sexta-feira, fevereiro 13, 2009

HACKERS ESPIRITUAIS, OU A SACRALIZAÇÃO DO CALOTE?

Ora, os que querem ficar ricos, caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é a raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores. ( I Tim. 6: 9-10)

HACKERS SÃO PIRATAS DE COMPUTADORES e ficaram conhecidos, pela capacidade de violar sistemas de segurança e invadir computadores de grandes instituições bancárias para desviar vultosas somas de dinheiro para contas particulares, independentemente da realização de qualquer depósito. Um hacker não precisa se preocupar; com apenas alguns clics, invade sistemas, captura senhas, e o dinheiro simplesmente aparece na conta bancária.

Já o caloteiro, é aquele velho conhecido dos brasileiros, um “esperto” que compra e não paga; toma dinheiro emprestado e não quita a dívida, passa cheque sem fundos e jamais resgata, além de outras práticas similares. Em síntese, adquire as coisas com extrema facilidade, simplesmente “passando a perna” nos credores.

Historicamente essa prática foi condenada pela igreja, que com base nos sólidos princípios éticos da honestidade, da decência da dignidade, ensinava que o cristão deve ser íntegro pagar as suas dívidas e não se locupletar com o suor alheio. Acontece que os tempos mudaram (e parece que Deus também mudou), o evangelho já não leva em conta essas pequenas filigranas da vida cristã. Já vai longe o tempo em que os pastores pregavam sobre honestidade, probidade e lisura no trato com os negócios; tempos em que os cristãos eram orientados a devolver aquele troco errado que recebeu no ônibus ou a carteira encontrada na rua com dinheiro e documentos; tempos em que ser cristão era sinônimo de integridade, inteireza e de retidão.

Recentemente, os valores foram invertidos, e agora os pastores ensinam formas de enriquecer sem esforços, simplesmente tirando vantagem da sua condição de filho de Deus, e pasmem! Deus não apenas apóia a desonestidade nos negócios, agora, Ele mesmo promove esse tipo de transação escusa; essa é a conclusão que chegamos, depois de fazer uma análise, ainda que perfunctória da teologia da prosperidade (ou da desonestidade) e do ensino de seus profetas.

DEUS AGE COMO HACKER E DINHEIRO APARECE NAS CONTAS DOS CRISTÃOS.

Sem dúvida essa é uma das piores teologias já produzidas em todos os tempos, e representa uma degeneração da própria teologia da prosperidade, Os profetas dessa teologia chegam ao despautério, de envolver Deus nesse verdadeiro imbróglio teológico, nessa maracutaia espiritual, qual seja a de imitar as práticas ilegais dos piratas de computador. De repente alguém freqüenta uma palestra proferida por um guru, e no dia seguinte, os “milagres” começam a acontecer, (Deus só faz a transferência bancária e cancela a dívida, depois que o cliente, passa por um treinamento).

Sinceramente eu não sei nem pretendo saber de onde vem o dinheiro que aparece nas contas, (se Deus transforma papel em dinheiro ou se ele desvia de outras contas) a verdade é que num passe de mágica (ou de esperteza) o dinheiro aparece na conta; verdadeira obra de hacker, e o mais intrigante é que o mentor dessa transação esquisita ilegal e imoral é o próprio Deus em pessoa. Quem quiser acreditar que acredite, eu não creio nisso, afirmo categoricamente que Deus está fora desse esquema, e que cristãos de verdade também não entra nessa.

DEUS ABENÇOA E PROMOVE O CALOTE, APAGANDO REGISTROS DE DÍVIDAS

Mais esquisito ainda que as operações bancárias de transferência ilegal de dinheiro é o apoio que Deus agora dá ao calote. O esquema funciona mais ou menos assim: Alguém compra o que não pode pagar, toma dinheiro emprestado, esbanja tudo como bem quiser e deixa a dívida por conta de Deus, tais dívidas nunca serão pagas, elas simplesmente serão apagadas dos arquivos dos credores; e não existe sistema seguro, afinal é o próprio Deus quem viola as senhas. Em outros tempos isso seria considerado como pirataria cibernética e apagar dados, como cybercrime de estelionato, no entanto, hoje é reputado como “bênção” “milagre”, e sinal de espiritualidade, por outro lado, aqueles que ensinam como ganhar dinheiro assim, são chamados de “homens de Deus”. É a sacralização da desonestidade.

