terça-feira, junho 07, 2011

THEOSIS: A DEIFICAÇÃO DA HUMANIDADE (PARTE 4)

A DIVINIZAÇÃO DA HUMANIDADE E A GNOSE PATRÍSTICA

Os Pais da Igreja também falam de Gnose cristã, “esse saber escondido que regenera”, e precisando que “essa regeneração é uma experiência que se opera aqui em baixo” – seguindo o exemplo do Cristo, cuja Transfiguração ocorreu perante três Apóstolos, antes da sua morte21. De fato, se para alguns cristãos, essa “regeneração” terá lugar após a morte, no “outro mundo”, para toda a gnose, e a cristã em particular, ela terá lugar hic et nunc. Dirá Simeão o Novo Teólogo (Hino 17, 749): Em que momento, a não ser agora receberás tu a semente? Depois da morte dizes-me tu… em verdade tu estás na ilusão e no erro. Este momento agora é o tempo dos trabalhos. É aqui em baixo que eu me torno para ti a pérola aqui em baixo que eu sou o teu fermento e como um grão de mostarda (Citado por J.M. d’Andembourg, op. cit., p. 70.)

“Basta atentar brevemente na riqueza e complexidade da teologia dos Pais da Igreja oriental (Máximo o Confessor, Gregório Palamas, Simeão o Novo Teólogo, etc.) para nos convencermos do contrário. Além disso, na Igreja do Ocidente, alguns Pais seguiram perspectivas análogas, como os cristãos gnósticos Orígenes, Clemente de Alexandria e Irineu de Lyon, cultores da “verdadeira Gnose”, como eles próprios afirmavam por oposição à “falsa gnose” dos gnosticistas que seguiam uma gnose não cristã, na sua perspectiva. Fica claro que doutrina da deificação do homem não é um ensinamento exclusivo da Igreja moderna. Ao contrário, ela pode ser encontrada na história inicial do cristianismo, conforme atestam os documentos antigos.

No século dois, Irineu, bispo de Lion (cerca de 130-200 A.D), disse: "Se o Verbo se fez homem, o homem pode se tornar deus. (Irenaeus, Against Heresies, bk. 5, preface. apud Noel B. Robert L. Millet.) A seguir Irineus perguntou:

“Lançamos culpa Nele (Deus) porque não fomos feitos deuses desde o início, mas fomos primeiramente criados meramente como homens, e então mais tarde como deuses? Embora Deus tenha adotado esse curso de sua pura benevolência, para que ninguém possa acusá-Lo com discriminação ou mesquinhez, Ele declara, "Eu disse, sois deuses; e todos vós sois filhos do Altíssimo"... Pois foi necessário a princípio que a natureza fosse mostrada, então depois que aquilo que era mortal fosse conquistado e elevado em imortalidade. ( Ibid., 4.38 (4); compare 4.11 (2): "But man receives progression and increase towards God. For as God is always the same, so also man, when found in God, shall always progress towards God." apud Noel B. Robert L. Millet.)

Mais ou menos ao mesmo tempo, Clemente de Alexandria ( cerca de 150-215 A.D) escreveu: "Em verdade, digo, o Verbo de Deus se fez homem de modo que possas aprender de um homem como se tornar um deus." (Clement of Alexandria, Exhortation to the Greeks, 1. apud Noel B. Robert L. Millet.) Clemente também disse que: "se algum se conhece a si mesmo, ele conhecerá Deus, e conhecendo Deus se tornará como Deus... Dele é a beleza, a verdadeira beleza, pois é Deus, e então o homem se tornará um deus, desde que essa seja a vontade de Deus. Assim Heráclito estava certo quando disse: "Os homens são deuses, e deuses são homens."".( Clement of Alexandria, The Instructor, 3.1. See his Stromateis, 23 apud Noel B. Robert L. Millet.)

Ainda no século dois, Justino o Mártir (cerca de 100-165 A.D) insistiu em que no princípio os homens foram feitos como Deus, livres de sofrimento e morte", e que eles são, portanto, achados dignos de se tornarem deuses e tendo poder para se tornarem filhos do Altíssimo". (Justin Martyr, Dialogue with Trypho, 124 apud Noel B. Robert L. Millet)

Atanásio, bispo de Alexandria (cerca de 296-373 A.D), também afirmou sua crença na deificação em termos bem semelhantes:"O Verbo se fez carne a fim de nos capacitar a sermos deuses... Tal como o Senhor, revestindo-se de um corpo, tornou-se um homem, assim também nós homens nos deificamos através de sua carne, e daí em diante herdarmos vida eterna." (Athanasius, Against the Aryans, 1.39, 3.34 apud Noel B. Robert L. Millet.) Com fundamento em uma idéia da existência de uma natureza universal, conclui que o logos não assumiu simplesmente a forma humana em Jesus más que assumiu verdadeiramente a natureza humana, por isso, todos os seres humanos podem compartilhar a deificação num processo inverso.

