou quando, e porquê!! Obedecemos a regras de comportamentos que nada te a ver conosco, apenas pelo fato de que alguém disse que tem que ser assim. Na verdade vivemos representados papéis, somos verdadeiros atores o tempo todo, parece que vivemos em um Big Brother permanente.

Não devemos nos deixar enganar, devemos ser livres, conhecendo os cordéis que nos manipulam e simplesmente cortando-os.

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quarta-feira, setembro 30, 2009

OS SABORES DA VIDA: UM ODE AO PRAZER

Doce, amargo, azedo, salgado, insosso, qual é o sabor da vida?

A vida pode ser doce, ter sabor de mel. Somos nós que decidimos viver uma vida doce ou curtir as amarguras. Não deposite nas mãos de outros a tarefa de adoçar a sua vida.

O mundo é rico em coisas dulcificadas.

O beijo é doce o amor mais ainda; doce é a vida de quem ama. A amizade adoçiça a vida, um abraço, um sorriso discreto, o prazer de estar perto, o prazer de sentir prazer.

Um novo sonho, uma nova conquista, acreditar em si mesmo, dizer eu me amo,e porque não eu te amo também.

A vida pode ser amarga, e como pode!!!

Se o mundo é generoso em doçura, também é pródigo em amargores.

O que torna a vida amarga é basicamente uma visão distorcida de nós mesmos. Amar a si mesmo é o princípio de tudo.

Não culpe os outros pelo seu jeito acrimonioso de ser. Uma vida doce ou amarga é uma questão de escolha. A vida pode ter sabor ou se tornar insípida.

Doce, Amarga, salgada... O que salga a vida ou a torna insossa são os sentimentos. Viver as emoções, estar de bem, sentir desejo, conquistar alguém; afinal já que a vida é curta, o jeito é curtir a vida também.

Pensar positivo, olhar para frente, esquecer as mágoas, os ressentimentos, o passado e acreditar no futuro; mas acima de tudo viver o presente, afinal ele é a única coisa que realmente existe para se viver.

A vida pode ser doce, amarga, salgada, insossa, azeda...

O que torna a vida azeda, cítrica, sem prazer, sem cor e sem sabor, ou saborosa, apetitosa, quase orgástica, é a forma como lidamos com as nossas emoções.

Por isso, cuide bem delas.

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terça-feira, setembro 29, 2009

EU TAMBÉM QUERO SER FELIZ

Eu também quero ser feliz, eu sei que posso, eu acredito que vou conseguir.

Felicidade não é algo que se deve perseguir pela vida afora.

Ser feliz é uma questão de atitude, e não de conquistas.

Alguns vão dizer que não, que eu não vou conseguir que a felicidade é uma busca inútil, que não vale a pena tentar. Talvez tenha razão eu não busco a felicidade por que sei que ela está dentro de mim, se eu não encontrar ali, não a encontrarei em lugar nenhum.

A felicidade não depende de dinheiro.

Não depende das outras pessoas.

Não depende de conquistas pessoais.

Ela depende apenas de mim mesmo, da forma como eu me vejo.

Agora eu sei não existe nada além de mim mesmo, que me impeça de ser feliz.

Agora eu também acredito, que eu também quero e posso ser feliz.

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segunda-feira, setembro 28, 2009

SEM PALAVRAS


Eu queria falar de Deus de uma forma diferente. Sem discursos, sem pregações, sem as formalidades que caracterizam as pregações religiosas.

As palavras não falam de Deus, falam de dogmas, doutrinas religiosas, proibições, ou seja, Deus está além das palavras.

Eu queria falar de Deus de uma forma diferente, eu queria falar de Deus unicamente pela prática do amor, afinal, Deus é amor.

Mas, eu também queria falar de amor de outra forma. Sem palavras, que às vezes se tornam vazias. Sem os contornos lingüísticos dos poemas. Sem os versos e rimas que embalam as canções, estou convencido que o amor não pode ser traduzido em palavras.

Eu queria falar de amor sem palavras, apenas pelo toque, pelo olhar, pelo gesto, afinal, se Deus é amor, ele não é um sentimento é uma atitude.

Na verdade, eu queria amar, amar e amar. Já que o amor é única linguagem universal, ela fala de Deus, fala de paz, de aceitação..., então, tudo que eu preciso para falar de Deus, tudo que eu preciso para falar de amor...