Finalmente, Deus assumiu seu lado Hobin Hood tira dinheiro de quem tem (ou não) para dar a aqueles que desejam enriquecer facilmente. Se essa moda pega, teremos em breve um novo perfil para a idéia de santidade e espiritualidade; santo será aquele que conseguir fazer “aparecer” o maior volume de dinheiro na sua conta bancária; espiritual será aquele que fizer “desaparecer” a maior de todas as dívidas. Nesse tempo, a primeira coisa que alguém vai ter que fazer ao se converter, na igreja, não será comprar uma Bíblia, participar de qualquer treinamento. A coisa mais urgente será abrir uma conta bancária, a segunda tão importante quanto a primeira será contrair uma dívida, o terceiro passo, assistir uma palestra proferida por um pastor pop star e aguardar as bênçãos, ou seja: o dinheiro jorrar na conta bancária e as dívidas sumirem. Depois disso, é só contrair novas dívidas para que Deus tenha o que fazer, afinal é para isso que ele existe.

O mais estranho de tudo é que Deus também leva a sua parte do bolo e isso antecipadamente. Sim, para que tudo possa dar certo, o cliente precisa fazer um depósito antecipado na conta de Deus, ou seja: uma oferta generosa a ser entregue ao seu representante aqui na terra; só depois do ok, Deus começa a atuar. Se esse negócio continuar, não estará longe o dia em que os jornais estamparão a notícia da prisão da ‘quadrilha de Deus’, formada por estelionatários sagrados e Hackers espirituais, nesse dia será difícil explicar que o dinheiro tem origem divina e que foi Deus quem apagou os dados dos computadores.

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quinta-feira, fevereiro 12, 2009

O Último Tabu. Sobre Gênero, Vocação e o Equívoco de Deus

Já faz algum tempo desde que fui convidado a proferir palestra sobre ordenação feminina, e sinceramente acreditava que não voltaria a escrever sobre o assunto, tendo em vista que a matéria já foi por demais debatida, existindo farto material contra e a favor disponível na Internet e em diversas publicações. Juro que imaginava que a polêmica sobre se mulher pode ou não ser pastora já estava encerrada e sepultada, até porque, já é uma realidade inegável em nosso meio.

No entanto, diante do episódio envolvendo a ordenação de uma mulher em alagoas, surgiram algumas perguntas que nos traz de volta à cena do debate.

Em primeiro lugar há que se perguntar, quem dentre nós é autoridade para dizer quem tem ou não vocação pastoral? Quem pode ou não pode ser pastor ou pastora? Confesso que me encontro diante de um dilema; se aceitarmos que seja possível resolver esta questão baseado apenas na questão de Gênero, estaremos adotando um critério absolutamente arbitrário e destituído de qualquer fundamento e mais do que isso, limitando o agir de Deus. Nesse caso, pela primeira vez na vida penso na possibilidade de Deus ter se equivocado ao vocacionar (ou será que não?) pessoas que efetivamente não estão autorizadas ou credenciadas para exercer o ministério pastoral.

Durante muito tempo, ouvi pessoas que se posicionavam contra ou a favor da ordenação feminina, no entanto quando acreditava que já havíamos resolvido a questão, me deparo com o inusitado caso de pessoas que são a favor e contra ao mesmo tempo, a esperança é que os que hoje são contra passe a agir favor, dessa forma chegaríamos a uma solução da querela..

Sinto saudade dos tempos em que sabíamos quem era contra, quando os debates se davam no campo das convicções teológicas; sinto saudade, porque naquele tempo, pelo menos havia uma motivação para ser contra ou a favor. Vejo com profunda tristeza que as pessoas que mais tem travado o debate e dificultado o fim desse verdadeiro absurdo histórico, são exatamente aqueles que se dizem a favor da ordenação de mulheres. Nesse caso, já não se trata de convicção teológica, Bíblica, filosófica, antropológica ou outra qualquer agora empacamos na burocracia .

Talvez tenhamos copiado a atitude daqueles que são a favor da ecologia e poluem as águas, defendem a pureza do ar e destroem as florestas, que defendem espécieis em extinção, ao tempo que se alimentam de jacaré de papo amarelo, arara azul e patrocinam o trafico de animais silvestres. Se assim for, Deus tenha piedade de nós homens.

