quinta-feira, dezembro 22, 2011

DEUS, SEGUNDO SPINOZA (Baruch Spinoza - 1632, 1677)



O filósofo Bento de Spinoza, legou alguns conselhos para serem vividos no seio da religião. Utilizando sempre a primeira pessoa ele coloca na boca de Deus palavras que deveriam ser entendidas e guardadas pelos homens para viver a verdadeira religião.

Pára de ficar rezando e batendo no peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.

Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau.

O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.

Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro!

Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti? Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.

Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção à tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro.

Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.

Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não houvesse. Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei.

E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?

Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja?

Aborrece-me que me louvem. Cansa-me que agradeçam. Tu te sentes grato?

Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo. Te sentes olhado, surpreendido? Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para que tantas explicações?

Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em ti.

3 comentários:

Paulo Nascimento disse...

Grande Neilton!

Deixe eu lhe segredar uma coisa. Quando tive minha primeira grande decepção no ministério pastoral, eu estava estudando Filosofia na UESC, em Ilhéus. E naqueles dias estava embriagado com Espinoza. Por pouco eu não larguei tudo (igreja, pastorado, religião) para me enveredar pela universidade. Lembro-me que o panteísmo de Espinoza me encantava e me consolava. Afinal, eu estava decepcionado com a igreja, mas não queria abandonar a Deus. Preferia pensá-lo de outra forma, e o sistema de Espinoza me era muito atraente. A crise passou, mas continuo a admirar esse herege. Você deve conhecer a maldição que foi impetrada contra ele em Amsterdã, não é? Quem passasse pelo túmulo dele deveria cuspir e praguejar. Cuidado você viu! Parabéns pelo artigo!

Abraços!!!

Neilton Azevedo disse...

Grande paulo Nascimento, que bom saber que você assim como eu sente uma certa atração pela idéia de Deus veiculada por Spinosa. Quanto à maldição de Spinosa, não tenho muito com que me preocupar uma vez que não terei uma estátua na praça para ser cuspida, no maximo vão cuspir em mim ainda em vida kkkkkkkkkk.
Não sei vc mas hj a idéia de Deus de Spinosa é a única na qual eu ainda creio e me sinto feliz ao pensar que Einstein tambem pensava assim. Vamos lá velho Spinosista, escreva algo sobre o assunto.

Paulo Nascimento disse...

Sem dúvida, o panteísmo de Espinoza é belo. "Deus sive natura", ele dizia. Ou "Deus ou a natureza". Deus é a única substância que existe, e tudo o que existe é fragmento dessa substância. É uma bela idéia filosófica. Pra mim ele teria belas implicações. Uma implicação boa é que essa idéia acabaria com todas as categorizações humanas entre pessoas superiores e inferiores. Sendo fragmento da divindade, cada ser humano estaria elevado ao status de total dignidade. A própria natureza seria preservada, pois seria vista como extensão de Deus. Minha questão é que ainda dou total adesão ao Deus revelado em Jesus Cristo. Mais do que a fé "em" Jesus, gosto da fé "de" Jesus. E essa fé é voltada para um Deus pessoal, diferente da criação. Ainda sou muito crente nesse Deus, mesmo sem me sentir muito à vontade para explicá-lo. Mas vamos conversando. Aquele abraço!
Obs.: Ah, eu tenho um artigo sobre Espinoza, da época em que eu estava na Filosofia. Vou procurar.