É amar.

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domingo, setembro 27, 2009

Coisas fáceis e difíceis


Sinceramente eu cansei de pensar na vida como uma coisa complicada.

Acho que a vida é simples, nós é que a tornamos difícil. Preferimos sofrer pelo que não temos a nos alegrar com o que temos. Esquecemos de ser felizes na Busca pela felicidade, esquecemos que a felicidade se encontra nas pequenas coisas da vida. Um gesto, um olhar, um abraço sincero....

Amar é simples, beijar também, sonhar é bom, querer alguém. sorrir é fácil, andar sem rumos, sem pressa sem maiores intenções.

Fazer amigos, sorrir de si mesmo, aprender com erros, aceitar a si mesmo.

Apreciar a chuva, sentir o cheiro da terra, apreciar o sabor das frutas. Preparar a comida e comer com prazer, por prazer e para sentir prazer.

Acho que a vida é boa, que viver é fácil, difícil é o suicidio.

Amar é simples, complicado é odiar.

Perdoar é fácil, difícil é alimentar o desejo de vingança.

Eu já decidi. Quero as coisas mais simples da vida, olhar as flores, os pássaros, as borboletas, quero pescar, nadar no rio, quero sonhar, quero viver, enfim quero ser feliz.

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sábado, setembro 26, 2009

Sobre a morte e morangos.



Recentemente me encantei com um texto escrito por um colega, intitulado “sobre Leões e Morangos”. Em síntese, se baseia num conto acerca de um homem que andava pela floresta e se deparou com um leão. Tentando fugir ele caiu em um despenhadeiro más conseguiu se agarrar em um arbusto, e ali ficou pendurado. No entanto, ele percebeu que ali ao lado havia um morango bem maduro, vermelho e saboroso então ele estendeu a mão, pegou o morango e comeu.

Fiquei pensado... É verdade, todos nós vivemos como que pendurados num despenhadeiro, a qualquer hora o galho pode se quebrar e... Mas “que o medo da morte não nos impeça de comer os morangos da vida”. Muita gente está tão preocupada com a possibilidade de morrer, de ficar doente, ficar desempregado, sofrer uma separação, perder um ente querido, ..., que já não consegue ver, colher e muito menos comer os morangos que a vida oferece. Devemos aprender com a história desse homem; enquanto a morte não vem, enquanto os infortúnios não chegam (e talvez nem cheguem) devemos ter a sensibilidade necessária para aproveitar o que a vida tem de melhor, e se olharmos bem para trás veremos quantos morangos já deixamos de colher, impedidos pelo medo de cair.

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segunda-feira, agosto 17, 2009

SOBRE RELIGIÕES, PÁSSAROS E GAIOLAS

TEXTO DE O GRANDE INQUISIDOR DO LIVRO

"OS IRMÃOS KARAMAZOV”
De Fiódor Dostoievski

...( Jesus havia voltado à terra e andava incógnito entre as pessoas Todos o reconheciam e sentiam o seu poder, mas ninguém se atrevia a pronunciar o seu nome. Não era necessário. De longe o Grande Inquisidor o observa no meio da multidão e ordena que ele seja preso e trazido à sua presença.. Então, diante do prisioneiro silencioso, ele profere a sua acusação )...

Não há nada mais sedutor aos olhos dos homens do que a liberdade de consciência, mas também não há nada mais terrível. Em lugar de pacificar a consciência humana, de uma vez por todas, mediante sólidos princípios, Tu lhe ofereceste o que há de mais estranho, de mais enigmático, de mais indeterminado, tudo o que ultrapassava as forças humanas: a liberdade. Agiste, pois, como se não amasses os homens... Em vez de Te apoderares da liberdade humana, Tu a multiplicaste, e assim fazendo, envenenaste com tormentos a vida do homem, para toda a eternidade...

Os homens dizem amar a liberdade, mas, de posse dela, são tomados por um grande medo e fogem para abrigos seguros. A liberdade dá medo. Os homens são pássaros que amam o vôo, mas têm medo dos abismos. Por isso abandonam o vôo e se trancam em gaiolas.

Somos assim : sonhamos o vôo mas tememos a altura . Para voar é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o vôo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isso o que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o vôo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.