Quero, no entanto, fazer justiça. Já não ouço pessoas questionando a possibilidade de se ordenar mulheres ao pastorado, baseados nos velhos preconceitos de capacidade, inferioridade, sexo frágil possibilidade bíblica ou sei lá quais outros. Diante do fato de que tais argumentos não se sustentavam, a maioria deu a mão à palmatória, afinal temos pelo Brasil Batista afora (e fora dele) mulheres que provaram na prática que são pastoras com “P maiúsculo”, já não dava para insistir repetindo os velhos jargões baseados numa hermenêutica capenga de textos isolados da Bíblia até porque, devemos lembrar que as mulheres nada escreveram e isso por si só já dificulta o debate.

Verifico, no entanto, que os homens recuaram, mas não se renderam se ENTRINCHERARAM e construíram a última barricada, á última tentativa de se salvarem. Talvez dizendo “por aqui elas não passam!!”. Essa última trincheira é a ORDEM DOS PASTORES BATISTAS DO BRASIL. Vergonhosamente nos encontramos diante do ÚLTIMO TABU, verdadeiro clube do Bolinha, com uma faixa bem enorme dizendo MULHERES NÃO ENTRAM. Talvez seja uma questão de honra, (ou da falta dela) o certo é que não podendo mais conter o avanço das mulheres, nos refugiamos no “castelo OPBB”, para nos guardar do ataque final das perigosas pastoras que buscam conquistar nosso reino. Que Deus nos proteja delas.

A questão atual já não é se mulher pode ou não ser ordenada, isso parece que já foi resolvido, o que elas não podem e isso de jeito nenhum, é fazer parte da ORDEM DOS PASTORES BATISTAS, que neste caso, se tornou a última fortaleza a ser conquistada.

Sinceramente, tenho me perguntado quais as causas desse temor, e para não dizer que sou um “traidor” ou um desertor que se alistou nas fileiras inimigas; que estou fazendo gol contra ou mesmo dando um tiro no pé, me arrisco a verificar a possibilidade da existência de um perigo real escondido por baixo do sorriso inocentes dessas mulheres pastoras, vejamos então:

  1. A Bíblia proíbe a ordenação de mulheres e veta que estas assumam cargos de liderança e assim proceder seria um verdadeiro sacrilégio, uma heresia intolerável. Bem vejo que não procede, a Bíblia é pródiga de exemplos de mulheres líderes, juizas, profetisas, sacerdotisas, e tantos outros cargos importantes do judaísmo e da Igreja, além disso, temos centenas de “Missionárias” que pregam, ensinam, aconselham, fundam igrejas, etc. Neste caso.o que negamos é apenas o título, isso é hipocrisia.
  2. Elas vão realizar uma invasão silenciosa e aos poucos tomarão nossos lugares, Nesse caso, estamos vendo fantasmas, elas já se encontram presentes em todas as categorias profissionais e nada disso aconteceu. Tal atitude é corporativista e mesquinha, não precisamos temer, nossos empregos estão salvos.
  3. Essas pastoras vão se unir e dominar terra e nós seremos transformados em escravos. Dias virão em que mundo será dominado pelas pastoras. Sendo assim, vamos nos unir, mas precisamos ser rápidos, temos destituí-las dos cargos que já ocupam, afinal não vai dar para salvar o mundo entrincheirados no “Forte OPBB”.
  4. Elas não possuem capacidade para conduzir a Igreja, assim, com as mulheres à frente do ministério pastoral, será o fim da Igreja no mundo, finalmente as portas do inferno prevalecerão contra ela, será o fim do cristianismo na terra. Nesse caso, como bons guardiões da Igreja e da fé, precisamos ir para o sacrifício. Vamos combater até a morte em defesa do evangelho, temos ai uma causa para viver e morrer. Acho que não precisamos temer, a UFMBB, sobreviveu nas mãos delas e funciona(uma das poucas coisas que funcionam).