A descida da pessoa de Cristo (katabasis) cria a condição pára que os seres humanos participem da ascensão (anabasis) por meio do esvaziamento (kenosis) do filho de Deus, a humanidade alcançou o direito de realizar a sua vocação inicial de theosis.

Assim é que Atanásio observou: "Ele se tornou homem para que fôssemos feitos divinos. (Athanasius, On the Incarnation, 54 apud Noel B. Robert L. Millet)

Finalmente Agostinho, bispo de Hipona, (354-430 A.D.) o maior os primeiros Pais cristãos, disse: "Mas ele próprio que justifica e deifica, pois por justificar ele os faz filhos de Deus. 'Pois Ele lhes deu poder para se tornarem filhos de Deus' (João 1:12). Se então fomos tornados filhos de Deus, nós também fomos feitos deuses." (Augustine, On the Psalms, 50.2. Augustine insists that such individuals are gods by grace rather than by nature, but they are gods nevertheless. apud Noel B. Robert L. Millet)

Todos os cinco escritores acima citados não eram apenas cristãos ortodoxos, mas mais tarde foram reverenciados como santos. Três deles escreveram nos cem anos posteriores ao período dos apóstolos, e cinco acreditavam na doutrina da deificação. Essa doutrina era parte do cristianismo histórico até relativamente pouco tempo atrás, e continua sendo doutrina importante de algumas igrejas ortodoxas orientais.

Um dos princípios fundamentais da ortodoxia no tempo dos pais da igreja era o reconhecimento "da história do universo como a história da divinização e salvação". Como resultado os primeiros pais cristãos concluíram que "porque o Espírito é verdadeiramente Deus, somos verdadeiramente divinizados pela presença do Espírito". (Richard P. McBrien, Catholicism, 2 vols. (Minneapolis: Winston Press, 1980), 1:146, 156, emphasis in original. apud Noel B. Robert L. Millet )

O Dicionário de Teologia Cristã de Westminster contém o seguinte em artigo intitulado: "Definição"

Deificação (do grego theosis) é para a ortodoxia o alvo de todo cristão. 'O homem', de acordo com a Bíblia, 'foi feito à imagem e semelhança de Deus'. é possível ao homem se tornar como Deus, tornar-se deificado, tornar-se deus pela graça. Essa doutrina é baseada em muitas passagens de ambos, Novo e Velho Testamentos (e.g. Ps.82 (81). 6; II Pedro 1,4), e é essencialmente o ensinamento tanto de São Paulo, embora ele tenda a usar a língua de sua adoção filial (cf. Rom.8.9-17; Gal.4:5-7), e o Quarto Evangelho (cf. 17:21;23).

O estilo de II Pedro é usado por Santo Irineu, em sua famosa frase, "se o Verbo se fez homem, assim também os homens podem ser feito deuses." (Adv. Haer V, Pref), e se torna padrão na teologia grega. No século quatro São Atanasius repete Irineu quase que palavra por palavra, e no século quinto São Cirilo de Alexandria diz que nós nos tornaremos filhos "por participação" (grego methexis). Deificação é a idéia central na espiritualidade de São Maximus o Confessor, para quem a doutrina é o corolário da encarnação: "Deificação, rapidamente, é o cerco e o cumprimento de todos os tempos e eras", e São Simeão o Novo Teólogo no fim do século dez escreve: " Ele que é Deus por natureza fala com aqueles a quem ele fez deuses pela graça, tal como um amigo conversa com seus amigos, face a face".

Finalmente, deve se notar que a deificação não significa absorção de Deus, uma vez que a criatura deificada continua indivíduo e distinto. É o ser humano completo, corpo e alma, que é transfigurado no Espírito na aparência da divina natureza, e a deificação é o objetivo de todo cristão. (Symeon Lash, "Deification," in The Westminster Dictionary of Christian Theology, ed. Alan Richardson and John Bowden (Philadelphia: Westminster Press, 1983), 147-48. apud Noel B. Robert L. Millet)

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