É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que eles voariam se as portas estivessem abertas. A verdade é oposto. Não há carcereiros. Os homens preferem as gaiolas aos vôos. São eles mesmos que constroem as gaiolas em que se aprisionam...”

Deus dá a nostalgia pelo vôo. As religiões constroem gaiolas

Os hereges são aqueles que odeiam as gaiolas e abrem as suas portas para que o Pássaro Encantado voe livre. Esse pecado, abrir as portas das gaiolas para que o Pássaro voe livre, não tem perdão. O seu destino é a fogueira.

Palavra do Grande Inquisidor.

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quinta-feira, maio 21, 2009

EM BUSCA DE UMA ESSÊNCIA PARA O CRISTIANISMO

O cristianismo não é uma religião do livro”. A frase não é minha, eu a tomei emprestada de Frei Bento Domingues, e foi extraída do artigo “Sem lugares sagrados” [1] Confesso que me encantou pela originalidade, concisão e pela profundidade com que diz tanto em tão poucas palavras.

O Cristianismo realmente não é uma religião do livro! Mais do que nunca precisamos ter essa verdade bem clara em nossas mentes. No entanto, se “o cristianismo não é uma religião do livro”, como de fato não é; se o seu conteúdo não consiste em observância de preceitos sagrados (não comer determinados alimentos, não trabalhar em certos dias da semana, repetir gestos, jejuar determinados dias por semana, orar virado para tal ou qual lugar, etc). Se a prática do cristianismo não se encontra explicitada em Cânones, que precisam ser observados ao pé da letra; se o ser cristão não pode ser resumido a fazer parte de determinada denominação. Há que se perguntar então: Em que consiste a essência do cristianismo? Qual deve ser então a conduta do cristão em sua caminhada no mundo?

Muitos livros já foram publicados buscando esclarecer qual seja a essência do cristianismo, muitos deles de ótima qualidade. Não podemos deixar de citar, por exemplo, Ludwig Feuerbach, que intitulou uma de suas obras como “A Essência do Cristianismo” e outra como “A Essência da Religião”. Na verdade, discernir o que seja a essência do cristianismo, é uma tarefa urgente e fundamental uma vez que dessa definição depende a nossa postura em relação à missão do cristão no mundo. Sabemos das dificuldades em se fornecer uma resposta final a tal questão, no entanto, podemos apresentar algumas possibilidades.

O CRISTIANISMO NÃO É UMA RELIGIÃO DE RÉGRAS LEGAIS E SIM UM ESTILO DE VIDA BASEADO EM PRINCÍPIOS ÉTICOS. Tenho certeza que você já ouviu esta frese de forma recorrida, ela talvez possa ser considerada um chavão. No entanto, eu a tenho como relevante, e faria muita diferença a levarmos a sério. Se o cristianismo não é uma religião, quais são os elementos basilares que o sustentam? Não seriam os ritos, os símbolos e muitos menos o sistema doutrinário, que muitas vezes se tornam a única coisa visível em alguns círculos do cristianismo moderno. Tudo isso faz parte da estrutura de uma religião. Diferentemente daquilo que efetivamente conhecemos, o cristianismo é essencialmente um sistema baseado em princípios éticos, e suas bases fundamentais são as relações interpessoais. Em sua caminhada histórica, o cristianismo se conformou em ser apenas uma religião, e mais, passou a reivindica ser a única religião verdadeira. Nesse sentido, sustenta Karl Barth ser este o grande erro do cristianismo, ter se tornado uma religião. Nesse momento nos encontramos numa encruzilhada; podemos continuar a seguir o cristianismo em seu formato religioso, ou voltar à sua essência e restaurar a sublimidade do evangelho que é exatamente a libertação das estruturas legalista que marcavam a religião judaica.