Verifico finalmente que estes argumentos são fantasiosos, fruto da imaginação, afinal, quem acreditaria nessas coisas. Então qual é a razão? Não vejo outra saída, apenas algumas coisas justificam a atitude de vetar a entrada de mulheres na Ordem dos Pastores: A hipocrisia, o corporativismo, o preconceito e a falta de humildade, que apesar dos discursos de igualdade, é o que não tem faltado entre nós pastores,. Finalmente, quero trazer a lume os sempre balisados conselhos de Gamaliel (por sinal muito usado pelos pastores). (...) deixai-os (ou as), pois se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará, más se é de Deus não podereis desfaze-la, para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus. (Atos 5: 38) Nesse caso Deus tenha misericórdia de nós

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sábado, fevereiro 07, 2009

ÓPIO, RELIGIÃO E ILUSÃO

Creio que a religião tem uma vocação natural para o sonho, para a ilusão e a fantasia. O fato da religião se dirigir para a dimensão transcendente, ou seja, se voltar ao mundo espiritual faz com que esta se afaste da concretude da existência e se projete para o imaginário, para o encanto e o sonho, cuja existência é produzida unicamente pela fé. Desde os tempos imemoriais, o discurso religioso tem apontado para o além, para o mundo ideal e o seu conteúdo apenas faz sentido a partir desse imaginário coletivo. Daí Rubem Alves afirmar taxativamente em seu livro, O Que é Religião: que "sonhos são as religiões dos que dormem. Religiões são os sonhos dos que estão acordados"

Em si mesmo, o sonho e a imaginação, e porque não dizer: até mesmo a ilusão não produzem qualquer mal à manifestação religiosa, o sagrado se nutre do improvável, afinal, como afirma Martin Heidegger “o homem é uma síntese entre o tempo e a eternidade: ora tragado pelo tempo, ora sonhando com a eternidade. O problema é quando a religião se apóia unicamente nesse pilar, quando o sonho se torna devaneio e a ilusão vira neurose, quando a religião assume o caráter de ópio que adormece e neutraliza as ações concretas do mundo real, lançando o homem no mundo dos sonhos e promovendo o sono como condição para sonhar, quando a religião entorpece os sentidos, produzido uma verdadeira esquizofrenia espiritual.

Toda vez que avançamos no terreno "religioso", precisamos aceitar a neurose como meio e até mesmo como um anti-projeto de uma espiritualidade sadia. Acredito que por esta razão, os profetas não desenvolveram um sistema religioso ou pelo menos não se apegaram a uma religiosidade em seu sentido formal, isto é: Não construíram templos, não possuíam um cerimonial religioso, não elaboraram um sistema doutrinário, regras legais prescritas, não foram adeptos de moralismos nem desenvolveram rituais. Não ofereciam sacrifícios (e até mesmo questionaram a sua validade).

Em lugar de tudo isso, preferiram adotar um código ético-social, baseado na justiça, e na prática do bem comum. Além disso, mesmo parecendo estranho, os profetas criticaram a religiosidade própria dos círculos sacerdotais, especialmente a formalidade e o rigor cerimonial. Para eles, “Deus prefere a misericórdia ao sacrifício”.

No mesmo sentido, Jesus não se caracterizou como um fanático religioso, não se identificou com a religião judaica, preferiu olhar para a terra, para o reino de Deus (que estava fundado entre os homens) e não em algum lugar cósmico, numa dimensão etérea do mundo espiritual. O reino era justiça, misericórdia, toque, pão e aceitação.

Talvez Karl Barth tenha razão quando afirma que a tragédia do cristianismo foi se tornar uma religião por que agindo assim, perdeu a sua dínamis e se cristalizou, passando a existir apenas como remédio, como morfina ou ópio, atuando como neutralizante da dor e do sofrimento ou proporcionando a ilusão para aqueles que preferem fugir da realidade. Se quisermos uma religião que seja dinâmica, transformadora, deveremos fazer o caminho inverso, transformar a práxis da religião segundo a proposta original do cristianismo original, fora disso, a religião vai continuar cumprindo seu papel, ou seja: Vai permanecer iludindo e promovendo sonhos (ou pesadelos), mantendo os homens vivendo num intervalo entre a loucura e a serenidade. Creio firmemente que a religião não é necessariamente um ópio, mas pode se tornar; que a ilusão não fornece um meio seguro para peregrinar na dimensão religiosa, e que sonhar pode ser um exercício saudável, desde que não nos prenda a um mundo imaginario.

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terça-feira, fevereiro 03, 2009

Sal, Mosquitos e Camelos

“...Dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas negligenciais o mais importante da Lei a justiça, a misericórdia e a fé. Devíeis fazer estas coisas sem omitir aquelas. Condutores cegos que coais um mosquito e engolis um camelo” (Jesus Cristo) Mat. 23:23-24

RECENTEMENTE EU FIQUEI CHOCADO e acho que você também ficou com o drama de um pai. A imagem do desespero do pai do menino João Roberto, covardemente metralhado e morto pela polícia dentro do carro da mãe inquietou a minha alma; mas foram as suas palavras que calaram fundo no meu coração. Não pude deixar de atentar para a profundidade quase profética da frase:

“eu não posso pagar por esta sociedade podre que eles construíram”.
Fiquei pensando: É verdade vivemos em uma sociedade podre, no entanto, não pude deixar de questionar de quem é a culpa? Se a sociedade está podre, possivelmente faltou sal para salgar e preservar esta sociedade, impedido que apodrecesse; afinal Jesus disse que somos o sal da terra. Talvez devamos ter coragem e humildade para admitir que não houve sal suficiente para impedir que o mundo arruinasse.


Ainda com as imagens de um pai desesperado e nas suas palavras, fiquei a pensar na Igreja e algumas imagens me vieram à mente. De forma que quero humildemente compartilhar com você. Inicialmente, quero destacar que todas estas imagens não foram colhidas do ministério de ninguém, eu olhei para mim mesmo, para a minha práxis, para o meu ministério, e admito que elas podem ser absolutamente estranhas ao seu.


PRIMEIRAMENTE EU VEJA UMA IGREJA SILENCIOSA QUE FAZ MUITO BARULHO
:


Quando falo em Igreja silenciosa, eu penso no silencio sepulcral que a Igreja insiste em manter diante de dramas como este que atinge todos os dias a sociedade brasileira, inocentes que são trucidados, a injustiça campeia, a corrupção. A violência aumenta, as Igrejas reduzem seus horários de culto (e isso realmente tinha que ser feito) colocam grades nas janelas, compram sistemas de segurança, e por ai vai, sentindo a falsa ilusão de que tudo está bem. No entanto não se vê nenhuma manifestação de protesto, nem a voz profética da igreja se levanta para colocar desinfetante nessa podridão.


No entanto, se temos uma Igreja silenciosa quanto aos graves problemas que a todos afeta, encontramos uma Igreja que grita, faz barulho, esperneia (nada a ver com os pentecostais), esses gritos e todo o barulho que se ouve na mídia (e nos púlpitos) diz respeito à possibilidade de aprovação da PL 122/2006 que criminaliza a homofobia. Houve intensa movimentação na Internet com envio de E-mails para Senadores, Deputados, etc. Recentemente ouvi em acalorado debate evangélico, que "se tal projeto for aprovado haverá uma guerra civil no Brasil. Que a Igreja não deve se calar nem se dobrar diante da lei." Muito bem, não quero tecer aqui qualquer crítica a aqueles que assim procedem, acredito que estão movidos por sinceras convicções, nem fazer apologia à aprovação do famigerado PL 122/2006, no entanto gostaria muito que todo esse vigor da Igreja para combater, e guerrear, indo até às últimas conseqüências se manifestasse também em defesa de outras causas. Que a dor daqueles que perdem seus entes queridos também sensibilizasse a Igreja a escrever E-Mails, a protestar e a pedir mudanças. Que as mazelas que afligem a sociedade, não sejam encaradas como simples camelos, ao passo que venhamos a nos esmerar na caça aos mosquitos (não o Aedes Egipt) uma vez que nem isso incomoda a Igreja, nunca ouvi um sermão acerca dos perigos desse mosquito.


O sal precisa sair do saleiro até porque não se pode salgar se o sal insiste em se manter separado, não se envolver.


EM SEGUNDO LUGAR EU
VEJO UMA IGREJA DIVIDIDA ENTRE COAR MOSQUITOS E ENGOLIR CAMELOS
:


A história da Igreja está recheada de atitudes que muitas vezes consome as energias e enfraquece a sua influência no mundo, a exemplo da luta histórica da Igreja para perseguir os hereges, as bruxas (muitos foram queimados nas fogueiras) e os liberais que ousaram "contestar a palavra de Deus". Podemos dizer que a Igreja se especializou em coar os mosquitos doutrinários, que de forma nenhuma podem ser tolerados, no entanto os camelos passam despercebidos e ainda perguntam: camelo? Que camelo? Não vejo camelo nenhum! E mesmo que eles existam podem ser facilmente engolidos, perigosos mesmo são mosquitos, cuidado com eles!