O CRISTIANISMO NÃO SE BASEIA NUMA TEORIA SOBRE O BEM E O MAL E SIM NA PRÁXIS DO AMOR AO NECESSITADO. Embora seja exatamente isso que verificamos na práxis da igreja, Isto é, uma eterna repetição de frases, textos e experiências envolvendo a luta cósmica entre o bem e o mal, não deveria, no entanto ser assim. Analisando a práxis de Jesus, verificamos que ele não perdeu tempo teorizando a existência ou não de um dualismo, não se tornou um caçador de espíritos; mesmo nos casos em que os textos fazem referencia a espíritos, na verdade Jesus não está preocupado com eles, e sim com o homem que de certa forma vivia as conseqüências de uma existência sufocada por uma religião legalista e excludente. Nessa forma cristianismo, Deus deixa de ser o Senhor, aquele que tudo governa e passa a ser visto como um conquistador, uma espécie de Gengis Khan divino, guerreando em solo inimigo a procura de despojos. Numa linguagem evangélica, “saqueando o inferno”. O cristianismo acabou por criar um demônio forte que a tudo controla e um Deus fraco, que luta desesperadamente para reconquistar o espaço perdido.

A PROPOSTA DO CRISTIANISMO É HUMANIZAR O HOMEM E NÃO ESPIRITUALIZÁ-LO. Creio que o cristianismo precisa humanizar o ser humano, quanto mais espiritual, mais humano. Lembremos que Jesus se destacou entre nós não pela sua espiritualidade e sim pela expressão máxima de sua humanidade, ninguém foi mais humano que Jesus. Historicamente o cristianismo tem se esforçado para espiritualizar o homem, e nessa busca, se voltou para a metafísica, para o “mundo espiritual”, e passou a combater pretensas forças espirituais, que supostamente são responsáveis pelas mazelas do mundo. Essa concepção determinista/fatalista lançou o homem em uma aventura cósmica, a viver em um mundo assombrado por espírito onde o mal é a regra e o bem a exceção e mais do que isso, gerou uma espiritualidade desencarnada e descomprometida com o mundo real. Creio que o evangelho não pode ser visto apenas como um projeto para a outra vida, ele precisa fazer diferença aqui e agora.
Quais são as implicações de uma re-visão acerca da essência do cristianismo? Talvez ela nos traga uma amarga constatação, de que a história da Igreja nesses dois milênios, tem sido uma caminhada para longe do verdadeiro cristianismo, e talvez cheguemos à conclusão de que somos bons religiosos, porém, talvez nem sejamos verdadeiramente cristãos.

[1] Artigo publicado no blog da Universidade Lusofona, disponível para consulta em vernáculo em http://teologizar.blogs.sapo.pt.

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quinta-feira, abril 02, 2009

Olhando para o Passado, Enxergando o Futuro! “Os Batistas Brasileiros no divã da História”

“Restam-nos a nostalgia e o lamento. Parece que, cansado, Deus abandonou-nos à mercê das nossas próprias inconseqüências.” (Pr. Carlos Cesar Novais)

Não sou saudosista, não acredito nessa história de que “já não se fazem coisas como antigamente”. Parafraseando as palavras do Pr. Ed René Kivitz, em seu livro Quebrando Paradigmas, podemos dizer que isso é porque “já não se fazem coisas para antigamente”, fazemos coisas para o presente e para o futuro. Não creio que o passado seja melhor e que o novo seja diabólico pelo simples fato de ser novo.

Por outro lado, também não sou um sonhador, um tipo de “José do Egito evangélico”, que vive no mundo dos sonhos, buscando sentido nas filigranas da religião; crendo que tudo acontece pela ação de anjos ou de demônios que impedem a sua realização. Quero antecipar que a culpa pelos nossos infortúnios não se encontra no mundo espiritual. Penso como Rubem Alves em seu livro A Gestação do Futuro, que o futuro não é algo determinado, pronto e acabado, ele depende das decisões que tomamos hoje, Deus constrói o futuro juntamente conosco.

No caso dos Batistas brasileiros, e em especial dos alagoanos, acho que olhar para trás, e enxergar o futuro num processo de regressão meta-histórica talvez seja um exercício psicanalítico necessário, uma espécie de terapia às avessas para que possamos nos entender (ou não), encarar as nossas neuroses e esquizofrenias e quem sabe, uma vez conscientes das nossas enfermidades, possamos reencontrar o caminho para garantir a nossa existência no 3º, no 4º ou sabe-se lá em qual milênio. O desafio é sentarmos no divã da história e deixar que ela revele as nossas patologias, uma espécie de regressão coletiva.