Temos nos especializado em caçar fantasmas, como as perigosas mensagens subliminares escondidas nos filmes do Rei Leão, Harry Potter nos desenhos animados e nas músicas. Mensagens que aparecem quando se inverte a rotação (não sei se funciona com CD). Coamos os perigosos mosquitos das marcas de roupas, da coca-cola e engolimos os camelos dos desvios de verbas da saúde, da educação, da corrupção, das centenas de vidas ceifadas todos os dias.


EM TERCEIRO LUGAR
, VEJO UMA IGREJA COM OS OLHOS FECHADOS, COM OS OUVIDOS TAMPADOS E O NARIZ CONGESTIONADO
: (santo resfriado)


Não sou contra a música, acredito na sua importância para a vida da Igreja. Nas orações e nas celebrações como instrumento de transformações. O problema é quando a visão é dominada pela cegueira ou pelo menos por uma grave miopia que nos impede de ver o que se passa ao nosso redor. Quando os gritos de desespero daqueles que sofrem hoje soam longe e são encobertos pelo som (muitas vezes ensurdecedor) dos instrumentos e pelo canto que embala os nossos cultos. Muitas vezes só nos lembramos que o mundo está podre, quando o mau cheiro invade as nossas casas, quando a dor do vizinho muda de endereço e se identifica com o nosso.


Há uma multidão que se une para realizar shows evangélicos, cantar e se divertir. Nas palavras de Jesus, devemos “fazer estas coisas sem omitir aquelas”, Não sou contra show evangélico acredito até que os crentes deveriam se divertir mais, sorrir mais, sair da redoma e desfrutar a vida que é um dom de Deus. Não acredito que a verdeira felicidade está depois da morte, acho que ela pode e deve ser desfrutada aqui e agora e se projetar para além da morte. O que preocupa é que a Igreja parece adormecida, diante de uma crise que cada dia se aproxima mais de cada um de nós, que o mau cheiro da sociedade não precise primeiro chegar aos nossos narizes para que venhamos a nos incomodar.

O poema de Martin Niemoller traduz o perigo da indiferença e as conseqüências do silêncio:

Primeiro levaram os judeus,

Mas não falei, por não ser judeu.

Depois, perseguiram os comunistas,

Nada disse então, por não ser comunista,

Em seguida, castigaram os sindicalistas,

Decidir não falar, porque não sou sindicalista

Mais tarde, foi a vez dos católicos,

também me calei, por ser protestante.

Então, um dia, vieram buscar-me

Mas, por essa altura, ja não restava nenhuma voz,

Que, em meu nome, se fizesse ouvir.

A pergunta que não quer calar é simples: Quantas outras vidas ainda precisam ser ceifadas antes que a Igreja começe a agir? Quantos camelos ainda serão engolidos, enquanto a Igreja se ocupa em coar mosquitos? E a bem da verdade, muitas vezes motivada por preconceitos que contrariam o próprio espírito do evangelho.

O Mau cheiro do mundo aumenta a cada dia, o odor impregna o ar e mais cedo ou mais tarde, vai chegar aos nossos santuários e isso certamente vai incomodar os cristão. Quem viver verá.

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domingo, fevereiro 01, 2009

O Fenômeno Religioso na Pós-Modernidade

Abordar o fenômeno religioso na pós-modernidade é tocar numa questão complexa, que se reveste de maior complexidade à medida que enfocamos os aspectos mais subjetivos dessa nova religiosidade. Diante da enorme diversidade que se verifica no fenômeno religioso atual, e pelas constantes transformações que manifesta em todos os seus aspectos, uma vez que promove uma troca quase que constante de idéias, ritos, símbolos e doutrinas, levadas de um lado para outro pela mídia, o que torna quase impossível dizer quais elementos pertencem ou não a determinados grupos religiosos. O que temos como marca desse fenômeno é a diversidade, a heterogeneidade, o misticismo, o hibridismo religioso e o pragmatismo (as coisas valem enquanto funcionam).

Quando falamos de fenômeno religioso na pós-modernidade, precisamos ter em mente que estamos tratando com uma realidade absolutamente diferente de tudo que já se viu até o momento em termos de experiência com o sagrado.

Obviamente que não podemos falar da religiosidade no contexto pós-moderno dentro de uma visão absoluta, uma vez que uma das marcas da pós-modernidade é a ausência de absolutos. Entendemos, portanto, que todas as verdades sobre o fenômeno encontram limite na própria idéia da relatividade: os fenômenos são e não são ao mesmo tempo, a liquidez e a volatilidade também é um sinal da pós modernidade e se reflete da mesma forma na religião.

Mesmo assim, podemos destacar algumas marcas dessa manifestação religiosa, enfocando obviamente a religiosidade do catolicismo popular e a que se manifesta no contexto protestante.

Uma das marcas desse fenômeno é o misticismo, a valorização excessiva do emocional e o abandono da razão. Parece contraditório que vivamos hoje quase que um retorno aos períodos mais primitivos da raça humana. Elementos das crendices religiosas mais elementares ganham espaço na religiosidade atual. O esoterismo, o neo-paganismo, crença em Duendes, Gnomos, anjos cabalísticos, tarôs, horóscopos, cartomancia, quiromancia, etc., ganham espaço na espiritualidade do homem moderno e se manifesta em harmonia com as crenças mais ortodoxas de grupos tradicionais.

Por outro lado, se verifica a banalização da fé e a mercantilização da graça; a graça já não é concedida por Deus de forma gratuita e desinteressada, ela é conquistada por um baixo preço através da manipulação de jejuns, “correntes de orações,” “cultos de descarrego”, “cultos da conquista” de “novenas”, etc. Tem sempre uma “noite” para cada necessidade. O que você quiser é só freqüentar o culto certo, e Deus não tem escolha, tem que atender às reivindicações ali depositadas. A igreja já não é o lugar “aonde você vai para servir” ela se tornou a prateleira onde se vende bênçãos, milagres, curas, CDs, DVDs, livros de todo tipo, objetos ungidos e sagrados e todo tipo de bugigangas que alimentam a volúpia de alguns que enriquecem enquanto prometem prosperidade para os outros.

O sagrado passou a ser mercadoria comercializada como qualquer outro produto nas prateleiras do “mercado religioso”. Na contemporaneidade a idéia é a facilidade, a virtualidade, e o imediatismo. A mídia trouxe o “delivery” para a igreja, para a qual você liga, faz o seu pedido, (e a pergunta é essa mesma, qual o seu pedido?), feito o pedido, o guru de plantão entra em contato com Deus que envia a resposta para o problema, seja ele qual for.(normalmente, financeiro, de saúde e sentimental). Vivemos hoje o fenômeno da igreja virtual, conduzida por pessoas sem rostos, sem manifestação de afeto, que se conhecem apenas pela voz e pelo numero da conta bancária onde os clientes depositam os recursos para manter os programas de rádio e televisão(usados para pedir mais dinheiro).

Atualmente, a religião e até mesmo Deus já não é um senhor a quem o homem busca servir e estabelecer relacionamentos, ele, na verdade está a serviço do homem e serve enquanto possa atender aos desejos e caprichos do cristão.

Mais do que nunca, se verifica uma grande confusão nas crenças religiosas protestantes, vivemos em meio a uma verdadeira babel religiosa. Encontramos dentro das crenças e das práticas protestantes elementos oriundos do xangô, do espiritismo, da magia, das religiões africanas, da teosofia, da valorização dos sonhos, uso de fórmulas mágicas, palavras que funcionam no estilo abracadabra, dentre outros, e o mesmo se verifica na direção contrária, idéias do catolicismo e do protestantismo estão impregnadas na religiosidade desses grupos. Na verdade, já não podemos falar daquilo que sejam sinais distintivos de determinada manifestação religiosa. Vivemos atualmente o tempo da antropomorfização do sagrado (Deus é concebido em termos humanos) e da divinização do humano (o culto voltado para agradar o homem). É o fim da religião e o começo da pós-religiosidade, (para cunhar mais um termo novo). Nesse contexto prevalece a privatização do divino, qualquer pessoa cria a qualquer momento uma nova religião, forjada com retalhos de crenças outras. Temos poucas opções: abandonar a religião ou nos preparar para viver esse novo tempo.

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