Por ocasião da Assembléia da Convenção batista Brasileira em Brasília, algumas inquietações começaram a surgir naqueles que ali estiveram. Creio que o senso comum é de que alguma coisa precisa ser mudada; precisamos avançar bastante para que possamos chegar ao local onde já estivemos antes. Veja bem, neste momento precisamos caminhar para o futuro para chegar ao passado (Freud explica), uma vez que nesse momento o nosso futuro ainda é o nosso passado.

Calma, antes que alguém resolva chamar o psiquiatra para fazer um diagnóstico da minha sanidade, eu explico: Nos últimos tempos nós temos andado com a marcha ré engatada; caminhamos tanto para trás que por mais que caminhemos para frente, ainda assim estaremos em um terreno pelo qual já passamos. Segundo o Pr. Paulo Maurício Lomba:

“Já fomos a maior denominação evangélica do Brasil! Já tivemos o maior parque gráfico da América Latina! Já realizamos as maiores campanhas missionárias de todos os tempos! já fomos recordistas em impressão e vendas de Bíblias (Imprensa Bíblica Brasileira!) Já tivemos um pastor batista brasileiro como presidente da Aliança Batista Mundial! Já tivemos os maiores seminários teológicos da América Latina!”[1]

Podemos acrescentar ainda que já fomos proprietários de um Banco![2], de uma Junta de Rádio e Televisão, dos mais respeitados colégios evangélicos do Brasil, e por ai vai. Veja que nós já “fomos” e já “tivemos”; a verdade é que atualmente “nem somos” e “nem temos” mais. Os tempos de abundância passaram, e nos últimos anos vivemos períodos de vacas magras; fomos ultrapassados em números por denominações que aqui chegaram depois de nós, já não temos onde publicar nossa literatura (utilizamos serviços terceirizados) e cedemos os direitos sobre a impressão de nossas Bíblias para terceiros. Nosso trabalho missionário não vai bem. Nosso patrimônio está sendo vendido em todo o país para pagar dívidas com o Estado. Bem, para não ser enfadonho, prefiro parar aqui; acho que já temos um quadro psicanalítico que indica que de certa forma vivemos hoje o Cativeiro Babilônico dos Batistas. Na opinião do Pr. Carlos Cesar Novais:

Como aconteceu a outras tantas denominações ao longo desses vinte séculos de cristianismo, os batistas surgiram, cresceram e agora, em muitos países, vemos sinais claros do seu melancólico ocaso[3]

Mesmo sem a pretensão de oferecer respostas aos nossos graves problemas que enfrentamos como denominação, proponho um olhar despretensioso sobre a nossa realidade em buscas de um diagnóstico que ateste a nossa momentânea insanidade.

UM POVO SEM JUIZ E SEM REI: A CRISE DE LIDERANÇA

Tenho lido a respeito das frustrações que se abatem sobre os nossos líderes, o desânimo que enfrentam em perseverar nessa caminhada. Talvez devêssemos ter coragem e dizer como Ricardo Gondim, “Estou Cansado”, como faz em um sincero desabafo pastoral:

Cansei! Entendo que o mundo evangélico não admite que um pastor confesse o seu cansaço. Conheço as várias passagens da Bíblia que prometem restaurar os trôpegos. Compreendo que o profeta Isaías ensina que Deus restaura as forças do que não tem nenhum vigor. Também estou informado de que Jesus dá alívio para os cansados. Por isso, já me preparo para as censuras dos que se escandalizarem com a minha confissão e me considerarem um derrotista. Contudo, não consigo dissimular: eu me acho exausto.[4]

Vivemos hoje uma crise de liderança em nosso meio, não que não tenhamos líderes preparados, pessoas sérias e comprometidas com o reino e que amam profundamente o evangelho. O que se percebe na atualidade é uma indisposição generalizada para continuar levando pancadas, ouvindo palavras agressivas e desrespeitosas, muitas vezes produzidas em discursos inflamados e em pareceres apaixonados que em nada lembram que estamos em um ambiente formado por pessoas cristãs. Em artigo duro e igualmente emocionado intitulado Vergonha e Desesperança, o PR. Carlos Cesar Novais assim se expressa:

Tenho vergonha de participar das reuniões do conselho administrativo e das assembléias convencionais, onde — numa patética passarela de encenações e dissimulações — desfilam a mentira, a ironia, a desfaçatez, a astúcia da serpente, a hipocrisia dos fariseus e a violência dos gananciosos. Tenho vergonha de uma denominação que, apesar de estar inserida numa sociedade com graves crises e problemas complexos, aos quais deveria responder com marcantes ações de influência ética, prefere dar amplo espaço a disputas mesquinhas, à estúpida chama da fogueira das vaidades, à repartição implacável dos seus despojos, optando por rodear em torno do seu próprio umbigo, enclausurar-se em seu próprio casulo e tornar-se assim inútil porque fútil, tão fútil e inútil quanto estruturas outras que o tempo fez o favor histórico de enfraquecer, desmontar e extinguir.[5]

Cansados de lutar em vão, muitos preferem se retirar para o aconchego de suas igrejas e não querem sequer ouvir falar em envolvimento denominacional. Vivemos um verdadeiro “salve-se quem puder”, “cada um por si e Deus por todos” ou ainda “todos por mim e eu por ninguém”. Mais do que nunca entendemos as palavras de Jesus, “ferirei o pastor e as ovelhas se dispersarão”, (Mat. 26:31), são tempos de pastores feridos e ovelhas dispersas; líderes machucados, desmotivados, sem forças para continuar. Nesse cenário, sem uma liderança capaz de unir os batistas vivemos o drama do povo de Israel na transição entre a judicatura e a monarquia, “naqueles dias não havia rei em Israel; cada um fazia o que parecia bem aos seus olhos” (Juízes 21:25).

A ILUSÃO DA DEMOCRACIA ABSOLUTA: UM POVO A BEIRA DA ANARQUIA

Não quero ser simplista, sei exatamente que estamos mexendo em um vespeiro, no entanto, não podemos deixar de tocar em um ponto nevrálgico o nosso modelo administrativo. Talvez com um pouco de atraso seja tempo de re-pensar a nossa forma administrativa. Qual o motivo pelo qual enfrentamos dificuldades para gerenciar o nosso patrimônio?

No caso específico dos batistas alagoanos, enfrentamos a vergonha de estarmos hoje alijados dos meios de comunicações a todos disponíveis. Não possuímos programas de televisão, nem de rádio pelo qual possamos nos fazer ouvir (já que até mesmo o velho “Voz Batista” fechou). Não possuímos um jornal Batista, (já nem lembro quando foi que saiu o último exemplar) nem mesmo um blog oficial existe hoje em nosso meio. Vivemos sem dúvida o ocaso da nossa denominação.

Todos nós concordamos que a democracia é uma conquista batista, a luta pela liberdade das pessoas é uma bandeira levantada no passado e que deve permanecer hasteada. O que não se pode negar é que perdemos muito tempo em intermináveis reuniões, comissões, pareceres, GTs e por ai vai. Enquanto os batistas se preparam para mais uma reunião, denominações que ainda deveriam usar fraldas se comparadas com os batistas, passam a nossa frente, conduzida por administrações ágeis e eficientes. Talvez seja hora de termos coragem e admitir que o modelo faliu e não adianta remendar; precisamos de vinho e de odres novos.

A nossa propalada “autonomia” oriunda do princípio da liberdade se transformou em individualismo, e em alguns casos em motivos para a indiferença. Na verdade somos hoje um povo à beira da anarquia e nesse isolamento, vivemos “encaramujados” “ensimesmados” acreditando e pregando que ainda somos os melhores. Queira Deus que a nossa loucura seja revelada no divã da história, pois, se nos negarmos hoje a ouvir a história, não fugiremos de pagar a conta; e a história sabe cobrar.



[1] Os Batistas Brasileiros Em Brasília. Matéria de capa do boletim da Igreja Batista Asa Sul em Brasília, em texto assinado pelo Pr. Paulo Maurício Lomba

[2] Informação prestada pelo Pr. Ademar Paegle da Igreja Batista Casa Amarela em Recife. Segundo informou, tivemos um banco batista que faliu.

[3] Vergonha e Desesperança. Texto disponível em:

http://hojeteologia.blogspot.com/2008/10/vergonha-e-desesperana.html

[5]Vergonha e Desesperança. Texto disponível em:

http://hojeteologia.blogspot.com/2008/10/vergonha-e-desesperana.html

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